Manifestantes reúnem-se na Praça da Sé: Outros países latino-americanos vivem agitações sociais e políticas, embora por causas diferentes das que geraram os protestos no Brasil. (Alex Almeida/Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2013 às 17h30.
Bogotá - Os protestos no Brasil estão gerando uma espécie de "primavera" da América Latina, região que sofre com a desigualdade, é afetada por diversos conflitos e cujos cidadãos inconformados interagem através das redes sociais, estimam analistas consultados pela Agência Efe.
Sexta maior economia do planeta, o Brasil é palco de manifestações que obrigaram a presidente Dilma Rousseff a reconhecer o valor da "voz das ruas" e a convidar alguns líderes do protesto a um diálogo para discutir um plano nacional que propôs em resposta ao descontentamento popular.
Embora os protestos tenham começado em São Paulo para rejeitar a alta do transporte público, os manifestantes denunciam também a corrupção e pedem maior investimento em saúde e educação, em vez de utilizar os recursos públicos em megaeventos.
"O que ocorre no Brasil está despertando um sentimento latino-americano de reivindicações pela igualdade social, a luta contra a pobreza e maiores espaços de participação política, e pode se estender ao resto do continente através das redes sociais", disse à Agência Efe o analista colombiano Juan Alberto Pineda, professor universitário de comércio internacional e direito constitucional.
"Acho que está sendo incubada uma "primavera latino-americana" com origem no país mais extenso e rico da região, e que é apreciado por ter resgatado da pobreza milhões de pessoas nos últimos anos", acrescentou Pineda.
O analista colombiano Fernando Giraldo declarou, por sua vez, que a América Latina "marcha em direção a uma situação muito complexa, devido ao fato de o povo começar a dizer "já chega" diante das más políticas públicas, a corrupção, a desigualdade social e a concentração da riqueza".
"Estamos perto de um "efeito dominó" e do caso de indignação coletiva parecido com o ocorrido em países da União Europeia (UE) e do Mundo Árabe, apesar de a América Latina ter suas particularidades", enfatizou Giraldo, analista político e consultor internacional sobre assuntos de desenvolvimento.
Outros países latino-americanos vivem agitações sociais e políticas, embora por causas diferentes das que geraram os protestos no Brasil.
Assim, os mexicanos protestam frequentemente pela violência associada ao narcotráfico e a pobreza que afeta metade da população da segunda maior economia latino-americana.
Cerca de 14 mil camponeses exigem terras em uma região colombiana fronteiriça com a Venezuela, em meio ao conflito armado que afeta a nação andina há meio século e após serem revelados números que situam a Colômbia como um dos três países mais desiguais da América Latina.
"Vendo o que está acontecendo nas ruas de São Paulo, onde se levantou um movimento de indignados a partir de uma faísca que os políticos não detectaram, me pergunto quanto falta para termos o nosso", escreveu a colunista María Jimena Duzán em artigo para a revista "Semana" intitulado: "A quanto estamos de uma primavera colombiana?".
Na Venezuela, país no qual a cada ano há protestos de vários tipos, docentes e estudantes universitários reivindicaram nas últimas semanas melhores salários e mais recursos para a educação, enquanto o presidente, Nicolás Maduro, acusou os manifestantes de tentarem desestabilizar o governo.
Por sua vez, três mil pessoas percorreram na sexta-feira passada as ruas de Assunção após se concentrarem em frente ao Congresso para denunciar a corrupção e criticar a classe política paraguaia.
O governo do presidente da Bolívia, Evo Morales, enfrentou em maio fortes protestos sindicais para exigir a melhora das aposentadorias no país, um conflito que incluiu passeatas e bloqueios de estradas.
A América Central, região afetada no passado por conflitos armados, registra protestos por diversos motivos nas últimas semanas. O mais recente é o da Nicarágua, onde centenas de pessoas que demandam uma aposentadoria básica, de US$ 125 mensais, tomaram as instalações do Instituto de Seguridade Social, de onde foram tiradas pela polícia.