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El Niño: altas temperaturas provocam atraso no plantio da soja

Especialistas ouvidos pela EXAME Agro relatam que, no Centro-Oeste, produtores já falam em plantar apenas em dezembro e cogitam substituir milho por sorgo

No Centro-Oeste, excesso de calor e falta de chuva atrasam plantio e produtores cogitam entrar com a semeadura apenas em dezembro (Tony Winston/Agência Brasília/Fotos Públicas)

No Centro-Oeste, excesso de calor e falta de chuva atrasam plantio e produtores cogitam entrar com a semeadura apenas em dezembro (Tony Winston/Agência Brasília/Fotos Públicas)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 14 de novembro de 2023 às 10h54.

O receio dos produtores rurais em relação aos efeitos do El Niño se concretizou. O aquecimento das águas do Oceano Pacífico tem refletido calor extremo e seca intensa em São Paulo, Minas Gerais, Mato do Sul e todo Centro-Oeste. Norte e Nordeste também passam por temperaturas fora do padrão, cuja umidade do ar está comprometida. O que todas estas regiões têm em comum: o plantio de soja.

A esta altura do calendário safra, o plantio da soja já deveria estar mais avançado em diversos estados. No Mato Grosso, maior produtor do país, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) aponta que a semeadura chegou a 91,82% na sexta-feira, 10, o que significa atraso de 3,69 pontos percentuais em relação à média dos últimos cinco anos.

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Para quem plantou e falta chuva, o maior receio é perder o investimento em insumos, além de outros custos operacionais. É por isso que etapas como vazio sanitário, manejo do solo e plantio direto precisam ser adotadas, a fim de dar resiliência climática e hídrica para o ambiente que vai receber a semente. 

Em entrevista à EXAME Agro, Marino Colpo, CEO da Boa Safra, relata a realidade que ouve de clientes nas imediações de Brasília. "Aqui, tem cliente que ainda não plantou e quem plantou está sem chuva. Isso dificulta o desenvolvimento do grão e a produtividade e alguns já falam em plantar sorgo no lugar de milho, por causa do atraso nas janelas", diz.

Além disso, alguns produtores consideram iniciar o plantio em dezembro, "algo que não se vê há muitos anos na região". Em cultivares de ciclo longo - que demoram mais tempo para ser colhidas -, a colheita fica para meados de março e abril. Momento em que, numa janela ideal, já deveria estar começando a entrada do milho.

Menos períodos de chuva

Alcides Torres, diretor da SCOT Consultoria, também conhece produtores que ainda não lançaram as sementes na terra, tampouco conseguem afirmar quando será o plantio do milho. A corrida entre safras se deve ao encurtamento do período de chuvas, pois isso influencia produtividade, fluxo operacional, pós-colheita até a logística.

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"Pela extensão territorial que permite diversos climas, o Brasil é menos prejudicado do que os outros países. Mesmo assim, está preocupante. O período de chuva está cada vez menor e, às vezes, o volume pluviométrico é o mesmo. Se chove tudo ao mesmo tempo também não é bom", ele diz.

A mudança do clima mexe também com a umidade e o comportamento do solo. "O clima tem mudado muito, e isso muda toda a biodinâmica do lugar, nas pragas, então a proliferaçção de indutores de doença é enorme. Não podemos ficar jogando inseticida sem parar, então é preciso soluções mais sustentáveis, como sementes mais resistentes, com biotecnologia", afirma.

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