Aliados tentam mudar entrega de homenagem a Bolsonaro para Dallas
Presidente foi indicado como personalidade do ano pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, mas desistiu de receber premiação em NY
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de maio de 2019 às 13h11.
Última atualização em 6 de maio de 2019 às 13h19.
Washington — Aliados do presidente Jair Bolsonaro trabalham para mudar o local da premiação de personalidade do ano que será entregue pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos no próximo dia 14.
Na sexta-feira (03), o Planalto anunciou que o presidente não viajaria a Nova York para receber o prêmio, depois de o prefeito da cidade ter criticado Bolsonaro e o evento virar alvo de protestos e boicotes. Agora, interlocutores do presidente nos EUA pressionam para que o evento seja realizado em Dallas, no Texas.
Sem dar detalhes, Bolsonaro afirmou na noite de domingo (5) a jornalistas que ainda"vai aos EUA". Ele não especificou itinerário ou data. A Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos não foi localizada após a declaração de Bolsonaro para informar se haverá mudança na cidade que sediará o evento.
Na sexta-feira, após o cancelamento da participação do presidente, a Câmara informou em nota que o prêmio ocorreria conforme programado.
A pressão pela mudança no local do evento não é consenso no governo. Há aliados do presidente que ainda insistem na ida a Nova York, especialmente depois da reação do prefeito Bill de Blasio. A avaliação desta ala é de que Bolsonaro não deve se acovardar e há alto interesse empresarial no evento.
Durante o fim de semana, De Blasio, comemorou o cancelamento da viagem de Bolsonaro à cidade. "Jair Bolsonaro aprendeu do jeito difícil que nova-iorquinos não fecham os olhos para a opressão. Nós expusemos sua intolerância. Ele correu. Não fiquei surpreso - valentões geralmente não aguentam um soco", escreveu ele. Na sequência, o prefeito completou: "Seu ódio não é bem-vindo aqui".
O vice-presidente Hamilton Mourão atribuiu o cancelamento a disputas políticas internas nos EUA. "A realidade é que o presidente se sente incomodado pela atitude do prefeito de Nova York, que nada mais é do que uma disputa interna nos Estados Unidos", disse Mourão.
"O prefeito é democrata, o presidente Donald Trump é republicano e o presidente Jair Bolsonaro julgou por bem não se meter em algo que é uma disputa de outro país", afirmou o vice.
A ala que defende a mudança de local onde o evento vai ser realizado enfrenta alguns entraves, além das questões logísticas de remarcação de um jantar de gala em um período de uma semana.
O quórum da premiação, se ocorrer no Texas, deve ficar prejudicado. Isso porque uma série de eventos paralelos ao prêmio e relacionados ao Brasil estão agendados para acontecer em Nova York do dia 13 ao dia 15. O voo de Dallas a Nova York dura mais de três horas.
Além disso, o prefeito de Dallas, Mike Rwalings, também é um democrata, como De Blasio. Mas pessoas próximas ao governo brasileiro, nos EUA, avaliam que como o Estado do Texas é conservador é menor o risco de uma reação política.
O governador do Estado é republicano e um dos senadores texanos, Ted Cruz, também republicano, recebeu ano passado a visita do deputado Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente.
A homenagem a Bolsonaro tem sido alvo de protestos e resistências nos Estados Unidos. Primeiro, o Museu de História Natural da cidade se recusou a ser sede para o evento. Depois, Bolsonaro foi alvo de críticas por Bill de Blasio.
A Câmara de Comércio teve dificuldade em conseguir um lugar para realizar o evento em Nova York, mas por fim havia reservado um espaço em um hotel da rede Marriott, próximo à Times Square.
Durante a última semana, ativistas de direitos LGBTQ passaram a pressionar empresas que patrocinam o evento a boicotar a premiação.
Algumas empresas, como a Delta, decidiram deixar de patrocinar o jantar devido à pressão e ativistas preparavam uma manifestação na porta do local, antes de o Planalto anunciar o cancelamento da viagem.
A ida de Bolsonaro para os EUA incluía, inicialmente, não só a participação no evento, mas outras agendas organizadas em parte pelo mercado financeiro, além de uma ida a Miami para reunião com base eleitoral e republicanos.