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(Gage Skidmore/Flickr)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 7 de janeiro de 2025 às 17h01.
Última atualização em 7 de janeiro de 2025 às 18h22.
A advogada Brooke Rollins foi indicada pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para liderar o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Sua nomeação será avaliada pelo Senado americano nos próximos dias, etapa necessária para confirmar sua posse.
Rollins foi a última escolha do republicano, em um movimento que surpreendeu, já que a expectativa, segundo a CNN americana, era de que a ex-senadora Kelly Loeffler assumisse o cargo.
Atualmente, Rollins é presidente e CEO do America First Policy Institute (AFPI), um think tank conservador e sem fins lucrativos fundado em 2021.
Em uma rede social, a nova secretária de Agricultura declarou: “Será uma honra lutar pelos fazendeiros americanos e pelas comunidades agrícolas do nosso país”.
Rollins assume o comando do USDA em um momento de tensão para muitos agricultores americanos. O aumento dos custos para os produtores locais e a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China serão desafios centrais e exigirão total atenção da nova secretária.
Durante a campanha, Trump prometeu à Federação Americana de Departamento de Agricultura (AFBF, na sigla em inglês) — a principal organização que representa agricultores, pecuaristas e comunidades rurais nos EUA, com presença em mais de 2,8 mil condados — que combaterá barreiras comerciais consideradas “injustas”.
Natural do Texas, estado líder nacional na produção de gado bovino e grande produtor de algodão, Rollins iniciou sua carreira na Hughes & Luce LLP, um escritório de advocacia em Dallas que posteriormente se fundiu com a K&L Gates.
Após sua atuação como advogada, foi presidente e CEO da Texas Public Policy Foundation (TPPF) por 15 anos — a TPPF é uma entidade que busca influenciar a opinião pública em favor de pautas conservadoras, como a privatização do sistema educacional e o combate à transição energética.
Segundo Trump, a política de incentivo à transição energética da gestão Biden encareceu os derivados do petróleo, o que inclui insumos agrícolas, como fertilizantes e defensivos agrícolas.
Rollins também trabalhou como diretora de políticas do ex-governador do Texas, Rick Perry. Em 2018, foi nomeada assistente do presidente para Iniciativas Intergovernamentais e Tecnológicas e diretora do Office of American Innovation.
Permaneceu nesses cargos até maio de 2020, quando foi indicada por Trump para liderar o Domestic Policy Council, um órgão consultivo da Casa Branca responsável por assessorar o presidente na formulação de políticas internas em áreas como saúde, educação, infraestrutura, habitação, segurança pública e questões sociais — Rollins ocupou essa posição até o final do primeiro mandato de Trump.
Após a saída de Trump da Presidência, Rollins cofundou o America First Policy Institute ao lado do ex-assessor de Trump Larry Kudlow.
“É uma nomeação que vai fortalecer a base ideológica do governo Trump e todo o seu ideário, especificamente para a proteção do agricultor de médio porte e do grande produtor agrícola americano, sobretudo em um mundo geopolítico tão instável como estamos presenciando”, diz José Luiz Pimenta Júnior, diretor de Comércio Internacional e Relações Governamentais na BMJ Associados.
Segundo Pimenta, a escolha de Rollins foi estratégica por causa de seu bom trânsito em Washington, fator que teve peso significativo em sua indicação, aliado à sua visão conservadora e mais protecionista.
“Trata-se de uma pessoa com amplo conhecimento e experiência no cenário político americano. Alguém que conhece muito bem os meandros de Washington e da política dos EUA e agora assume uma posição de liderança em um setor fundamental para a economia americana”, afirma o diretor.
Entre as estratégias citadas por Trump durante a campanha está a edição do "Trump Reciprocal Trade Act", que prevê medidas de reciprocidade para derrubar barreiras comercias e priorizar os produtores americanos em detrimento de fornecedores estrangeiros terceirizados.
Durante seu primeiro ano no governo Trump, Rollins desempenhou um papel importante no apoio ao First Step Act, projeto de lei que promoveu uma reforma no sistema de justiça criminal e foi sancionado em dezembro de 2018.
Enquanto esteve à frente da Texas Public Policy Foundation (TPPF), Rollins liderou ações como o processo judicial para anular o Affordable Care Act (ACA), conhecido como Obamacare, uma lei de reforma da saúde promulgada em março de 2010 pelo então presidente Barack Obama. Além disso, ela influenciou diversas iniciativas políticas conservadoras no Texas.
Durante as eleições de 2024, a organização liderada por Rollins, assim como ela própria, participou ativamente da campanha, contribuindo com pautas políticas.
A America First Policy Institute, por exemplo, publicou uma agenda com 10 "pilares", defendendo que “os cidadãos americanos precisam de políticas que os coloquem em primeiro lugar, e não que dificultem suas vidas”.
Por outro lado, o site da AFPI apresenta poucas informações específicas sobre como a organização aborda a política agrícola, limitando-se a apoiar a proibição da propriedade de terras agrícolas por chineses nos EUA.
Se confirmada no cargo, Rollins terá a responsabilidade de supervisionar o orçamento anual de US$ 430 bilhões do USDA, além de exercer influência significativa na indústria alimentícia.
Como secretária de Agricultura, ela pode colaborar diretamente com Robert F. Kennedy Jr., indicado por Trump para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), cuja atuação deverá impactar fortemente as indústrias alimentícia e agrícola.