Alckmin e a Lava-Jato: uma questão para 2018
Camargo Corrêa e a Odebrecht admitiram que formaram cartéis em SP. Qual o impacto que as novas acusações terão sobre a candidatura tucana?
Raphael Martins
Publicado em 19 de dezembro de 2017 às 18h06.
Última atualização em 20 de dezembro de 2017 às 15h39.
Bastou uma semana desde que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), consolidasse sua pré-candidatura à Presidência da República pelo PSDB para que a Operação Lava Jato surgisse novamente em seus calcanhares.
Nesta segunda e terça-feiras duas das maiores empreiteiras do país, a Camargo Corrêa e a Odebrecht, admitiram ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, que formaram cartéis para vencer obras públicas no estado governado há duas décadas pelos tucanos.
Em São Paulo, o período denunciado pelas empresas foi de 2004 a 2015. A Camargo descreve ainda a formação de cartéis em 21 licitações em Metrôs de sete estados desde 1998. Alckmin é governador desde 2001, com a morte de Mário Covas, e, de lá para cá, foram 11 anos de São Paulo sob sua batuta. Suas principais obras, como os lotes do Rodoanel, estrada que circunda a capital paulista e interliga as diversas rodovias do estado, e as linhas 2 e 5 do Metrô estão nas licitações suspeitas de fraude. A informação das denúncias foi antecipada pelo jornal Folha de S. Paulo.
O escândalo vem à tona justamente quando a cúpula tucana de São Paulo fazia esforço conjunto para “repaginar” Alckmin e alçá-lo a candidato de centro para a disputa da presidência. A estratégia do PSDB será lançá-lo como político experiente e bom gestor do orçamento público, valorizando a situação fiscal do estado de São Paulo – que apesar de congelar reajustes dos funcionários públicos, paga salários em dia e dá superávit primário. A situação do estado é de fato um cartão de visitas raro no Brasil. Mas as novas denúncias exigem resposta rápida e, além disso, mostram que a Lava-Jato vai, sim, ser uma questão com a qual o candidato Geraldo Alckmin terá que lidar em 2018.
O Metrô, afinal, é um de seus maiores chamarizes. Em junho, o tucano anunciou que a mesma linha 5-Lilás, capturada pelo cartel, ganharia, em plena crise, nada menos que nove estações até o fim de 2017 ao custo de 10 bilhões de reais. Com as novas estações, o novo mapa da linha Lilás bateria 20 quilômetros de extensão. Essa linha se integrará às linhas 1-Azul e 2-Verde do Metrô; e à futura linha 17-Ouro do monotrilho.
O problema é que, antes mesmo das novas denúncias, o governo paulista já tinha de explicar novos atrasos. A promessa das entregas aconteceu em junho, junto com anúncio de superávit de 1,5 bilhão de reais e 15,3 bilhões de reais em investimentos no balanço de 2016. No mês passado foi anunciado novo adiamento da entrega, agora para abril de 2018. É o momento limite para que Alckmin corte as fitas e pose para fotos antes de abandonar o governo para disputar as eleições.
Mas qual o potencial destrutivo das novas denúncias? A Camargo e a Odebrecht indicam que os cartéis foram formados a partir de sugestão de um “agente público”, cujo nome permanece em sigilo. Ainda não se sabe se esse nome é próximo ou não do governador. O caráter administrativo do crime de cartel, em que empresas se associam para fraudar o sistema, tende a afastar Alckmin do centro do escândalo, mesmo que o formato das licitações possa ter sido permissivo.
“O esquema revelado pode prejudicar Alckmin, sim. O programa da linha 5 do Metrô foi alvo de questionamentos desde sua licitação inicial em 2010. Mas Alckmin nunca suspendeu o contrato com as empresas suspeitas”, afirma o cientista político Thomaz Favaro, diretor da consultoria Control Risks. “A leniência da Camargo Corrêa parece corroborar as informações já entregues por seus executivos em delações premiadas, que apontavam pagamento de propina para fraudar a licitação destas obras”.
Até esta semana, a Lava-Jato havia encurralado o governador em apenas uma denúncia do Grupo Odebrecht. Os colaboradores Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o BJ, Carlos Armando Guedes Paschoal e Arnaldo Cumplido de Souza e Silva relataram às autoridades que a Odebrecht teria repassado, ao todo, 10,3 milhões de reais às campanhas de Geraldo Alckmin em 2010 e 2014 por meio de caixa dois, ao lado de uma doação oficial de 400.000 reais.
O responsável pelo recebimento das quantias teria sido o cunhado de Alckmin, Adhemar César Ribeiro. O Ministério Público Federal pediu abertura de inquérito em novembro. A acusação está sendo avaliada em segredo de Justiça no Superior Tribunal de Justiça. O governador nega que tenha pedido “recursos irregulares” em sua vida pública.
Joga a favor de Alckmin o fato de que as novas denúncias parecerem coisa pouca num país acostumado a malas de dinheiro. No mesmo PSDB, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi gravado pedindo 2 milhões de reais ao empresário Joesley Batista sem uma justificativa convincente. No PMDB, Michel Temer, cujo assessor de confiança, Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), foi flagrado pela Polícia Federal carregando uma mala de 500.000 reais em dinheiro vivo, segue firme e forte na presidência. Mas o caso vem à tona numa péssima hora para Alckmin.
O governador conseguiu debelar o furor em relação ao pupilo e prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e trazer para si parte um certo consenso entre grupos que pleiteavam a renovação das pautas tucanas e os que clamavam por alianças com o governo Michel Temer – em busca de apoio no ano que vem numa aliança de centro.
Em sua primeira pesquisa Datafolha sem adversários de dentro do partido, Alckmin conseguiu entre 6% e 12% das intenções de voto. Há leve aumento em cenário favorável (sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sem o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa na disputa), mas o resultado empaca na cena mais competitiva (com Lula, Jair Bolsonaro, Marina Silva e Ciro Gomes na disputa).
“Com a definição do Alckmin como candidato é normal que esse tipo de informação venha aparecer. Mas os fatos não são novos, e não o prejudicaram em eleições anteriores”, afirma Wagner Parente, diretor da consultoria política Barral M Jorge. Faltam 40 semanas até as eleições de 2018.