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Brasil vai tolerar real mais forte por ora

Moeda prejudica indústria manufatureira, mas governo acredita que pode agir efetivamente quando estiver valendo mais

O real acumula alta de 40% desde 2009 (Marcelo Calenda/EXAME.com)

O real acumula alta de 40% desde 2009 (Marcelo Calenda/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 1 de abril de 2011 às 15h34.

São Paulo - O governo brasileiro vai tolerar o dólar abaixo de 1,65 real por ora e não planeja grandes medidas para evitar a valorização do real no curtíssimo prazo, disseram fontes do governo à Reuters.

A presidente Dilma Rousseff está preocupada com o recente fortalecimento do real, que atingiu o maior nível em 31 meses na quinta-feira e fechou a cerca de 1,63 real por dólar. Contudo, fontes disseram que Dilma também está preocupada com a alta inflação e os preços do petróleo, e acreditam que uma moeda forte poderia ajudar a reduzir as pressões inflacionárias na economia.

"A atitude por enquanto é esperar para ver", disse uma das fontes. "Não temos nenhuma boa opção." O governo vinha defendendo o piso informal de 1,65 real por dólar, implementando novas medidas de intervenção como o aumento do imposto sobre compras de bônus por estrangeiros quando a moeda ameaçou ultrapassar esse nível.

O real acumula alta de 2,5 por cento neste ano e de 40 por cento desde 2009.

A valorização do real prejudica a indústria manufatureira, mas a equipe econômica do governo decidiu não anunciar novas medidas por ora, acreditando que uma moeda um pouco mais forte pode agir como um freio à inflação e reduzir a ameaça dos preços elevados do petróleo, disseram as fontes.

As autoridades também temem que possíveis novos controles de capital tenham consequências negativas, repelindo o investimento produtivo estrangeiro. "Você precisa ter cuidado", disse uma das fontes.

As autoridades acrescentaram, porém, que podem abruptamente mudar a estratégia e implementar controles de capital se o real continuar a se fortalecer mais. Elas também disseram que o Banco Central continuará com as intervenções costumeiras no mercado de câmbio para limitar o máximo possível a alta do real.

Petróleo 

As autoridades não quiseram especificar qual é o novo piso para o dólar ante o real. Mas seus comentários sinalizam uma decisão de reduzi-lo para pouco acima de 1,60 real, já que a onda de capital especulativo e de longo prazo entrando no Brasil não dá sinais de diminuir.

As medidas recentes para conter os ingressos de capital no país tiveram resultados diminutos. Na terça-feira, o governo elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos estrangeiros de até 360 dias, mas o efeito no mercado foi praticamente nulo.

"Isso foi uma decepção", disse uma autoridade.

Um dos motivos da alta do real nesta semana foi o relatório de inflação do governo, que viu a inflação perto do topo da meta neste ano. Os mercados interpretaram isso como sinal de fraqueza, apostando que as autoridades terão de deixar o real subir ou recorrer a juros mais altos nos próximos meses para controlar os preços.

Essa aposta parece estar certa até agora. Autoridades disseram que estão especialmente preocupadas sobre o impacto que os preços globais do petróleo podem ter sobre os consumidores brasileiros. A Petrobras ainda não repassou a elevação dos custos para os postos de gasolina, mas isso pode mudar se o petróleo subir mais, segundo as autoridades.

Outro possível fator no pensamento do governo: a produção industrial brasileira teve uma forte e inesperada alta em fevereiro, segundo dados publicados nesta sexta-feira, significando que o efeito da moeda forte no setor pode não ser tão corrosivo quanto o previsto anteriormente.

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