Após saída de presidente, diretores do ICMBio pedem exoneração
O presidente do Instituto Chico Mendes deixou o cargo após a abertura de um processo administrativo contra funcionários no Rio Grande do Sul
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de abril de 2019 às 14h11.
Última atualização em 26 de abril de 2019 às 13h53.
Brasília — Três diretores do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) , vinculado ao Ministério do Meio Ambiente , pediram exoneração nesta quarta-feira, 24. O comunicado foi apresentado à pasta pelo presidente substituto do órgão, Régis Pinto de Lima, e pelos outros dois diretores Luiz Felipe de Luca e Gabriel Henrique Lui. A saída da cúpula ocorre em meio a uma crise instalada na área ambiental do governo Bolsonaro.
Nesta terça-feira, 23, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo, o ministro Ricardo Salles mandou exonerar Fernando Weber, que chefiava o Parque Nacional Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul. O dirigente também era vinculado ao ICMBio. Questionado sobre as razões que levaram à demissão de Weber, Salles disse apenas que "cargo de confiança é prerrogativa do Executivo escolher". O ministro disse ainda que já tinha um substituto, mas não anunciou o nome.
Antes de demissão de Weber, o então presidente do órgão, Adalberto Eberhard, já havia pedido exoneração do cargo após o ministro determinar a abertura de um processo administrativo contra funcionários do ICMBio do Rio Grande do Sul. O anúncio de Salles foi feito na frente de Eberhard durante uma visita do ministro à região do Parque Nacional Lagoa do Peixe, no dia 13.
Após ouvir queixas de pescadores e produtores locais sobre o ICMBio, o ministro pediu para que os funcionários do órgão se juntassem a ele na mesa. "Não tem nenhum funcionário?", perguntou na sequência. "Vocês vejam a diferença de atitude: está aqui o presidente do ICMBio que, embora seja um ambientalista histórico, uma pessoa respeitada no setor, veio aqui ouvir a opinião de todos vocês. E na presença do ministro do Meio Ambiente e do presidente do ICMBio, não há nenhum funcionário aqui", reclamou Salles.
Em seguida, o ministro anunciou a abertura de processo administrativo disciplinar contra todos os funcionários ausentes no evento. A plateia aplaudiu com entusiasmo. Eberhard manteve-se em silêncio. No dia 15, foi até seu gabinete em Brasília, limpou as gavetas, despediu-se dos funcionários e entregou a carta de demissão ao ministro.
Os dirigentes que pediram exoneração nesta quarta citaram a saída de Eberhard. "Frente à exoneração do senhor Adalberto Eberhard do cargo de presidente do ICMBio no último dia 15 e reconhecendo a necessidade de que suas orientações para o Instituto sejam amparadas e conduzidas por uma equipe de sua mais elevada estima e confiança, vimos solicitar a exoneração dos cargos de presidente substituto e diretores dos signatários abaixo", afirmam os três no pedido entregue a Salles.
Funcionários relataram ao Estado que não foram ao evento com o ministro e o presidente do ICMBio porque não haviam sido convocados para a cerimônia, que foi acompanhada por políticos gaúchos, além de representantes do agronegócio. Alguns servidores chegaram a ir ao evento, ao saberem que o ministro havia ameaçado puni-los pela ausência. O chefe do parque, Fernando Weber, que será exonerado, juntou-se à mesa, ao lado do ministro, mas não teve a chance de responder às críticas.
Carta
Na semana passada, servidores federais da área ambiental divulgaram uma carta aberta à sociedade de repúdio às "declarações e posturas" de Ricardo Salles. "O ministro vem, reiteradamente, atacando e difamando o corpo de servidores do ICMBio através de publicações em redes sociais e de declarações na imprensa baseadas em impressões superficiais após visitas fortuitas a unidades de conservação onde não se dignou a dialogar com os servidores para se informar sobre a situação e sobre eventuais problemas e dificuldades", escrevem em carta assinada pela Associação Nacional de Servidores da Carreira de Meio Ambiente (Ascema Nacional).
Reportagem do Estado mostrou, no fim de semana, que a área ambiental do governo Bolsonaro passa por um processo de militarização. Do alto escalão do Ministério do Meio Ambiente até as diretorias do Ibama e do ICMBio, postos-chave estão agora sob a tutela de oficiais das Forças Armadas e da Polícia Militar. A orientação dada pelo próprio presidente e levada a cabo pelo ministro Ricardo Salles, é a de acabar com o "arcabouço ideológico" no setor.