Na COP 28, a busca por milho e trigo mais resistentes a mudanças climáticas e guerras
Bram Govaerts, diretor geral da organização internacional, concede entrevista à EXAME Agro e alerta para necessidade de cultivares mais resistentes
Repórter de Agro
Publicado em 6 de dezembro de 2023 às 09h35.
Última atualização em 6 de dezembro de 2023 às 09h40.
DUBAI, EMIRADOS ÁRABES – Discutir a segurança alimentar no mundo inclui refletir sobre a genética das sementes que estão sendo plantadas. À medida que a resiliência hídrica dos solos apresenta alterações, a performance para o grão germinar também pode mudar. É por isso que o Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT) também está na COP28. "No passado, focamos muito em eficiência. Hoje, precisamos focar em resiliência", diz Bram Govaerts, diretor-geral da organização em entrevista exclusiva à EXAME Agro. "Isso não significa ser ineficiente, mas produzir com a menor pegada de carbono, uso de água."
A organização é responsável por 50% do melhoramento de trigo e milho cultivados em todo o mundo, gerando benefícios de cerca de US$ 4 bilhões de dólares anuais para o Sul Global. Diante da relevância, o CIMMYT acompanha a agenda climática para entender como a genética das culturas pode continuar levando alimento e renda para populações ao redor do planeta.
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Govaerts afirma que o banco genético de milho e trigo precisa ser mais eficaz e equitativo, a fim de atender as especificidades nos mais de 40 países em que o centro atua – seja no Brasil, na Etiópia ou na Ucrânia.
“Buscamos utilizar novas abordagens científicas no melhoramento de plantas e na agricultura em geral, seja na edição genética ou na melhoria ambiental, que proporcionam aumentar o envolvimento das comunidades agrícolas”, ele afirma.
O CIMMYT tem uma atuação relevante no Hemisfério Sul, o que requer pesquisas em biodiversidade.Govaerts conta que existem no mundo cerca de 28 mil cultivares de trigo e 140 mil de milho tolerantes à seca e ao mesmo tempo com nível alto de nutrição.Ainda assim, ele ressalta que é preciso aumentar os esforços para a resiliência das sementes frente à mudança do clima.
As duas culturas estão entre as principais fontes de alimento para populações de países em desenvolvimento – sendo, muitas vezes, os únicos alimentos disponíveis para as áreas rurais. É por isso que garantir o cultivo e a colheita, mesmo diante de alterações de comportamento do solo, se faz tão necessário.
“Mudanças climáticas estão impactando pequenos produtores, com secas e o aumento de doenças, então isso inspira novas pesquisas principalmente aos produtores de pequeno porte”, afirma Govaerts.
No caso do milho, o executivo entende que a ciência caminha para atender tanto a demanda da alimentação quanto da geração de energia, por causa do etanol.
“O Brasil, é claro, é um exemplo de país que tem diferentes genéticas para combustível e alimento, e pode contribuir na parceria para compartilhar a biodiversidade e desenvolver essas variedades resistentes”, diz o diretor-geral do CIMMYT.
Em relação ao trigo, ele cita a dedicação a novas variedades resistentes ao calor e a menores volumes de água. A cultura, antes somente dedicada a baixas temperaturas, passa por adaptações nas áreas tropicais do planeta.
“Precisamos diversificar e focar em resiliência, porque será preciso produzir cada vez mais com mais eficiência e usando menos recursos, para diminuir o impacto das mudanças climáticas – inclusive olhando para o caso da guerra entre Rússia e Ucrânia”, diz.
Autossuficiência dos países
Também por causa do clima, depender da produção alimentar alheia tem se tornado um risco em âmbito global. É por isso que a busca por autossuficiência dos países tem aumentado, principalmente para milho, trigo e arroz, segundo Govaerts.
“Essas são as maiores culturas provedoras de energia. Definitivamente vemos isso na Etiópia, Nigéria, México e Brasil. Os países têm a oportunidade para compartilhar conhecimento de variedades e desenvolvimento de mercado, para que os produtores, além de produzir, tenham a cadeia de suprimento bem estabelecida até chegar ao consumidor”, afirma.
Ele incentiva que a maior troca de experiência entre os países do Sul Global, como “um novo modelo que precisa se desenvolver mais”.
“China, Brasil, Argentina devem colaborar mais, já que têm muitos problemas parecidos, e os países desenvolvidos no Norte deveriam investir nas necessidades do sistema do Sul, porque precisarão cada vez mais dos alimentos provenientes dessa região”, diz.