Carne de frango: produção pode aumentar em 2026 (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 30 de dezembro de 2025 às 05h55.
A produção da carne de frango no Brasil deve entrar em um novo ciclo de crescimento a partir do primeiro trimestre de 2026, impulsionada por um avanço mais estrutural da base genética nacional. A projeção é dos analistas Guilherme Palhares e Laura Hirata, do Santander, no relatório Brazil Chicken Tracker, divulgado nesta segunda-feira, 29.
“Acreditamos que o aumento da produção está se deslocando para uma base mais estrutural, com maior contribuição dos fornecedores genéticos”, afirmaram os autores do estudo.
A estimativa do banco está em linha com a expectativa do próprio setor. Segundo projeções divulgadas no início de dezembro pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção de carne de frango no Brasil deve crescer até 2% em 2026, alcançando 15,6 milhões de toneladas.
Para 2025, a previsão da entidade é de um crescimento de até 2,2%, totalizando 15,3 milhões de toneladas ao fim do ano.
As exportações também devem acompanhar esse ritmo. A ABPA projeta crescimento de até 3,4% em 2026, com 5,5 milhões de toneladas embarcadas. Neste ano, o volume previsto é de até 5,32 milhões de toneladas, um aumento de 0,5% em relação a 2024.
No relatório, o Santander analisou a movimentação de matrizes com base nas Guias de Trânsito Animal (GTAs) e destacou o papel de dois hubs genéticos que vêm ganhando relevância: Prata (MG) e Santo Antônio da Alegria (SP).
Na pecuária, matrizes são as fêmeas reprodutoras — como vacas, cabras, ovelhas e aves — que formam a base da produção de novos animais, assegurando a continuidade do rebanho e a rentabilidade da atividade.
Juntas, essas localidades concentram até 18% da produção potencial de matrizes do país, segundo o banco.
A cidade mineira de Prata, com apenas três instalações ativas, responde por cerca de 10% da produção nacional de matrizes. Entre as empresas atuantes no município está a Cobb-Vantress, subsidiária da norte-americana Tyson Foods, uma das líderes globais em proteína animal.
A planta tem produção estimada de 400 mil matrizes por mês, com aves do tipo “great-grandparents” (GGPs) — consideradas bisavós genéticas e de altíssimo valor para a cadeia produtiva.
Já Santo Antônio da Alegria, em São Paulo, foi escolhida pela Aviagen, outra gigante global da genética avícola, para sediar uma operação do mesmo nível genético. O potencial produtivo da planta pode chegar a 4 milhões de matrizes, o equivalente a 8% da capacidade nacional, segundo o relatório.
“Esses dados sinalizam uma possível expansão da oferta de carne de frango a partir do 1T26, de maneira mais estruturada e sustentável”, afirmam os autores.
O relatório também destaca o movimento de retomada da BRF, que vem reativando granjas próprias e contratos com integrados, após um período de reestruturação.
A iniciativa amplia a capacidade de resposta da companhia e fortalece sua atuação no novo ciclo de crescimento da avicultura brasileira.
Apesar da perspectiva positiva para a oferta, os analistas alertam que o avanço da produção precisará ser acompanhado por uma demanda consistente, sobretudo no mercado interno.
A substituição da carne bovina pela de frango será um dos principais fatores a observar, diante dos preços ainda elevados da proteína vermelha.
Em 2026, as primeiras projeções indicam uma queda de 7,5% no número de abates de bovinos no Brasil, totalizando 38 milhões de cabeças, segundo a consultoria agrícola Datagro.
Apesar dessa redução, o número ainda será um dos maiores dos últimos cinco anos, estima a Datagro, consultoria agrícola. Com a redução no número de abates, os preços podem subir em razão de uma menor oferta.
Neste ano, o Brasil deve alcançar um recorde no abate de bovinos, com 41 milhões de cabeças. Além disso, as exportações de carne devem atingir 4 milhões de toneladas em equivalente carcaça (TEC), o que representa um crescimento de 12% em relação ao ano anterior, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
“O mercado segue absorvendo bem a produção atual. A demanda interna será determinante para sustentar preços e margens em 2026”, escrevem os analistas do Santander.
O relatório também observa que, apesar da expansão das matrizes, o mercado de frango ainda opera em equilíbrio, sem excesso de oferta aparente no curto prazo.
A condição, associada ao avanço da genética e à atuação coordenada de grandes players, como BRF, Tyson e Aviagen, deve sustentar a competitividade da avicultura brasileira nos próximos trimestres, avalia o Santander.