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Corte de fertilizantes ameaça piorar crise mundial de alimentos

No Brasil, maior produtor de soja do mundo, um corte de 20% no uso de potássio pode trazer uma queda de 14% nos rendimentos das safras

Colheita de soja: aumento de importação da China em relação também ao ano passado (Alexis Prappas/Exame)

Colheita de soja: aumento de importação da China em relação também ao ano passado (Alexis Prappas/Exame)

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Bloomberg

Publicado em 2 de maio de 2022 às 15h42.

Por Elizabeth Elkin e Samuel Gebre, da Bloomberg

Pela primeira vez, agricultores de todo o mundo - todos ao mesmo tempo - testam os limites de quão pouco fertilizante podem aplicar sem devastar o rendimento das safras. As primeiras previsões são sombrias.

No Brasil, maior produtor de soja do mundo, um corte de 20% no uso de potássio pode trazer uma queda de 14% nos rendimentos, segundo a consultoria MB Agro.

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Na Costa Rica, uma cooperativa de café que representa 1.200 pequenos produtores prevê que a safra cairá até 15% no próximo ano se os agricultores deixarem de aplicar um terço do normal.

Na África Ocidental, a queda no uso de fertilizantes reduzirá a colheita de arroz e milho deste ano em um terço, de acordo com o Centro Internacional de Desenvolvimento de Fertilizantes (IFDC), um grupo sem fins lucrativos focado em segurança alimentar.

“Provavelmente os agricultores vão cultivar o suficiente para se alimentarem. Mas a questão é o quanto terão para alimentar as cidades”, disse Patrice Annequin, especialista sênior de mercado de fertilizantes do IFDC na Costa do Marfim. “Isso é muito perigoso para muitos governos em nossa região”.

Para bilhões de pessoas ao redor do mundo que não trabalham na agricultura, a escassez global de fertilizantes a preços acessíveis provavelmente parece um problema distante. Na verdade, não deixará nenhum lar ileso.

Mesmo no cenário menos pessimistas, o aumento dos preços dos insumos resultará em colheitas menores e preços mais altos nos supermercados para tudo, desde leite a carne bovina e alimentos embalados, por meses ou até anos.

Nas economias em desenvolvimento que já enfrentam altos níveis de insegurança alimentar, a redução do uso de fertilizantes corre o risco de gerar desnutrição, agitação política e, em última análise, a perda de vidas humanas.

“Estou reduzindo o uso de fertilizantes nesta safra. Não posso arcar com preços tão estratosféricos”, disse Marcelo Cudia, 61, produtor de arroz nas Filipinas.

A cerca de 12.000 milhas de distância, o produtor de soja brasileiro Napoleão Rutilli enfrenta as mesmas escolhas difíceis. “Se os fertilizantes estiverem caros, usaremos menos fertilizantes. Se usarmos menos, produziremos menos”, disse o agricultor de 33 anos. “Os preços dos alimentos aumentarão e todos sofrerão”.

Os agricultores dependem de uma combinação de três nutrientes essenciais – nitrogênio, fósforo e potássio – para alimentar suas colheitas.

Esses insumos sempre foram fundamentais, mas foi apenas cerca de um século atrás que a humanidade aprendeu a fabricar nutrientes à base de amônia produzidos em massa. A descoberta do método Haber-Bosch no início de 1900, que ainda é usado para fazer fertilizantes hoje, permitiu que os agricultores aumentassem muito seus rendimentos. Desde então, a indústria agrícola passou a depender mais de fertilizantes artificiais.

Embora as necessidades do solo sejam diferentes de região para região, a tendência geral é bastante indiscutível: mais uso de fertilizantes traz mais produção de alimentos.

Mas como os custos dos nutrientes sintéticos dispararam – na América do Norte, um indicador de preços está em quase o triplo de onde estava no início da pandemia – os agricultores tiveram que começar a reduzir o uso, às vezes drasticamente. Isso colocou o mundo em território desconhecido.

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