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Calero diz que pressão de Geddel foi "caso claro de corrupção"

Ex-ministro da Cultura voltou a acusar Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, de pressioná-lo pela aprovação de obra

Calero: "Não tenho nada a temer. Não tenho rabo preso, não sou metido em maracutaia" (Prefeitura do Rio / Divulgação/Divulgação)

Calero: "Não tenho nada a temer. Não tenho rabo preso, não sou metido em maracutaia" (Prefeitura do Rio / Divulgação/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de novembro de 2016 às 10h14.

Rio - O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero voltou ontem (19) a acusar Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, de pressioná-lo pela aprovação de um empreendimento imobiliário em Salvador. "Não desejo a ninguém estar diante de uma pressão política, claramente um caso de corrupção", afirmou em evento no Rio.

Calero relatou que Geddel o procurou insistentemente nos últimos meses para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), subordinado à pasta, autorizasse a construção de um condomínio com altura acima do permitido em região considerada patrimônio histórico.

"Percebi que estava diante no mínimo de uma advocacia administrativa. Ele queria que um agente público, no caso eu, fizesse uma intervenção num órgão público em razão de um interesse privado. Na última ligação, dia 6 de novembro, ele foi bastante enfático e disse que não queria ser surpreendido por nenhuma decisão, que não queria ser surpreendido e ter que pedir 'a cabeça' da presidente do Iphan", disse Calero.

O ex-ministro disse ter levado a questão ao presidente Michel Temer, que teria desautorizado Geddel. "Ele falou: 'Mas o presidente sou eu, não o Geddel'. Só que eu percebi que a pressão ia continuar, então preferi sair. Já inventaram várias versões, culparam até a vaquejada (pela saída do ministério), mas saio de cabeça erguida porque sei exatamente o que aconteceu."

O diplomata, que vai voltar ao cargo no Itamaraty, afirmou não ter gravado as conversas com Geddel, mas diz não estar preocupado em ter sua versão contestada pelo ex-colega. "Não tenho nada a temer. Não tenho rabo preso, não sou metido em maracutaia, sou um cidadão de classe média, servidor público, diplomata de carreira, assalariado, não tenho nada a esconder. Nunca agi errado, nunca roubei. Sou um cidadão normal", afirmou.

Questionado se teria disposição para comparecer ao Congresso, caso seja convidado para explicar o episódio, Calero disse não se sentir à vontade. "Não me sinto à vontade para comentar, aí tem um pouco de luta política para tentar fragilizar o governo Temer", afirmou.

O ex-ministro agradeceu a presidente do Iphan, a historiadora Kátia Bogéa, pelo apoio durante o processo. "A gente já sabia que havia interesses naquele projeto. No dia 31 de outubro, ciente do interesse pessoal nesse caso, eu falei: 'Agora somos nós. O destino quis que dois malucos, tipo Lineu Silva (personagem famoso pela honestidade, integrante do seriado A Grande Família, da TV Globo) se encontrassem. Eu quero uma decisão técnica. Em nenhum momento ela hesitou: 'Se a gente tiver que perder o cargo, que perca'".

Apoio - Em nota divulgada ontem, a Associação Profissional dos Trabalhadores Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural Nacional (Asphan) lamentou a saída de Calero, e "interferências políticas indevidas" no trabalho desenvolvido pelos profissionais do Iphan.

Calero, segundo a associação, "demonstrou, com seu ato, ser homem digno e probo. Justo também, elogiar sua conduta em relação ao tratamento dispensado ao corpo funcional da instituição".

Segundo Leonardo Barreto de Oliveira, presidente da Asphan, o ex-ministro manteve diálogo com os profissionais "de maneira íntegra e cordial" e se esforçou para tentar melhorar "as difíceis condições de trabalho dos servidores do Iphan".

O comunicado também reconhece o trabalho da presidente do Iphan. A associação afirma que espera uma apuração das acusações pelo Ministério Público Federal.

"Essa conduta mantém a nós, servidores do Iphan, firmes para enfrentar as pressões às quais, nas ações de fiscalização somos cotidianamente submetidos", destaca a carta. "Confiamos no repúdio da sociedade, e da mídia, a estas interferências políticas indevidas." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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