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Como o La Niña deve aumentar o preço dos alimentos no próximo ano

Segundo o BTG, fenômeno climático pode pressionar inflação no Brasil em 2026

Ceasa: inflação dos alimentos pode subir em 2026 (Leandro Fonseca /Exame)

Ceasa: inflação dos alimentos pode subir em 2026 (Leandro Fonseca /Exame)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 6 de dezembro de 2025 às 07h05.

Última atualização em 6 de dezembro de 2025 às 08h59.

A chegada do fenômeno climático La Niña pode resultar em um aumento no preço dos alimentos em 2026. Segundo projeções do BTG, a inflação deve acelerar de 1,3% em 2025 para 5,0% no próximo ano, impulsionada por uma série de fatores, incluindo a dinâmica climática e o ciclo pecuário.

O relatório do banco diz que embora as condições atuais projetem um cenário favorável para grãos, o clima, especialmente os efeitos do La Niña, continua sendo um fator de risco.

Segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de grãos no Brasil em 2025/26 deve superar o recorde da temporada anterior, alcançando 355 milhões de toneladas, com 178 milhões de toneladas de soja e 139 milhões de toneladas de milho.

Na quinta-feira, 4, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou que existe 55% de probabilidade de um La Niña fraco se concretizar entre dezembro de 2025 e fevereiro de 2026.

O fenômeno, caracterizado pelo resfriamento das águas do Pacífico, já está presente e deve persistir até fevereiro de 2026, impactando diretamente a colheita de soja e a semeadura do milho safrinha, o que pode resultar em menor produtividade.

“O problema é que, por ser uma La Niña curta e fraca, a atmosfera pode não ter tempo suficiente para se ajustar à condição climática global, o que pode impedir que os efeitos tradicionais ocorram como esperado — ou seja, menos chuva no sul e mais no norte e nordeste. Esse é um dos principais pontos a ser considerado”, afirma Willians Bini, meteorologista e Head de Novos Negócios da METOS Brasil.

O BTG projeta que o impacto do La Niña será maior nas regiões Sul, que deverão enfrentar temperaturas mais baixas e chuvas abaixo da média. Por outro lado, o Norte, Nordeste e, em menor grau, o Centro-Oeste, devem ser afetados pelo aumento das precipitações.

“Apesar de se esperar um crescimento modesto na safra de soja 2025/2026, o risco de um atraso na colheita da soja e na semeadura do milho safrinha pode prejudicar a produtividade e até mesmo levar a uma redução no plantio. Embora a situação pareça administrável, o clima continua sendo um risco altista para os preços dos alimentos”, diz o relatório.

Ciclo pecuário e os alimentos

Além do La Niña, o BTG Pactual acredita que o ciclo pecuário pode impactar os preços da carne no Brasil.

O ciclo funciona da seguinte maneira: quando há excessivo abate, como ocorreu recentemente, a oferta de bezerros diminui. Com menos animais disponíveis para engorda, o preço do bezerro sobe e, em alguns casos, pode ultrapassar o valor do boi gordo. O aumento eleva o chamado "ágio de reposição", que é o valor adicional pago pela arroba de um animal de reposição em comparação ao preço do boi gordo.

Com o aumento no preço dos bezerros, os pecuaristas tendem a reter as fêmeas no campo, ao invés de abatê-las, na expectativa de que os bezerros nascidos no ano seguinte tenham um valor elevado. Esse movimento é característico do ciclo pecuário, que visa restabelecer o equilíbrio do mercado.

Em 2026, as primeiras projeções indicam uma queda de 7,5% no número de abates de bovinos no Brasil, totalizando 38 milhões de cabeças, segundo a consultoria agrícola Datagro. Apesar dessa redução, o número ainda será um dos maiores dos últimos cinco anos.

O aumento no preço do boi gordo, resultado dessa dinâmica, contribui para a pressão sobre a inflação de alimentos. O BTG prevê uma reversão do ciclo pecuário em 2026, com menor abate de fêmeas e queda da oferta de gado para abate, o que poderá impulsionar ainda mais a inflação no setor.

No mês passado, o preço das carnes subiu 0,21% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país.

No acumulado de 12 meses, a alta foi de 12,24%, impulsionada principalmente pelos aumentos no peito (17,04%) e na capa de filé (16,69%). A picanha, corte tradicionalmente preferido nos churrascos, teve alta de 7,68%.

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