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Apesar das críticas, Lula diz que 'jamais trataremos PDT como inimigo'

De olho na disputa presidencial, Ciro Gomes tem concentrado críticas no petista para tentar atrair eleitores de Jair Bolsonaro

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a falar à imprensa da estratégia eleitoral de Ciro Gomes (Alexandre Schneider/Getty Images)

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a falar à imprensa da estratégia eleitoral de Ciro Gomes (Alexandre Schneider/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de junho de 2021 às 16h05.

No seu primeiro ato aberto à imprensa desde que chegou ao Rio, na última quinta-feira (10), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a falar da estratégia eleitoral de Ciro Gomes (PDT), que tem concentrado críticas no petista para tentar atrair eleitores de Jair Bolsonaro. Segundo Lula, que disse ter carinho e respeito pelo seu ex-ministro, o PDT jamais será encarado como um inimigo.

"Se o PDT decide que o Ciro é candidato, é um direito dele. Será a quarta vez. Nós jamais trataremos o PDT como inimigo. É um adversário eleitoral que vamos encarar da forma mais limpa possível", apontou. "Apesar das críticas, tenho respeito e admiração pelo Ciro Gomes."

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Na noite de quinta, Lula já havia falado com líderes de esquerda que lamenta os rumos tomados por Ciro, que está sendo coordenado pelo ex-marqueteiro petista João Santana. Ontem, o ex-mandatário chegou a se encontrar com o prefeito de Niterói, Axel Grael, que é do PDT. Também se reuniu com brizolistas e filiou ao PT um dos netos do ex-governador fluminense Leonel Brizola, elogiado por Lula mais de uma vez durante a passagem pelo Estado.

Neste sábado, em encontro com lideranças comunitárias do Rio, o ex-presidente concentrou as críticas em Jair Bolsonaro e no que ele representa para o País. Repudiou, por exemplo, o modo como o governo atua na pandemia, a ideia de implementar voto impresso no País e o uso político das Forças Armadas.

"Eu uso máscara e falo usando máscara, mesmo incomodado, para me diferenciar do genocida", disse. Sobre a proteção facial, repudiou ainda a aglomeração promovida por mais uma "motociata" bolsonarista, desta vez em São Paulo. Essas pessoas são, segundo Lula, "milicianos" convocados pelo presidente.

O Estadão mostrou nesta semana que o projeto que busca implementar o voto impresso no Brasil tem maioria para ser aprovado na Câmara. Para Lula, Bolsonaro "viu aquele filme dos dinossauros" e saiu de lá com essa ideia. "Quer enganar quem? A Idade Média acabou."

Nessa linha, alegou ainda que suas vitórias eleitorais são a prova de que o voto eletrônico é confiável, já que ele seria um quadro político rejeitado por quem teria poder de manipular alguma coisa. De acordo com Lula, Bolsonaro tenta construir movimentos como o de Donald Trump, nos Estados Unidos, e Keiko Fujimori, no Peru, de deslegitimação do resultado eleitoral.

Lula também se disse preocupado com os acontecimentos recentes das Forças Armadas, como a não-punição ao general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello por participar de ato político de Bolsonaro. Rechaçou ainda o armamento da população, bandeira histórica do discurso bolsonarista.

"Ele (Bolsonaro) quer criar um Estado militarizado. Quer criar um aparato próprio. Ele alimenta diariamente os milicianos dele. É perigoso para o País", disse.

Como estava no Rio, o petista foi perguntado sobre os episódios recentes envolvendo as mortes em ação policial no Jacarezinho e a morte da grávida Kathlen Romeu, que levou um tiro na cabeça nesta semana. Falou da necessidade de se ter uma política de Segurança que vá além das polícias e classificou essas mortes como símbolos da "excrescência" de setores das polícias fluminenses. Esse discurso é um tema caro às lideranças presentes no encontro, que lidam diariamente com a violência urbana.

Alianças para 2022

Neste sábado e na quinta, Lula esteve com o deputado Marcelo Freixo, que deixou o PSOL e vai se filiar ao PSB ainda neste mês. Ele é pré-candidato ao governo do Rio e deve ter o apoio dos petistas. O ex-presidente, contudo, também almoçou ontem com o prefeito Eduardo Paes (PSD) e o seu nome colocado para a disputa estadual - o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.

"É uma felicidade enorme saber que já se apresentam dois candidatos de qualidade imensa. É uma diferença para muitos outros anos no Rio de Janeiro", disse Lula, quando questionado sobre alianças. Os grupos políticos de Freixo e Paes vêm mantendo conversas, em gesto que agrada ao ex-presidente.

Participaram do encontro desta manhã 15 lideranças comunitárias convidadas e pessoas que as acompanharam. Entre elas, estava o DJ Rennan da Penha, criador do Baile da Gaiola. Assim como Lula, ele mobilizou a opinião pública quando foi preso acusado de "associação ao tráfico" mesmo após as provas serem consideradas frágeis na primeira instância. A medida foi revertida por um habeas corpus.

Além dele, estiveram lá líderes comunitários de importantes favelas do Rio e figuras políticas, como Freixo, a também deputada Benedita da Silva (PT), criada numa favela, e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

"É preciso filiar os negros combativos ao PT. É uma luta que se faz urgente. Nós estamos morrendo", disse a vereadora carioca Tainá de Paula (PT), um dos destaques do partido na última eleição municipal. Ela também alertou Lula sobre a importância de estar alinhado com a base e tomar cuidado na formação de uma aliança eleitoral que fuja demais dos valores do partido - um fantasma encarado pela sigla durante o impeachment de Dilma Rousseff.

Este sábado é o último dia de compromissos de Lula no Rio. À tarde, conversará com artistas. Ele volta a São Paulo no domingo de manhã. A visita incluiu encontros com políticos de esquerda e de centro, reuniões pontuais e a ida a um estaleiro.

No início de julho, o ex-presidente vai desembarcar no Nordeste. Pelo menos quatro cidades devem recebê-lo, segundo a direção do partido.

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