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Catástrofe em Mariana deverá afetar ecossistema por anos

“Muitas regiões jamais serão as mesmas”, diz professor de geociências da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)


	Lama cobre estrada em Mariana: “Muitas regiões jamais serão as mesmas”, diz professor da UFMG
 (Ricardo Moraes/ Reuters)

Lama cobre estrada em Mariana: “Muitas regiões jamais serão as mesmas”, diz professor da UFMG (Ricardo Moraes/ Reuters)

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Da Redação

Publicado em 15 de novembro de 2015 às 14h16.

Rio Doce - O rompimento das duas barragens de Minas Gerais cortou o fornecimento de água potável para 250 mil pessoas e saturou cursos de água com um sedimento laranja denso que pode afetar o ecossistema por anos a fio.

Nove pessoas morreram, 19 continuam desaparecidas e 500 pessoas ficaram desabrigadas quando as barragens se romperam em uma mina de minério de ferro, no dia 5 de novembro.

O volume total de água expelido pelas barragens e carregado com resíduos minerais por 500 quilômetros é impressionante: 60 milhões de metros cúbicos, o equivalente a 25 mil piscinas olímpicas ou o volume carregado por cerca de 187 tanques de petróleo.

A presidente Dilma Rousseff comparou os estragos com o derramamento de petróleo da BP em 2010, no Golfo do México, e a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira chamou-o de “catástrofe ambiental”.

Cientistas disseram que o sedimento, que contém químicos usados pela mineradora para reduzir impurezas do minério de ferro, podem alterar o curso das correntes à medida que endurecem, reduzir os níveis de oxigênio na água e diminuir a fertilidade das margens de rios e da terra por onde a enxurrada passou.

A mineradora Samarco, joint venture entre as gigantes Vale e BHP Billiton, e proprietária da mina, disse repetidamente que a lama não é tóxica.

Porém, biólogos e especialistas ambientais discordam. Autoridades locais pediram que as famílias resgatadas da inundação lavem cuidadosamente e descartem as roupas que ficaram em contato com a lama.

“Já está claro que a fauna está sendo morta por esta lama”, disse Klemens Laschesfki, professor de geociências da Universidade Federal de Minas Gerais. “Dizer que esta lama não é um risco à saúde é muito simplista.”

Com o endurecimento da lama, disse Laschesfki, a agricultura será dificultada. E tanto lodo irá se assentar no fundo do Rio Doce e dos afluentes que levaram a lama até lá, que o curso da bacia hidrográfica pode mudar.

“Muitas regiões jamais serão as mesmas”, disse ele.

Pesquisadores estão testando a água do rio e os resultados devem ser publicados nas próximas semanas, dando uma ideia melhor sobre o conteúdo dos rejeitos minerais.

Um motivo de preocupação é que os compostos conhecidos como aminas de éter podem ter sido utilizados na mina para separar sílica do minério de ferro, para produzir um produto de melhor qualidade.

De acordo com a pesquisa da indústria de mineração e a literatura científica publicada nos últimos anos, os compostos são comumente usados em minas brasileiras, incluindo as da Samarco.

Pelo menos alguns dos compostos, de acordo com o site da Air Products, empresa que os produz, “não são prontamente biodegradáveis e têm uma elevada toxicidade para os organismos aquáticos". Eles também podem aumentar os níveis de pH a um ponto que é prejudicial ao meio ambiente.

"Haverá problemas sérios ao usar a água do rio agora", disse Pedro Antonio Molinas, um engenheiro de recursos hídricos e consultor da indústria de mineração familiarizado com a região.

A Samarco não respondeu as perguntas sobre se usou os compostos ou se eles estavam na chamada bacia de rejeitos, cujo conteúdo estourou através das barragens quebradas.

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