Lavoura de soja: Brasil deve renovar recorde e produzir 178 milhões de toneladas, estima Conab (Freepik/Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 16h18.
A confirmação de que o La Niña pode persistir até fevereiro de 2026 tem gerado preocupações entre os produtores rurais brasileiros, já que o fenômeno climático pode impactar a produção agrícola do país, sobretudo a soja e o milho de segunda safra.
Embora a previsão de um La Niña curto e fraco sugira efeitos climáticos menos intensos, o padrão de chuva tradicional pode não se concretizar, criando incertezas para o setor, avalia Willians Bini, meteorologista e Head de Novos Negócios da METOS Brasil.
"O problema é que, por ser curta e fraca, a atmosfera pode não ter tempo suficiente para se ajustar a essa condição climática global, o que pode impedir que os efeitos tradicionais ocorram como esperado — ou seja, com menos chuva no sul e mais no norte e nordeste. Esse é um dos principais pontos a ser considerado", afirma Bini.
Na quinta-feira, 4, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou uma probabilidade de 55% de que um La Niña fraco se concretize a partir deste mês até fevereiro do próximo ano.
Em meados de novembro de 2025, os indicadores oceânicos e atmosféricos mostraram condições limítrofes de La Niña, e a OMM acrescentou que há uma chance de 65% a 75% de que condições neutras prevaleçam de janeiro a março e fevereiro a abril de 2026.
Embora o padrão La Niña envolva o resfriamento temporário das temperaturas no Oceano Pacífico central e oriental, muitas regiões ainda devem registrar temperaturas mais altas que o normal, o que aumenta as chances de enchentes e secas, impactando as colheitas, segundo a entidade.
O La Niña é um evento climático caracterizado pelo resfriamento das temperaturas no Oceano Pacífico tropical, o que provoca uma série de efeitos climáticos, como chuvas mais intensas na Ásia e condições mais secas em algumas áreas da América do Sul.
O clima incerto já está no radar dos agricultores. Um levantamento da Ag Rural, consultoria agrícola, mostra que o plantio da soja no Brasil atingiu 89%, um volume ligeiramente inferior aos 91% registrados no mesmo período do ano passado.
Segundo a consultoria, embora as chuvas tenham melhorado no Cerrado, o padrão irregular das precipitações ainda resulta em pontos de estiagem, com destaque para Mato Grosso, Goiás, Maranhão e Piauí.
No Rio Grande do Sul, que iniciou a safra com excesso de chuvas, a redução da umidade também entra no radar dos produtores, mas "ainda não se pode falar em perdas de produtividade", diz a Ag Rural.
Há também o impacto da inflação. Na avaliação do BTG, a inflação dos alimentos deve voltar a acelerar no próximo ano, passando de 1,3% para 5,0%, impulsionada pelo ciclo da pecuária e pelos riscos climáticos relacionados ao fenômeno La Niña.
O ponto de consenso entre os meteorologistas, contudo, não é se o La Niña vai ocorrer, mas sim quais serão seus reais impactos no agronegócio.
No caso do Brasil, as atenções estão voltadas para o Centro-Oeste e o Sul, regiões que, juntas, são responsáveis por mais de 80% da produção de soja, com destaque para Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul.
"A expectativa é de menos chuva no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina, o que pode prejudicar a safra 2025/26. Apesar disso, as previsões iniciais para o Centro-Oeste e Sudeste apontavam chuvas dentro da média, mas as projeções mais recentes indicam que essas regiões também poderão enfrentar déficits hídricos", afirma Bini.
Segundo as estimativas da Conab, a produção de grãos no Brasil em 2025/26 deve superar o recorde da temporada anterior, alcançando 355 milhões de toneladas.
Desses 355 milhões, 178 milhões de toneladas devem ser de soja, enquanto o milho deve somar 139 milhões de toneladas.