Tristão, do Airbnb: As pessoas fazem isolamento social em casas maiores
A empresa americana viu uma mudança no ritmo e no perfil de agendamentos de hospedagens durante a quarentena pela covid-19
Lucas Agrela
Publicado em 18 de junho de 2020 às 17h27.
Última atualização em 18 de junho de 2020 às 18h23.
Além do setor de saúde, a pandemia de coronavírus também afetou duramente o setor de turismo. A Organização Mundial do Turismo da ONU estima que o trânsito de turistas terá queda de 20 a 30% em 2020, o que causaria uma perda que pode chegar a 50 bilhões de dólares. Sempre citada como exemplo de startup inovadora, que aproveitou a capacidade ociosa de lares do mundo todo e roubou uma parcela de mercado da hotelaria tradicional, o Airbnb sofreu um impacto grande e teve que demitir 25% da sua força de trabalho neste ano. Mas, mesmo com a quarentena, as pessoas não deixaram de se hospedar. Elas apenas mudaram seus destinos: as pessoas passaram a fazer isolamento social em casas maiores e na mesma cidade onde vivem.
“Notamos uma demanda crescente por imóveis de três quartos ou mais na mesma cidade onde o hóspede vive. E o tempo da estadia se tornou mais extenso do que antes da quarentena, com 30 dias de duração ou mais. Vimos essa tendência no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. Ou seja, as pessoas de centros urbanos estão usando o Airbnb para fazer isolamento social”, conta Leonardo Tristão, presidente do Airbnb no Brasil desde 2015.
Desde o início da quarentena, os perfis de hóspedes passaram a contar com idosos, famílias em busca de mais espaço para as crianças e estudantes universitários que precisam morar em outra residência enquanto as instituições de ensino estão fechadas. No Brasil, em abril, o número de reservas domésticas de casas e quartos por um período acima de 28 dias foi 34% maior que no mesmo mês do ano passado. Em maio, o aumento foi de 42%.
O aplicativo do Airbnb, disponível para smartphones e também em uma versão web, permite que os proprietários de residências aluguem-as temporariamente para hóspedes que – antes do novo coronavírus – visitavam uma nova cidade a turismo ou a trabalho. O modelo de negócios da companhia está estruturado nessa conexão entre anfitriões e hóspedes e a receita vem de uma parcela do valor transacionado entre eles.
A renda obtida com esses aluguéis temporários é importante para os anfitriões. Mais de dois terços (71%) das pessoas que alugam suas casas ou um quarto no Airbnb no Brasil estão em busca de renda extra para sobreviver. Ao menos, é o que indica um levantamento feito pela própria empresa americana em 2019.
O impacto da pandemia será permanente? Tristão acredita que não. Para ele, mesmo com a pandemia, quando tudo voltar ao normal, as pessoas nunca deixarão de viajar.