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Censo 2022: Brasil tem 1,7 milhão de indígenas; número praticamente dobrou desde o último censo

O Norte e o Nordeste concentram 75,71% da população indígena residente no Brasil

Indígenas: dois estados concentram 42,51% da população indígena residente no Brasil (Leandro Fonseca/Exame)

Indígenas: dois estados concentram 42,51% da população indígena residente no Brasil (Leandro Fonseca/Exame)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 7 de agosto de 2023 às 10h00.

Última atualização em 7 de agosto de 2023 às 11h05.

A população indígena do Brasil é de 1.693.535 pessoas, ou 0,83% do total de habitantes. Os dados são do Censo 2022, divulgados nesta segunda-feira, 7, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cerca de 46,46% vivem nas 573 terras indígenas declaradas, homologadas ou regularizadas em pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). 

O número de indígenas no país quase dobrou em comparação com o Censo de 2010, com variação positiva de 88,82%. De acordo com a responsável pelo projeto de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, Marta Antunes, o aumento do número de indígenas no período intercensitário é explicado majoritariamente pelas mudanças metodológicas feitas para melhorar a captação dessa população.

“Só com os dados por sexo, idade e etnia e os quesitos de mortalidade, fecundidade e migração será possível compreender melhor a dimensão demográfica do aumento do total de pessoas indígenas entre 2010 e 2022, nos diferentes recortes. Além disso, existe o fato de termos ampliado a pergunta ‘você se considera indígena?’ para fora das terras indígenas. Em 2010, vimos que 15,3% da população que respondeu dentro das Terras Indígenas que era indígena vieram por esse quesito de declaração”, explica. 

A opção “indígena” foi incluída no quesito de cor ou raça do questionário da amostra a partir do Censo Demográfico 1991, e a pergunta "Você se considera indígena?" foi aplicada pela primeira vez em 2010, o que permitiu a comparação dos dados. 

Regiões do Brasil com mais indígenas

O Norte e o Nordeste concentram 75,71% da população indígena residente no Brasil. Na comparação com 2010, as regiões apresentaram o maior aumento absoluto da população e a Região Sul, o menor.

  • Norte concentra 44,48%, com 753.357 pessoas indígenas;
  • Nordeste tem 31,22% da população indígena, com 528.800;
  • Centro-Oeste registra 11,80%, com 199.912 indígenas;
  • Sudeste tem 7,28%, com 123.369 pessoas;
  • Sul tem 5,20%, com 88.097 pessoas indígenas.

Dois estados concentram 42,51% da população indígena residente no Brasil. São eles, o Amazonas, com 490.854 pessoas indígenas e a Bahia, com 229.103 pessoas indígenas. O Mato Grosso do Sul apresenta o terceiro maior número de população indígena, com 116.346 pessoas indígenas, seguido de Pernambuco, com 106.634, e Roraima, com 97.320 pessoas indígenas. Esses cincos estados concentram 61,43% da população indígena.

Em 2010, os cinco estados com mais indígenas no Brasil eram Amazonas (183.514), Mato Grosso do Sul (77.025), Pernambuco (60.995), Bahia (60.120) e Roraima (55.922), que juntos eram responsáveis por 48,79% da população indígena residente no Brasil.

O estados com os menores números de indígenas são o Sergipe, com 4.708 pessoas, seguido do Distrito Federal com 5.813 pessoas indígenas e o Piauí, com 7.198 pessoas indígenas. Foram identificados 6.245 agrupamentos indígenas no Brasil, sendo 1.023 fora de Terras Indígenas oficialmente delimitadas.

Cidades com mais indígenas

Dos 5.568 municípios brasileiros, acrescidos do Distrito Federal e de Fernando de Noronha, 4.832 registraram pelo menos um residente indígena, o que representa 86,7% do total. Dentre eles, 79 municípios tinham mais de 5 mil habitantes declarados indígenas, um aumento na comparação com 2010, quando eram 42 municípios com, no mínimo, esse quantitativo. Outros 199 municípios tinham de mais de mil a 5 mil residentes indígenas.

Os três municípios brasileiros com o maior número de indígenas são do Amazonas: a capital, Manaus, com o total de 71.713 mil pessoas, São Gabriel da Cachoeira, com 48,3 mil, e Tabatinga, com 34,5 mil. O segundo município também aparece entre aqueles que tinham o maior percentual de indígenas no total da população, com 93,17%. Nesse indicador, São Gabriel da Cachoeira fica atrás apenas de Uiramutã (96,60%), em Roraima, e Santa Isabel do Rio Negro (96,17%), também no Amazonas.

Maioria dos indígenas vive fora de suas terras

Em 2022, havia 689.202 habitantes em Terras Indígenas e 90,26% deles (ou 622,1 mil) eram indígenas. O Norte concentrava quase metade (49,12% ou 338,5 mil) do total de habitantes, sendo 93,49% deles indígenas. Já as regiões que tinham, dentro das terras indígenas, o maior percentual de habitantes indígenas eram o Centro-Oeste (97,74%) e o Sudeste (95,01%).

O gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas, Fernando Damasco, afirma que a investigação do Censo dentro e fora das Terras Indígenas foi um desafio, já que era a primeira vez que a pergunta de cobertura (“você se considera indígena?”) era aplicada fora dos territórios delimitados. “Para que isso fosse possível, tivemos de mapear essas localidades. Toda a estrutura do IBGE foi mobilizada para fazer o mapeamento que representasse a diversidade territorial indígena. Os povos indígenas estão presentes nas cidades, em áreas urbanas, em áreas rurais, em áreas remotas, em favelas e todos precisam ser recenseados”, conta o pesquisador.

Ele também reforça a importância da análise da população indígena dentro e fora dos territórios delimitados. “Esse é um recorte importante não só para os órgãos indigenistas planejarem e executarem as políticas públicas direcionadas às terras indígenas, mas também porque revela uma demografia específica da população residente nessas áreas. Por isso ela precisa ser investigada e analisada em separado”.

Quando considerada a totalidade de indígenas vivendo no país, 622,1 mil (36,73%) residiam em Terras Indígenas e 1,1 milhão (63,27%) fora delas. Três estados respondiam por quase metade (46,46%) das pessoas indígenas vivendo nas terras indígenas: Amazonas (149 mil), Roraima (71,4 mil), e Mato Grosso do Sul (68,5 mil).

O Sudeste era a região com a maior proporção de indígenas que viviam fora desses territórios delimitados (82,56% ou 101,9 mil), seguido do Nordeste (75,43% ou 398,9 mil) e do Norte com 57,99% (436,9 mil). Somados, Amazonas e Bahia concentravam 46,46% do total de indígenas nessa situação geográfica no país.

Maior parte dos indígenas vive na Amazônia Legal

A pesquisa apresenta o recorte da Amazônia Legal, região formada pelos estados do Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão. No território habita a maior parte dos indígenas do país (51,25% ou 867,9 mil indígenas). Esse número corresponde a 3,26% do total de habitantes da região.

“Esse é um recorte importante para entender a participação da população indígena na Amazônia e a importância para a conservação do ambiente amazônico. É importante destacar que esses dados acabam revelando que há uma grande participação indígena na Amazônia Legal, mas lembram também que há aproximadamente metade dessa população residindo fora dela”, observa Fernando.

Na Amazônia Legal foram contados 403,3 mil indígenas vivendo nos territórios oficialmente delimitados, o equivalente a 64,83% dos indígenas vivendo nessas terras. Na Amazônia Legal, a proporção de indígenas que vivem nesses territórios (46,47%) supera a média do país (36,73%).

Cerca de 630 mil domicílios no país têm pelo um morador que se declarou indígena

Dos 72,4 milhões domicílios particulares permanentes ocupados do Brasil, 630.041 (0,87%) têm pelo menos um morador indígena. Destes domicílios com pelo menos um morador indígena, 137.256 estão dentro de Terras Indígenas (21,79%) e 492.785 estão fora de Terras Indígenas (78,21%).

Marta esclarece que, para fins de domicílios particulares permanentes ocupados nas situações em que a população indígena habita em malocas, são considerados os grupos familiares. “Maloca é um domicílio indígena com mais de uma família morando de forma conjunta no mesmo espaço, com uma organização própria. Para fins estatístico, no Censo, nas malocas, cada grupo familiar foi classificado como um domicílio particular permanente ocupado”, explica.

A região Centro-Oeste se destaca com maior percentual de domicílios com pelo menos um morador indígena dentro de Terras Indígenas (36,33%), seguida das regiões Norte (28,50%), Sul (27,38%), Nordeste (15%) e Sudeste (7,70%).

Por unidades da federação, Roraima tem maior percentual de domicílios com pelo menos um morador indígena localizado dentro de Terras Indígenas (58,84%), seguida do Mato Grosso (57,91%), Maranhão (52,59%) e Tocantins (51,13%). Os estados com maior percentual de domicílios com pelo menos um morador indígena fora de Terras Indígenas são Goiás (99,20%), Rio de Janeiro (99,16%), e Piauí (99,08%).

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