Theatro Municipal: delator disse que ex-secretário de Haddad confiava no diretor e não sabia de esquema de corrupção (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 25 de agosto de 2016 às 08h53.
São Paulo - O ex-diretor do Instituto Brasileiro de Gestão da Cultura (IBGC), William Nacked, fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Estadual (MPE-SP), que investiga um esquema de corrupção que desviou pelo menos R$ 15 milhões da Fundação Theatro Municipal.
Ele se comprometeu a devolver mais de R$ 3 milhões desviados do esquema e citou o ex-secretário da Cultura da gestão Fernando Haddad (PT) Juca Ferreira.
Nacked é apontado pelos promotores como um dos principais integrantes do esquema, ao lado do ex-diretor do Municipal, José Luiz Herência - que também fez acordo de delação premiada e se comprometeu a devolver R$ 6 milhões - e do maestro John Neschling, que nega as acusações dos delatores.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o acordo de Nacked foi homologado pela Justiça e ele já prestou mais de 20 horas de depoimentos aos promotores do Grupo Especial de Delitos Econômicos (Gedec).
O IBGC é a organização social (OS) responsável pela gestão do teatro. O esquema de desvio de recursos teria começado quando Herência foi nomeado diretor da Fundação Theatro Municipal, em 2013.
Em depoimento, Nacked afirmou que o então secretário Juca Ferreira assinava autorizações para aumentar aditivos nos contratos do teatro, a pedido de Herência, mesmo sabendo que havia problemas na gestão do Municipal.
Ferreira não sabia do esquema de corrupção e autorizava os pagamentos por confiar na administração de Herência, conforme o delator.
A investigação apurou que os contratos eram superfaturados. Ferreira também insistiu para que Haddad nomeasse Herência como diretor da Fundação Theatro Municipal por acreditar que ele era tinha qualificações para o cargo.
Nacked disse também que o secretário de Comunicação Social da Prefeitura, Nunzio Briguglio Filho, atuou na Prefeitura para a contratação do IBGC, do espetáculo Alma Brasileira (que foi parcialmente pago e nunca exibido) e para a contratação da produtora Olhar Imaginário, que recebeu R$ 540 mil para produzir vídeos sobre o Municipal que só foram postados no YouTube.
Ainda segundo o delator, o maestro Neschling obtinha vantagens de outra natureza. Ele usava de sua influência como diretor artístico do teatro para contratar artistas e produtores de fora do País com cachês elevados que, posteriormente, o contratavam para apresentações no exterior, em uma espécie de "toma lá, dá cá".
A Promotoria investiga, por exemplo, a relação de Neschling com seu empresário, o produtor argentino Valentin Proczynski, que foi contratado para montar dois espetáculos no teatro neste ano - Lady Macbeth e El Amor Brujo. Durante as réstias desse segundo espetáculo, feitas em junho, nem o maestro nem o produtor estavam no País.
O ex-secretário de Cultura Juca Ferreira (que também foi ministro da Cultura do governo Dilma Rousseff) não foi localizado pela reportagem.
Em depoimento aos promotores, ele confirmou que assinou as autorizações para pagamentos de aditivos, mas que desconhecia o esquema de corrupção. Em entrevistas, disse que se sentiu "traído" por Herência.
O secretário Briguglio informou que já prestou todos os esclarecimentos à CPI do Teatro Municipal. Os advogados de John Neschling afirmam que as acusações não têm credibilidade e ele nunca se envolveu em ilícitos.
Os advogados de Nacked informaram que "vão se manifestar apenas nos autos do processo".
Na quarta-feira, 24, a CPI pretendia fazer uma acareação com os investigados. A medida foi cancelada porque Neschling e Nacked não compareceram. O produtor da Olhar Imaginário também não.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.