Idosos: segundo a ONU, em 2050 o número de pessoas com 60 anos ou mais vivendo na América Latina deve chegar a 26% da população (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Agência Brasil
Publicado em 6 de junho de 2019 às 12h40.
Deputadas brasileiras viajaram para o Uruguai, o país mais envelhecido da América Latina, para conhecer iniciativas e políticas públicas de atenção às pessoas idosas. Lídice da Mata (PSB), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, está em Montevidéu, acompanhada das deputadas Leandre (PV) e Tereza Nelma (PSDB).
As parlamentares cumprem uma agenda de compromissos e reuniões com autoridades e instituições especializadas em cuidados de idosos, desde ontem (5) até amanhã (7).
"A iniciativa da viagem se deu na Comissão (de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa) pela necessidade que tínhamos de conhecer e poder aprofundar a nossa política de cuidados com o idoso em nosso país. Temos informações de que, no Uruguai, há uma política sendo desenvolvida com este objetivo. Como nós pretendemos fazer um seminário internacional ainda este ano, para debater a questão na Câmara dos Deputados, viemos até o Uruguai para conhecer a sua experiência", afirmou Lídice da Mata à Agência Brasil.
Para a deputada Leandre, o modelo que o Uruguai adota nos cuidados com a população mais velha, pode servir de inspiração para o Brasil. "O que nos chamou atenção, aqui no Uruguai, é que é uma política instituída por lei, então ela tem continuidade. É um modelo que eu acredito que a gente pode ter como referência, talvez não em sua totalidade, mas muitas coisas dá para aproveitar e adaptar".
Leandre ressaltou a relevância da política dos cuidadores cadastrados, existente no Uruguai. No país, os cuidadores de idosos recebem formação do Estado, em cursos realizados nas universidades, e integram um cadastro nacional.
A brasileira Teresa Cunha, 63 anos, é jornalista aposentada e cuidadora de idosos. Ela afirmou que a criação de um cadastro de profissionais vinculados ao Estado seria uma iniciativa interessante.
"Tendo um cadastro ficaria mais fácil de conseguir que idosos carentes fossem atendidos por profissionais capacitados para entender suas necessidades. É importante que algumas regras tenham que ser cumpridas, que a pessoa tenha pelo menos ensino fundamental completo, saiba ler, escrever, e que passe pelas disciplinas de cuidados básicos da pessoa acamada. Saber como ler uma receita médica, ligar para um familiar, ajudar a usar uma comadre, trocar fralda, dar banho em cima da cama, são cuidados mínimos", afirma.
Lídice da Mata ressaltou que no Uruguai há uma política clara de formação de cuidadores. "Essa política é feita pela universidade, mesmo não sendo uma graduação, e é fiscalizada e preparada pela universidade. No Brasil, há formações diferentes, sem um currículo básico e sem centralidade".
Para Leandre, o cadastro serviria também como fonte de emprego e renda. "A partir do momento que eu faço uma transferência de renda como essa, eu oportunizo, inclusive, vagas de emprego. Hoje, temos 13 milhões de desempregados. Muitas dessas pessoas poderiam assistir aqueles que precisam".
No mês passado, dia 21 de maio, o plenário do Senado aprovou o projeto de lei que regulamenta a profissão de cuidador de idosos, crianças e pessoas com deficiência ou doenças raras. O projeto agora vai para sanção presidencial.
Para a deputada Tereza Nelma, o que falta no Brasil é um programa voltado para essa população. "O Estado não assume esse papel (de cuidados com o idoso). No Brasil, o idoso ainda é visto como o aposentado, a pessoa que está ali para cuidar dos netos", defende a deputada, que relembra que 13% da população brasileira é de idosos, um total de 28 milhões de pessoas. "Não é mais um país de estudantes, é sim um país de pessoas idosas", afirma.
"Em diversas culturas, o idoso tem um papel social. No Brasil, provavelmente porque durante muitos anos tivemos uma população majoritariamente jovem, uma população de milhões, nós criamos um complexo de Peter Pan. O complexo de que seríamos jovens a vida inteira. Agora, enfrentamos esse novo desafio, de uma população idosa, que não tem a cultura do respeito, da proteção dos seus idosos. Em uma tribo indígena brasileira, ou de qualquer outro canto do mundo, os idosos têm o seu papel, em geral são os sábios da tribo. A nossa população, com as dimensões do crescimento capitalista no mundo, vê o idoso como um peso", afirmou Lídice da Mata.
Leandre disse que é um problema cultural. "No Brasil, a pessoa idosa é relacionada a tudo o que é velho, sem serventia. Esse é o principal problema. A ideia de viver muitos anos agrada a todo mundo, mas a ideia de ficar velho não agrada a ninguém. As políticas públicas andam em passos lentos e a sociedade parece ignorar completamente o assunto. Na medida em que a pessoa vai perdendo suas capacidades funcionais, sua autonomia, ela começa a ficar invisível. Aí a gente precisa do papel do Estado pois a família não dá conta".
A cuidadora Teresa concorda. "Falta uma cultura de educação e respeito pelos idosos. Nas filas dos supermercados, nos ônibus, eu sou uma exceção, pois exijo meus direitos (atendimento prioritário e assentos preferenciais). Mas o que vejo, nos ônibus, é que os velhos ficam em pé e os jovens ficam sentados, usando o celular, e não cedem lugar".
Segundo a ONU, em 2050 o número de pessoas com 60 anos ou mais vivendo na América Latina e Caribe deve chegar a 200 milhões, o que representa 26% da população. Atualmente, são 73,5 milhões de idosos na região.