Ilan Goldfajn: "Entre os outros 60 maiores bancos do mundo, somos o único diferente. Chegou o momento de a gente mudar isso" (Andrew Harrer/bloomberg/Bloomberg)
Agência Brasil
Publicado em 2 de abril de 2018 às 17h33.
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, avaliou hoje (2) que é viável a aprovação, no Congresso Nacional, de proposta que prevê autonomia do Banco Central ainda neste semestre.
Goldfajn fez uma palestra na Fundação Getulio Vargas (FGV) e afirmou que considera viável a aprovação antes da "turbulência do período eleitoral", ainda no primeiro semestre.
"Acho que sim. Acho que é viável", disse. "O Banco Central é o único [órgão] que regula um setor e não tem um mandato fixo que outras agências têm. Certamente é o único banco central do mundo que não tem autonomia por lei. Entre os outros 60 maiores bancos do mundo, somos o único diferente. Chegou o momento de a gente mudar isso", acrescentou.
A reforma é defendida pelo governo e propõe um mandato fixo para o presidente e diretores do Banco Central, que seria não coincidente com o do presidente da República.
"Outras reformas, principalmente as reformas fiscais, mexem com interesse e com o bolso das pessoas. E a autonomia do Banco Central é uma reforma que, se tiver clareza, reduz o prêmio de risco sem gastar um centavo", completou.
Em sua palestra, o presidente do BC defendeu que o Brasil terá pela frente o desafio de manter a inflação e os juros em patamares historicamente baixos. Goldfajn disse que a economia brasileira passará por transformações se essas taxas permanecerem baixas.
"Queremos que o que ocorreu na queda da inflação fique conosco para sempre. O trabalho difícil começa agora: manter essa conquista da queda da inflação e juros", afirmou.
"Se a gente conseguir fazer isso, vai acontecer uma mudança muito grande no sistema financeiro. O sistema financeiro e a economia brasileira nunca conviveram com juros baixos."
A previsão do Banco Central é que a inflação fique em 3,8% ao ano em dezembro de 2018 e suba para 4,1% em dezembro de 2019. A Selic está em 6,5% ao ano, e Goldfajn reafirmou a tendência de redução na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Monetária (Copom), caso as condições da economia permaneçam como estão.
A taxa impacta o crédito e é utilizada como instrumento para controlar a inflação, aproximando-a do centro da meta do governo para este ano, que é de 4,5%, com limite de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
O presidente do BC alertou que o cenário internacional favorável a países emergentes não vai ficará inalterado e defendeu que é preciso fazer ajustes e reformas neste período em que outras economias estão crescendo, e os juros estão baixos internacionalmente. "Devemos avançar o máximo possível até lá", disse.