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Apesar do colapso da saúde, Rio tem 1.840 leitos públicos fechados

Principal motivo é a falta de equipes; rede municipal perdeu mil médicos em três anos

Rio: situação é mais crítica nas unidades que sofreram com a redução de equipes (Alessandro Dahan/Getty Images)
AO

Agência O Globo

Publicado em 30 de abril de 2020 às 06h46.

Última atualização em 30 de abril de 2020 às 12h33.

Enquanto pessoas morrem à espera de atendimento, em 27 grandes hospitais públicos e Coordenadorias de Emergência Regionais (CERs) da cidade do Rio havia nesta quarta-feira 1.840 leitos classificados como impedidos. Ou seja, que não podiam receber pacientes por motivos como falta de profissionais de saúde, escassez de insumos ou até por estarem com camas e respiradores quebrados. Paradoxo que atinge do Hospital Souza Aguiar, no Centro, com 30 leitos inutilizados, ao Ronaldo Gazolla, em Acari, referência para a covid-19 no município, onde havia 156 vagas fechadas, passando pelo Miguel Couto (52 vagas fechadas).

"Há leitos em unidades de altíssima qualidade prontos para serem abertos. Nos hospitais federais da Lagoa e de Ipanema, por exemplo, são dezenas, alguns fechados por falta de técnico de enfermagem. Não faz sentido que isso ocorra enquanto pessoas estão morrendo em meio à pandemia", afirma Daniel Soranz, ex-secretário municipal de Saúde do Rio.

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Há até UTIs prometidas no plano de contingência contra o coronavírus que continuam bloqueadas, aponta o Ministério Público do Rio (MPRJ ). Os promotores tentam que a Justiça determine que prefeitura e estado abram, de fato, 155 leitos de terapia intensiva para síndrome respiratória aguda grave (SRAG) na capital que, segundo a plataforma de regulação de vagas, continuam impedidos/bloqueados ou funcionando com finalidades outras.

Num âmbito geral, ontem eram 472 leitos impedidos na rede da prefeitura, 196 na estadual, 823 na federal e 349 em hospitais universitários. No Souza Aguiar, a sala vermelha tinha 11 pacientes para duas vagas. Um leito clínico, porém, estava impedido porque não tinha saída de oxigênio e nem respirador.

Para Soranz, a situação é mais crítica nas unidades do município, que sofreram com uma redução de equipes e de investimentos nos últimos anos.

"Segundo dados do Datasus, eram 45,7 mil profissionais de saúde em janeiro de 2017, contra 39,1 mil em fevereiro deste ano, 6.605 a menos, cerca de mil deles médicos", ressalta.

Já Leonardo Mattos, do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ, destaca a quantidade de leitos vazios nos hospitais federais, enquanto a atual emergência sanitária lota até as Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). Só no Hospital Geral de Bonsucesso, até ontem ontem, eram 212 leitos inoperantes.

"Bonsucesso desmarcou transplantes, mas até agora não entregou os leitos que propôs na pandemia", afirma ele.

Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou. A prefeitura também não respondeu . A Secretaria estadual de Saúde informou que, nos últimos dois meses, 724 novos leitos foram abertos.

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