Por que as vacas da Nova Zelândia estão tomando kombucha?
Os animais começaram a tomar um coquetel tipicamente associado aos hipsters de Nova York, Londres e de outras partes do mundo
Mariana Martucci
Publicado em 28 de abril de 2021 às 18h15.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 18h34.
As vacas da Nova Zelândia começaram a tomar um coquetel tipicamente associado aos hipsters de Nova York ou Londres.
Com um produto chamado Kowbucha , em referência à popular bebida fermentada kombucha, um dos maiores produtores de laticínios do mundo, a Fonterra Cooperative Group, testa se pode reduzir a quantidade de metano expelida pelas 4,9 milhões de vacas do país.
O suplemento é mais uma iniciativa de pecuaristas do país para resolver um problema cada vez mais urgente das emissões do gado, já que o país busca se tornar neutro em carbono. Ao contrário da maioria das economias desenvolvidas, a Nova Zelândia depende muito da agricultura, especialmente de vacas e ovelhas, portanto, enquanto outros se concentram na redução do dióxido de carbono, o país tem um problema muito maior com os gases produzidos no estômago dos animais.
A Fonterra tem culturas que produtores usam desde a década de 1920 para fazer queijos e iogurtes e agora testa quais podem reduzir a quantidade de metano que as vacas arrotam quando digerem grama e ração.
“As fermentações produzidas por essas culturas podem ter efeitos drásticos na digestão, não apenas em humanos, mas em animais”, disse Jeremy Hill, cientista-chefe da cooperativa. O Kowbucha é um dos possíveis candidatos para a cooperativa de laticínios, que também busca outras opções, incluindo algas marinhas.
A tecnologia ainda está em estágio inicial de pesquisa e, como outras soluções potenciais para o problema dos bovinos, enfrenta dúvidas sobre como implantá-la nas pastagens onde as vacas passam a maior parte de seus dias e se os agricultores teriam condições de pagá-la. Mas é fundamental para a Nova Zelândia se o país quiser zerar as emissões de carbono.
O metano, feito de carbono e hidrogênio, é até 56 vezes mais potente do que o CO2para o aquecimento global, quando medido em 20 anos. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, apoiado pelas Nações Unidas, estima que uma redução global do metano de 40% a 45% até 2030 é necessária para limitar o aquecimento global a 1,5 °C. Além disso, como o metano permanece na atmosfera por apenas uma década, a redução de sua produção pode resultar em um ganho relativamente rápido em comparação com o CO2, que dura séculos.
“Se não abordarmos a agricultura, nunca alcançaremos essas metas de baixo aquecimento”, disse Drew Shindell, principal autor de um artigo de pesquisa das Nações Unidas sobre o metano.
A Avaliação Global do Metano, que deve ser publicada na próxima semana, mostra que reduzir as emissões de metano causadas pela atividade humana em 45% até 2030 evitará quase 0,3 °C de aquecimento global até a década de 2040.
Mas a ciência por trás da redução dos gases digestivos das vacas é muito mais difícil do que conter outras emissões de metano, como queima em campos de petróleo e gás ou vazamentos em aterros sanitários. Vacas e outros ruminantes utilizam micróbios em seu estômago para decompor fibras duras que os humanos não conseguem digerir. Conter o metano que produzem como resultado requer ajustes na biologia e fisiologia dos animais.
Essa é uma das razões pelas quais pecuaristas da Nova Zelândia precisam ajustar a rota para fazer sua parte na prevenção de mudanças climáticas catastróficas, de acordo com a Comissão de Mudanças Climáticas independente do país.
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