Conheça a região de onde devem sair as próximas safras premiadas de café
Com altitude elevada, clima ameno e água em abundância, a Serra do Cabral, em Minas Gerais, atrai investidores – e se consolida como a nova fronteira agrícola do café
EXAME Solutions
Publicado em 3 de maio de 2024 às 18h45.
Última atualização em 13 de maio de 2024 às 19h37.
Em 2023, pela primeira vez na história, o Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais ultrapassou a marca de R$ 1 trilhão. A agropecuária foi o setor que mais contribuiu para esse avanço, com alta de 11,5% em relação a 2022.
O bom desempenho se deve, principalmente, por conta da alta produção de café. No ano passado, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção do grão cresceu 32,1% em relação ao volume colhido na safra anterior, especialmente devido ao aumento na área de produção, do ganho de produtividade e das melhores condições das lavouras após as últimas safras.
Responsável por mais de 50% da produção nacional do grão – especialmente do tipo arábica –, Minas Gerais abriga grandes e pequenas plantações, de norte a sul do estado. E apesar da consolidação desse mercado, ainda existem áreas inexploradas sendo descobertas.
Uma delas é a Serra do Cabral. Escondida em meio a um maciço montanhoso, no centro-norte mineiro, muitos produtores vêm encontrando, na região, as condições perfeitas para o cultivo do café.
Por que a Serra do Cabral é tão especial?
Com uma altitude elevada, entre mil e 1,2 mil metros, clima ameno – com dias quentes e noites frias –, e muita disponibilidade hídrica, a região vem brilhando os olhos de fundos de investimento como o de Harvard e o de Pensão Canadense (PSP) que, juntos, somam 8,6 mil hectares de área cultivada.
A região tem atraído também grandes empresas, como a Veloso Coffee, uma das primeiras a desbravar a região. Em 2023, a companhia ganhou notoriedade ao conquistar o segundo lugar do Cup of Excellence, o mais importante concurso de qualidade de cafés do mundo.
Além da Veloso, se instalaram na Serra do Cabral outras produtoras do grão, como Família Zancaner, Funchal, Ricardo Tavares e a Cedro Agro – esta última, recém-chegada, mas com uma meta ousada: a de se tornar uma das dez maiores produtoras de café de alto valor do mundo.
“A Serra do Cabral é uma nova fronteira agrícola”, diz Luis Carlos Casim Stein, diretor de agronegócio da empresa que, além de investir no café mineiro, vem apostando suas fichas na plantação de soja e milho na Bahia.
Parte do Grupo Cedro, holding que também atua nas áreas de mineração, real estate e saúde com a Biomm,a Cedro Agro já investiu R$ 200 dos R$ 500 milhões previstos em uma das três fazendas que comprou na região, onde desenvolve novas tecnologias --mais modernas e sustentáveis --de plantio e irrigação. Juntas, elas devem somar 4,1 mil hectares plantados (área equivalente a cerca de 4 mil estádios do Maracanã).
A iniciativa da Cedro faz parte do modelo estratégico do grupo baseado na diversificação de negócios a partir de projetos greenfield, com ênfase em inovação, alta gestão e sustentabilidade.
A expectativa é de que das três fazendas na Serra do Cabral saiam em torno de 200 mil sacas nos próximos seis anos – 80% delas para exportação e 20% para consumo interno.
“A gente tem visto um consumo crescente em países como Estados Unidos, Rússia e China”, afirma Casim. Ele traz um fato curioso: “Os chineses, que já são apreciadores de chá, estão se abrindo agora para o café arábica, que é mais suave e adocicado. Isso gera novas oportunidades para o nosso mercado.”
Confira, a seguir, nosso tour por uma das fazendas de café da Cedro.
Produção sustentável
Para suprir a demanda interna e agradar o mercado externo, a Cedro Agro e outros produtores da região investem em práticas sustentáveis, como a irrigação por gotejamento – capaz de poupar até 30% de água –, bem como a preservação de boa parte das fazendas e a adoção da agricultura de precisão.
“Solos diferentes exigem diferentes níveis de nutrientes, então coletamos dados para uma lavoura mais uniforme e uma melhor produtividade”, explica o engenheiro agrônomo Vitor Hugo da Silva Castro.
Engenheiro agrônomo e gerente-geral da Cedro Agro, João Emílio Duarte Mathias completa: “Além desse controle, usamos tecnologias como plantio por GPS e curvas de nível para movimentar o mínimo possível a camada de superfície do solo. São tecnologias das quais a gente não abre mão”.
O próximo passo da Cedro Agro é a conquista do selo da Rainforest Alliance. Em fase final, o certificado atesta o respeito da empresa às melhores práticas sociais, ambientais e de governança. “Trazer esse selo para dentro da fazenda é extremamente importante e mostra que estamos produzindo com responsabilidade”, afirma Castro.
Gerando renda
Em Francisco Dumont, a primeira fazenda da Cedro, a colheita de estreia deve acontecer em maio deste ano. A expectativa dos mais de 100 colaboradores diretos e outros 76 indiretos é grande.
Moradores de regiões próximas como Francisco Dumont, Joaquim Felício, Buenópolis e Bocaiúva, muitos deles encontraram, no plantio do café, uma oportunidade de se especializar e fazer carreira no agro.
“Muitas pessoas estão tendo a oportunidade de aprender a trabalhar com trator, com uma colheitadeira, com agricultura de precisão. E isso tem gerado empregos e retenção de mão de obra na região. Tem muita gente retornando para casa porque agora vê uma perspectiva. Além disso, a nossa média salarial é acima do mercado – uma prova de que, aqui na Cedro Agro, as pessoas têm não só oportunidades, como também seus talentos valorizados”, diz Mathias.