Núcleo de Terapia Celular: nova fábrica só precisa de liberação da Anvisa. (Instituto Butantan/Divulgação)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 1 de julho de 2022 às 09h00.
Última atualização em 1 de julho de 2022 às 18h22.
O estado de São Paulo se prepara para entregar ao Sistema Único de Saúde (SUS) um tratamento inovador no combate ao câncer. Entre o dia 14 e 20 de junho foram entregues novas instalações do Núcleo de Terapia Avançada (Nutera), em Ribeirão Preto, no interior, e do Núcleo de Terapia Celular (Nucel), na capital paulista.
As duas plantas fazem parte de uma rede que vai produzir insumos locais para a chamada CAR-T Cell, uma terapia genética que muda completamente a forma como vencer a batalha contra o câncer de sangue (leucemia, linfoma e mieloma). Toda a produção, que chega a custar 1 milhão de dólares com insumos importados, vai ter um valor que deve variar entre 3% a 5% deste montante com as fábricas nacionais.
Ao todo, foram investidos 200 milhões de reais na construção das duas unidades, que permitem a produção, o desenvolvimento e o armazenamento das células CAR-T. Todo o projeto envolve o Instituto Butantan, Hemocentro de Ribeirão Preto e a Universidade de São Paulo (USP).
Apesar das fábricas já estarem prontas, o início da produção depende ainda de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que deve ocorrer em breve, na expectativa do presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas.
Paralelamente, o Hemocentro de Ribeirão Preto já faz atendimentos, mas de forma reduzida, com um caso por vez. Assim que tiver o aval da agência reguladora, a capacidade é de 300 atendimentos por ano.
Dimas Covas, que é médico hematologista, explica que a grande redução no valor da terapia deve se dar porque o tratamento poderá ser feito totalmente dentro dos núcleos e disponibilizado pelo SUS, otimizando seu alto custo.
“Estamos falando de uma terapia desenvolvida pelo setor público, de pesquisa financiada pelo setor público, com investimento do setor público e, portanto, já com um diferencial em relação aos valores envolvidos. A projeção de custos é na ordem de 3% a 5% do que se pratica no exterior porque estes estudos são todos públicos, desenvolvidos com recursos públicos e esse é o nosso objetivo”, destaca Dimas.
As novas instalações incluem laboratórios de controle de qualidade, salas de criopreservação, salas de produção de vírus, salas limpas de produção de células CAR-T e de preparo de meios e soluções, além de áreas destinadas ao armazenamento do produto final e dos insumos em tanques criogênicos.
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A terapia CAR-T Cell é inovadora porque retira uma célula de defesa do organismo do próprio paciente com câncer, a modifica em laboratório e a devolve novamente ao corpo da pessoa com a doença. Essa mudança genética, faz com que ela identifique as células cancerígenas para combatê-las, de forma mais precisa, e sem a necessidade de medicamentos sintéticos.
No Brasil, a terapia com células CAR-T foi desenvolvida no Centro de Terapia Celular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. O primeiro voluntário do Brasil, que recebeu o tratamento experimental há dois anos, alcançou a remissão total de um linfoma em estágio terminal. Outros pacientes que optaram pelo tratamento também tiveram remissão.
O tratamento genético é indicado para pessoas que estão em estágios avançados de câncer no sangue, e que não responderam bem a métodos convencionais, como a quimioterapia e a radioterapia.
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