Mais de 1,3 milhão de pecuaristas colocam o Brasil na liderança das exportações de carne
OPINIÃO | No Dia do Pecuarista, Paulo de Castro Marques faz um raio-X dos diferentes perfis de pecuaristas no Brasil e diz que "momento não é de comemoração, mas de redução de despesas"
Selecionador de genética pecuária
Publicado em 15 de julho de 2023 às 15h48.
Última atualização em 29 de agosto de 2023 às 19h32.
A pecuária brasileira é um gigante responsável pela produção anual de 9 milhões de toneladas de carne bovina. Desse total, 25% são exportados para mais de 150 países, consolidando o Brasil como o líder no comercial mundial.
Nem sempre foi assim. Até a década de 1980, o país era importador de carne. Aliás, um dos maiores compradores no mercado, até então, liderado pelos Estados Unidos e a Austrália. Entrou para a história o sumiço do gado durante o Plano Cruzado, em 1986, quando o governo confiscava animais para colocar carne na mesa dos brasileiros, já que os preços externos batiam recordes.
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Já nesse tempo, o boi era um ativo importante. E permanece sendo. Somente em exportações, a receita no ano passado foi de US$ 13 bilhões.
Na base dessa, que é a atividade animal com o maior Valor Básico de Produção -- R$ 138 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária --, está mais de 1,37 milhão de pecuaristas, informa o IBGE. Mais de 90% são micro, pequenos e médios criadores. Os micro e pequenos têm, em média, até 100 animais e vivem basicamente de subsistência. Os menores criam poucas cabeças para se alimentar. Os pequenos ensaiam vendas eventuais para geração de renda adicional.
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Em comum, esses grupos têm o baixíssimo investimento em tecnologias, especialmente em termos de animais de qualidade genética razoável. Da mesma forma, oferecem resíduos para alimentação e cuidam do essencial em termos de saúde do gado.
Os médios criadores, de até mil cabeças, estão na transição. Uma parte também não investe em melhoramento genético ou oferece insumos para alimentar e cuidar dos animais. Outro tanto já ensaia uma certa preocupação com a qualidade, adquirindo animais para melhorar o ganho de peso. Para isso, estes já investem na comida e protegem os animais contra as principais enfermidades.
Enquanto os micro e pequenos vendem pelo preço que encontram, os médios pecuaristas obtêm melhores condições de negociação, inclusive oferecendo para mais de um frigorífico para obter melhor preço. Nem sempre conseguem, no entanto.
Pecuária comercial
A realidade muda para os grandes pecuaristas. Mesmo representando cerca de 10% do total, são eles que fazem a atividade girar em alta velocidade. Nesse grupo estão tanto os mais importantes produtores de gado para abate quando os chamados selecionadores.
Os representantes da pecuária comercial investem em inseminação artificial por tempo fixo, utilizam somente material genético de padrão superior, compram touros avaliados para colocar com suas fêmeas. Com genética, os animais crescem mais rápido e chegam mais pesados à idade de abate – normalmente por volta dos 24 meses de idade.
Estes produtores respondem por quase a totalidade das 2,3 milhões de toneladas exportadas no ano passado. Para isso, focam no chamado ‘boi China’, de até 30 meses de vida – idade limite para venda da carne para a China (este país importou quase 60% de toda a carne exportada em 2022).
Mas eles também sofrem com os altos e baixos do mercado. O atual momento é de baixa. A arroba do boi gordo, que dita o ritmo do jogo, estava em R$ 253,00 no dia 13.07, segundo levantamento do CEPEA/USP. Mas era de R$ 236,14 um mês atrás e já chegou a R$ 300 no ano.
O momento, portanto, não é de comemoração, mas de redução de despesas, calma e perseverança, pois a virada chegará, porém não é esperada para este ano.
Selecionadores de elite
Os selecionadores também estão nessa elite da pecuária. São os projetos que investem no chamado gado puro de origem (PO), com registro genealógico nas associações credenciadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. A maior delas é a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), com sede em Uberaba.
Os animais PO representam a base da raça, seja Nelore -- cerca de 80% do rebanho brasileiro -- ou qualquer uma das mais de 90 opções genéticas existentes no país. Com uso das mais modernas tecnologias reprodutivas, especialmente Fertilização In Vitro e até clonagem, esses pecuaristas estão no centro das atenções pois seus animais representam o top da pirâmide da atividade.
Para estes, o preço do boi gordo não é exatamente a referência. O que vale é o mérito genético dos animais e qual o seu valor para impulsionar a produtividade da pecuária.
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Em junho, a vaca Viatina-19 FIV Mara Móveis teve 1/3 de sua propriedade comercializado por R$ 7 milhões, projetando sua valorização total em R$ 21 milhões – recorde mundial da raça Nelore. Esse tipo de animal é muito desejado, pois seus filhos e filhas multiplicarão diferenciais importantes para movimentar a pecuária como um todo.
Está em jogo o contínuo aumento da eficiência, do alto rendimento. Com animais superiores, a estrutura da pecuária se fortalece e se torna o motor da produção de carne de qualidade superior, aquela que não apenas a China deseja, mas também o brasileiro, apaixonado consumidor de carne bovina.