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Depois da cana, agetch israelense mira ampliar atuação com IA no Brasil para o setor de grãos

Tecnologia voltada para a soja e o algodão irá cruzar dados e oferecer soluções práticas para o manejo agrícola, como quantidade de água, defensivos agrícolas e fertilizantes

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 24 de dezembro de 2024 às 06h09.

O ano de 2025 deve marcar os planos de expansão da Taranis, agtech israelense especializada no monitoramento de lavouras, no Brasil.

Em um ecossistema composto por 1.953 agtechs, segundo o Radar Agtech Brasil 2023, a startup busca ampliar sua atuação no segmento "Dentro da Fazenda", que reúne 815 agtechs — o segmento faz parte da cadeia produtiva agrícola e inclui soluções voltadas para monitoramento por imagens, sensoriamento remoto, uso de drones e outras tecnologias avançadas aplicadas diretamente no campo.

Segundo Fábio Franco, gerente-geral da startup no país, a meta é expandir os serviços da Taranis para as culturas de soja e algodão. Atualmente, a empresa já monitora 800 mil hectares de cana-de-açúcar, o que representa cerca de 10% da área total dedicada à cultura no Brasil, e processa três milhões de amostras de imagens.

"Nosso novo sistema, o Agri Assistant, será capaz de ler e interpretar e-books e receituários agronômicos, integrando essas informações para propor ações diretas ao agricultor. Diferentemente da inteligência artificial focada na identificação visual (que a empresa já utiliza) e — que reconhece, por exemplo, características específicas em uma imagem —, ele irá cruzar dados e oferecer soluções práticas para o manejo agrícola", diz Franco.

Entre as soluções oferecidas pela Taranis estão o monitoramento do uso de água, a aplicação de defensivos agrícolas e fertilizantes e a identificação de doenças que podem comprometer as lavouras.

Segundo a companhia, não há concorrentes diretos no Brasil quando se considera o tipo de tecnologia e o nível de precisão oferecidos. No entanto, do ponto de vista de similaridade na identificação de pragas, a Cromai é apontada como uma empresa comparável.

Desde 2017, quando desembarcou no Brasil, a Taranis já investiu mais de US$ 100 milhões globalmente, sendo US$ 15 milhões destinados ao país. O Brasil, inclusive, é o seu segundo maior mercado, atrás apenas dos Estados Unidos.

O foco inicial por aqui foi o setor sucroalcooleiro, no qual a empresa se consolidou, registrando um crescimento de cerca de 300% desde a sua chegada.

Segundo o gerente-geral, o faturamento atual de R$ 12 milhões deve crescer 30% até o final do ano fiscal, que se encerra em março de 2025. A companhia também está próxima de atingir o break-even (ponto de equilíbrio).

No setor de grãos e cana-de-açúcar, a Taranis integra um mercado avaliado em mais de R$ 1,2 bilhão no Brasil e US$ 3,5 bilhões no mundo, de acordo com dados fornecidos pela empresa.

A entrada da startup no mercado brasileiro contou com o apoio de investidores como Rodrigo Iafelice dos Santos, uma figura influente no setor, e da gestora Mindset Ventures, especializada em capital de risco focado em startups dos EUA e Israel.

Da cana à soja, passando pelo produtor

Segundo Franco, o produtor brasileiro, especialmente nas culturas de soja e milho, ainda não está totalmente confortável com a adoção de serviços de monitoramento, preferindo realizar as aplicações de insumos por conta própria.

Em contraste, o setor de cana-de-açúcar já utiliza drones e serviços de empresas como para otimizar a gestão de suas lavouras.

“No caso dos grãos, o agricultor brasileiro, em geral, já possui maquinário suficiente e conta com uma mão de obra mais competitiva, o que reduz a procura por serviços de monitoramento. Além disso, o mercado que atende esses produtores é predominantemente formado por distribuidores e cooperativas focados na venda de produtos, e não na prestação de serviços”, diz Franco.

Para Jason Minton, CCO global da Taranis, a estratégia é construir uma rede de suporte ao produtor que vá além do simples monitoramento de imagens.

“A empresa planeja fortalecer sua infraestrutura operacional e ampliar suas equipes comerciais nos próximos anos. Além disso, estamos ativamente buscando parcerias e oportunidades no agronegócio brasileiro para acelerar a eficiência operacional e aumentar a rentabilidade por meio da integração de IA”, afirma Minton.

O serviço da agtech utiliza câmeras instaladas em aviões e drones para capturar imagens com resolução de até 0,5 mm por pixel, permitindo identificar e mapear ameaças como pragas, doenças e deficiências nutricionais. Atualmente, a Taranis conta com uma equipe de mais de 20 pessoas no Brasil.

Taranis no Brasil — e no mundo

Nos Estados Unidos, principal mercado da Taranis atualmente, a empresa anunciou neste ano uma parceria com a Syngenta. Segundo Fábio Franco, gerente-geral, outros acordos estão em andamento e devem ser revelados no próximo ano, incluindo uma colaboração com uma gigante do setor de máquinas agrícolas.

No Brasil, a Taranis firmou parceria com a multinacional Tereos, do setor sucroalcooleiro. Ao longo de três anos, serão monitorados 240 mil hectares de canaviais por ano, com a captura de aproximadamente 800 mil imagens por ciclo. No entanto, a empresa não detalha o ganho financeiro direto para o produtor com a adoção de sua tecnologia.

Além disso, a Taranis está analisando outras parcerias, especialmente no setor de grãos, onde busca expandir sua atuação. Na América do Sul, além do Brasil, a empresa realiza o monitoramento de pastagens no Uruguai e na Argentina.

Na Europa, um dos destaques é o projeto na Alemanha, que envolve a produção de açúcar a partir de tubérculos, como beterraba e batata-doce.

“A Taranis jamais se posicionará como uma substituta de pessoas ou grupos gestores com seus serviços. Nosso objetivo é ser entendidos como uma ferramenta adicional, que oferece robustez, confiança e agilidade para uma tomada de decisão mais assertiva”, afirma Franco.

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