Teor da peça publicitária do Ministério da Justiça foi alvo de muitas críticas nas redes sociais (Reprodução/Facebook)
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2015 às 20h13.
São Paulo - Lançada nesta terça-feira (13) pelo Ministério da Justiça, uma campanha nas redes sociais com objetivo de enfrentamento à xenofobia e intolerância contra refugiados e imigrantes no Brasil gerou muita polêmica. As reações negativas, porém, se justificam.
Na peça divulgada na página da pasta, o jovem negro Matheus Gomes, de 18 anos, aparece sorrindo, com os seguintes dizeres ao lado: “Meu avô é angolano, meu bisavô é ganês. Brasil. A imigração está no nosso sangue”.
Abaixo da imagem, a mensagem do ministério dizia o seguinte: “Há cinco séculos, imigrantes de todas as partes ajudam a construir nosso País”.
Há cinco séculos, imigrantes de todas as partes do mundo ajudam a construir nosso país. Participe: http://www.eutambemsouimigrante.com.br#EuTambémSouImigrante #XenofobiaNãoCombina
Posted by Ministério da Justiça on Terça, 13 de outubro de 2015
Rapidamente a pasta foi alvo de uma enxurrada de mensagens negativas. A sua grande maioria, as críticas ao conteúdo da campanha diziam respeito ao fato de que o ministério teria confundido imigração com escravidão.
A abolição da escravatura no país data de 1888, ou seja, há 127 anos – o que significa que escravos formaram a mão de obra nacional por 388 anos.
Estima-se que o Brasil tenha recebido aproximadamente 5 milhões de escravos negros, ao passo que outro 3 milhões tenham morrido antes de desembarcarem em terras brasileiras.
Antes de toda a polêmica, o presidente do Conselho Nacional para Refugiados e Secretário Nacional de Justiça, Beto Vasconcelos, disse que a meta da campanha era “esclarecer a nossa identidade cultural, migratória”.
“As manifestações de xenofobismo são pontuais, mas acreditamos que são dão por falta de informação (...). O Brasil foi forjado por fluxos migratórios e essa é a nossa natureza”, avaliou.
Para o professor de História da PUC-SP, Luiz Antônio Dias, especialista em estudos afro-brasileiros, trata-se de uma “propaganda de mau gosto”.
“Cronologicamente, os ascendentes do menino da campanha realmente não poderiam ser escravos, mas a peça mexe com uma questão simbólica, faz menção aos antepassados negros dos brasileiros e nesse caso a grande referência é a escravidão. É uma falta de sensibilidade. Não se pode sugerir que escravidão e migração sejam semelhantes. Nem reforçar o mito de escravos felizes ou de democracia racial. O melhor caminho seria retirar a propaganda do ar”, disse Dias ao jornal O Globo.
O Ministério da Justiça já informou que não pretende retirar a campanha do ar. Em nota, a pasta explicou que “apoia a importante discussão sobre a escravidão na nossa história” e que “o governo promove diversas medidas de inclusão para reverter essa triste herança”.
Essa foi a segunda vez neste semestre que o governo federal realizou uma campanha de esclarecimento sobre a situação dos refugiados e imigrantes no país.
A primeira etapa ocorreu entre os dias 18 de agosto a 22 de setembro e teve o seguinte mote: “Para os refugiados, o Brasil é uma oportunidade de viver”.
Números de refugiados no Brasil
Atualmente, estão reconhecidos como refugiados no Brasil 8.530 estrangeiros. Entre as maiores comunidades está a de nacionalidade síria com 2.097, seguida por angolanos (1.480); colombianos (1.093) e congoleses (850).
Na última sexta-feira (9), a presidente Dilma Rousseff encaminhou uma Medida Provisória ao Congresso que concede crédito extraordinário de R$ 15 milhões para o fortalecimento da política de assistência a refugiados e imigrantes.
De acordo com Beto Vasconcelos, atualmente a Secretaria Nacional de Justiça conta com um orçamento de R$ 8 milhões para executar todas as ações que estão sob sua guarda.
Nas próximas semanas integrantes do Ministério da Justiça deverão se reunir com representantes de Estados e municípios que recebem o maior fluxo de refugiados e imigrantes para definir as prioridades para a distribuição do recurso.
Parte do orçamento deverá ser aplicado na ampliação da rede pública que tem atuado na integração dos refugiados e imigrantes por meio de cursos da língua portuguesa e ingresso laboral.