Made in Brazil: o que a imprensa internacional diz sobre o agro brasileiro
OPINIÃO | Uma perspectiva a partir do encontro internacional da imprensa especializada em agronegócios, em Calgary, no Canadá
Repórter de Agro
Publicado em 3 de julho de 2023 às 15h52.
Última atualização em 3 de julho de 2023 às 21h02.
ALBERTA, CANADÁ – A cidade de Calgary, no estado de Alberta, no Canadá, é palco de um encontro internacional de jornalistas – incluindo eu – para discutir, até o dia 4 de julho, a cobertura sobre agronegócios no mundo. Na prática, mais de 300 jornalistas sedentos pela troca de experiências sobre a forma de produzir alimentos e tudo o que é correlato ao setor. Discussões globais, como mudanças climáticas, saúde do solo e menos emissões de gases de efeito estufa, estão no radar das notícias em todos os continentes.
A imprensa coleta uma visão abrangente da cadeia produtiva – da fazenda ao consumidor –, porque consegue acessar fontes, desde produtores rurais até pesquisadores, grandes indústrias e varejo. Entre a velha guarda e a nova geração de jornalistas, há inúmeros consensos em relação aos temas centrais da cobertura da imprensa: adoção do plantio direto, produtos biológicos, desperdício de alimentos, consumo de orgânicos, disponibilidade hídrica, mercado de carbono. Noticiar estes assuntos é um reflexo do que a sociedade discute na contemporaneidade.
Durante viagem pela estrada que liga Calgary a Brooks, ao longo de hectares em plena floração da canola, pude conversar com muitos colegas curiosos e impressionados com a safrinha. O que, para o agronegócio brasileiro, já virou a convencional segunda safra, para o norte-americano é coisa de outro mundo. As condições de clima não o permitem ter um ano inteiro de produção.
Um Brasil para cada
Para muitos dos jornalistas e pesquisadores por aqui, conhecer o Brasil é um sonho, a exemplo dos estados de Mato Grosso e Pará, enquanto há aqueles interessados na expansão do Matopiba ou em ver os grandes cafezais de Minas Gerais. Ao visitarmos áreas produtivas de batata, compostagem para biodigestores e pivôs de irrigação em funcionamento, fiz questão de comentar que temos tudo isso no Brasil. E com qualidade e tecnologia embarcada superiores, com base no que pude comparar.
Um colega da Índia me perguntou sobre a nossa cana-de-açúcar, enquanto o da África do Sul tem acompanhado o papel do Brasil nos BRICS. Os argentinos estão de olho na produtividade do trigo brasileiro, que está aumentando e ameaçando a zona de conforto dos hermanos. Para o francês, o potencial hídrico do Brasil é o mais fascinante e para a jornalista da Austrália não há país no mundo como o nosso.
Jornalistas, professores e comunicadores com quem tenho conversado mostram conhecer os problemas territoriais relacionados ao desmatamento, bem como têm a impressão de que a Amazônia e o Nordeste são ricas regiões, mas com alto índice de pobreza. Frases como “infelizmente, o Brasil se perde na instabilidade política e econômica” e "ouço que o Brasil é uma promessa há 20 anos e ele não decola" também dão o tom das perspectivas.
A sensação é de que, para além das commodities, há um nível de expectativa pelas florestas, frutas, fibras e energia made in Brazil. O interesse da imprensa internacional pelo Brasil, de fato, mostra que estamos no centro da agenda mundial quando os temas são segurança alimentar e climática.
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*A jornalista viajou a convite da Corteva Agriscience para o congresso da International Federation of Agricultural Journalists (IFAJ)