Bolsonaro diz a empresários chineses que Brasil "mudou para melhor"
Embora tenha afirmado durante a campanha que a China "estava comprando o Brasil", Bolsonaro moderou consideravelmente o tom desde que chegou ao cargo
EFE
Publicado em 25 de outubro de 2019 às 08h59.
Última atualização em 25 de outubro de 2019 às 10h35.
Pequim — O presidente Jair Bolsonaro declarou nesta sexta-feira (25), ao abrir um fórum de negócios com empresários chineses em Pequim , que o Brasil "mudou para melhor" desde que assumiu o cargo, e destacou que pretende diversificar as relações do país com a China.
Bolsonaro anunciou que decidiu isentar de visto — sem expectativa de reciprocidade — os cidadãos chineses para as viagens de turismo e negócio ao Brasil, o que, segundo o presidente, demonstra "a confiança" do governo no país asiático.
Embora tenha afirmado durante a campanha eleitoral que a China "estava comprando o Brasil", Bolsonaro moderou consideravelmente o tom desde que chegou ao cargo devido às relações econômicas entre os países. A China é o maior parceiro comercial do Brasil.
O presidente agradeceu o apoio do embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, por "reconhecer" a soberania do Brasil sobre a região amazônica "em um episódio recente por ocasião da reunião do G7".
"Muito obrigado ao governo chinês. Para nós, não tem preço esse reconhecimento público e as suas palavras sobre essa região tão importante para o mundo e para o Brasil", comentou.
Bolsonaro se mostrou "honrado e feliz" de estar na China e classificou sua presença como "uma prova concreta" de que o atual governo brasileiro quer "mais que aumentar, diversificar" o entorno de negócios.
"Não há país que não queira conversar conosco, afinal de contas o Brasil mudou, e mudou para melhor", garantiu.
De acordo com Bolsonaro, o "perfeito" entendimento entre o Legislativo e o Executivo no Brasil permite reformas como a da Previdência, e anunciou que "em breve" serão realizadas outras mudanças.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, enfatizou no fórum de negócios que a parceria com a China é "muito importante" para o Brasil, um país que "está diferente", "mais seguro e com um marco regulador claro".
"O país está com as portas abertas para que essa parceria seja cada vez maior. Não há risco para o investimento que se faz no Brasil", argumentou.
O vice-primeiro-ministro chinês, Hu Chunhua, ressaltou que ambos os países são "parceiros naturais" e desejou o fortalecimento da cooperação em fóruns como o dos BRIC e do G-20.
Não era palmeirense?
Bolsonaro deu um uniforme do Flamengo para Xi Jinping, após reunião bilateral no Palácio do Povo, em Pequim.
Ao entregar o presente, Bolsonaro disse que o Flamengo é o "melhor time brasileiro da atualidade". O time carioca é o líder do campeonato brasileiro e o único clube do País a seguir na Libertadores da América — está na final do torneio.
Bolsonaro brincou que, devido ao bom desempenho, atualmente todos os brasileiros são flamenguistas. Ele afirmou ter certeza de que os 1,3 bilhão de chineses também torcerão pelo time na final da Libertadores, no final do mês que vem.
Mais cedo, o presidente disse a jornalistas que o seu presente iria surpreender. Ele torce pelo Palmeiras. Além do uniforme, Bolsonaro entregou ao presidente chinês uma gravura de futebol. Xi Jinping é fã do esporte e investiu bilhões no setor nos últimos anos.
Além do agasalho, Bolsonaro entregou ao presidente chinês uma gravura de futebol. Xi Jinping é fã do esporte e investiu bilhões nos últimos anos.
Áudio do Queiroz
O presidente classificou como um "áudio bobo" a gravação divulgada pelo jornal O Globo atribuída ao ex-policial Fabrício Queiroz na qual o mesmo faz orientações sobre indicações políticas para cargos no Congresso e fala em uma "fila" no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Queiroz é alvo de investigações pelo período em que trabalhou como assessor de um dos filhos do presidente, o agora senador Flávio Bolsonaro.
"Sobre o Queiroz, alguém tem que ir atrás dele com o que ele falou. E outra, é um áudio bobo: 'tem fila na porta do Flávio'. Se tivesse fila todo mundo saberia", minimizou o presidente.
Bolsonaro disse, ainda, que a Justiça "já está cuidando" do caso Queiroz. Indagado sobre o fato de ex-assessor não ter prestado depoimento até o momento alegando questões médicas, o presidente disse que teve conhecimento de que ele se manifestou por escrito.
"Não tenho nada a ver com esse caso. Ele é meu amigo desde 1985, meu soldado, mas desde desse problema não falo mais com ele. Ele que se explique, se ele é inocente ou culpado."
Questionado sobre qual seria a razão de Queiroz continuar utilizando o nome de Flávio mesmo após deixar de ser seu funcionário, Bolsonaro questionou a veracidade do material e disse que o ex-assessor foi alvo de um "amigo da onça", em referência a pessoa que recebeu e compartilhou o áudio - que teria sido gravado em junho.
"Se for verdadeiro o áudio, ele conversou com o amigo dele e o amigo dele deu uma de amigo da onça, gravou e passou para a frente", declarou o presidente.
2ª instância
Em meio ao julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que pode mudar o entendimento sobre prisão após condenação em segunda instância, Bolsonaro tenta se manter afastado de polêmicas sobre o assunto. A alteração pode beneficiar presos como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não estou achando nada. Sou chefe do Executivo, não sou mais deputado. Não posso ter atrito com o Legislativo, com o Judiciário. A decisão é deles", disse ao ser questionado sobre o assunto em Pequim (China).
Há alguns dias, a conta do presidente nas redes sociais publicou um texto a favor da condenação após segunda instância, ou seja, antes do processo tramitar em julgado, mas depois apagou o comentário. Um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), pediu desculpas pelo conteúdo postado.
Na semana passada, véspera do início do julgamento, Bolsonaro recebeu três ministros do STF pra reunião no Palácio do Planalto mas o assunto das conversas não foi divulgado. "O que conversaram é reservado, não vou divulgar, eu perco a confiança" disse o presidente hoje.
(Com EFE e Estadão Conteúdo)