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Tesla brasileira? Startup de motos elétricas já fatura mais de R$ 40 mi

A startup Voltz vende motos de até R$ 20,5 mil reais e tem parceria com o iFood

Voltz EVS: motocicleta funciona apenas com bateria, que pode ser recarregada em casa (Voltz/Divulgação)

Lucas Agrela

Publicado em 27 de março de 2021 às 07h00.

Última atualização em 29 de março de 2021 às 09h13.

Percebendo a necessidade de veículos elétricos de baixo custo no mercado brasileiro, Renato Villar fundou a Voltz em 2017 e vende motocicletas elétricas por valores entre 11,5 mil e 20,5 mil reais. A tendência global de eletrificação é puxada pela americana Tesla, liderada pelo bilionário Elon Musk. No entanto, veículos da montadora beiram o valor de 1 milhão de reais no mercado brasileiro atualmente. E mesmo a Tesla não vende motocicletas elétricas, uma vez que os carros são o foco do negócio da empresa.

Com parcerias com empresas de entrega com o iFood , a Voltz busca impulsionar seu crescimento em 2021. No ano passado, a startup faturou 42 milhões de reais e vendeu mais de 3 mil veículos 100% elétricos. As baterias das motos podem ser recarregadas em uma tomada doméstica e oferecem autonomia para circular em ambientes urbanos. Separadamente, a empresa também vende baterias extra que podem ser levadas pelos motociclistas e trocadas para evitar o risco de ficar sem bateria no meio da rua.

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De acordo com a consultoria Global Market Insights, o segmento global de motocicletas e scooters elétricas faturou 30 bilhões de dólares em 2019 e manterá ritmo de crescimento composto anual de 4% de 2020 a 2026, quando irá superar a marca de 40 bilhões de dólares em receita. Um dos principais impulsos do setor é a demanda por redução de emissão de poluentes na atmosfera, e um dos principais entraves é a ausência de postos de recarga de baterias de veículos 100% elétricos.

Em entrevista para a EXAME, Villar conta os planos, desafios e vantagens do negócio de motocicletas elétricas da Voltz no Brasil. Confira a seguir.

Renato Villar, CEO da Voltz: motos elétricas da empresa custam até R$ 20,5 mil (Voltz/Divulgação)

EXAME: Por que apostar em motos elétricas em vez de carros?

Renato Villar: Começamos a montar uma moto inteligente porque queríamos mudar o status quo e os paradigmas de venda de motos. Há empresas que vendem mais consórcios do que motos. Preparamos uma moto que pode ser monitorada e controlada à distância pelo celular. Se uma peça for tirada, ela para de funcionar. Estamos criando uma moto inteligente para que o preço dela caia. Somos uma empresa voltada ao consumidor final. Temos duas lojas presenciais: uma em São Paulo e outra no Recife. As lojas são para o test-ride. A pessoa pode comprar uma moto elétrica e recebê-la em casa. Em cidades menores do interior de SP, temos mais de 60 showrooms que promovem a experimentação das motos e scooters elétricas. Não temos concessionárias entre a empresa e o consumidor final, portanto, a venda é direta. As grandes montadoras não demonstram muito interesse nesse negócio. Viemos para tentar fazer o negócio dar certo.

Como surgiu o negócio?

A Voltz veio de uma empresa de peças para motos, fundada em 2013. Vimos uma tendência de pessoas procurando por uma mobilidade urbana e começamos a Voltz em 2017. O foco inicial era em motonetes para pessoas que buscavam mobilidade urbana e andavam distâncias curtas no dia a dia. No final de 2019, chegamos a um modelo interessante que atendia às necessidades de transporte do brasileiro. O nosso produto já tinha boa autonomia e uma bateria que podia ser carregada em casa. Quando começamos a vender, notamos que o mercado estava mais pronto do que imaginávamos e que ele era maior do que tínhamos antecipado. Na internet, as pessoas procuravam mais o modelo street e começamos também a trabalhar nesse modelo, que representa 50% da frota de motos do Brasil. Lançamos em setembro de 2020, junto com a primeira loja em SP. Ela ia a 60 km/h e tinha 60 km de autonomia. Demos um salto enorme em um ano. A street vai a 120 kmh e tem até 180 km de autonomia. Então, lançamos mais dois modelos da EV1: a Plus e a Sport, que oferecem mais velocidade e autonomia.

É preciso ter carteira de motorista para andar de moto elétrica?

Todo veículo elétrico com mais de 350 W de potência requer habilitação, uma habilitação de ciclomotores ou carteira A, de moto. Todas as nossas motos precisam de carteira de motorista e placa. Já o valor do IPVA depende do Estado. A maioria dos Estados do Nordeste tem isenção. Em São Paulo, há desconto.

Como se dá a fabricação das motocicletas da Voltz atualmente?

Hoje, a moto vem pré-montada da China e é montada em Pernambuco. No segundo semestre, começaremos a montar em Manaus. Estamos comprando máquinas e cuidando de homologações. A capacidade de produção já é boa, mas Manaus dará maior eficiência operacional para viabilizar maior crescimento e até redução de custos, como o IPI. Já temos as licenças e incentivos fiscais para a nossa montadora em Manaus.

Qual foi o faturamento da Voltz em 2020?

Somos uma startup porque ainda somos pequenos e temos um ano de operação efetiva. Apesar de já termos bons números. Em 2020, vendemos 3200 motos, faturamento de 42 milhões de reais.

Quais foram as principais mudanças que foram feitas nas motos elétricas da Voltz no último ano?

O modelo EV1 recebeu muitas mudanças do próprio consumidor, desde o relógio do painel até a seta. Nenhuma montadora faz isso. Esse espírito de empresa pequena e ágil ajuda a romper o modelo antigo do setor.

Qual é o maior entrave para o crescimento da Voltz hoje?

Simulamos mais de 1200 financiamentos por mês para a compra das motos. Não conseguimos aprovar 50% com uma boa taxa de juros. Com isso, as pessoas acabam comprando no cartão de crédito, uma vez que o público consumidor desses produtos é de classes A e B. Hoje, o Brasil não ajuda muito em termos de benefícios para as empresas. Um carro elétrico chega ao preço de um carro de luxo. As pessoas não compram. Vimos que a moto elétrica tem uma boa chance. As pessoas querem mobilidade urbana e notamos que ela pode ser inteligente e sustentável. Sabemos que vamos precisar gerar muito conteúdo a respeito do tema. A maioria das motos do Brasil são de entregadores. Precisamos educar as pessoas sobre o funcionamento das motos elétricas e desmistificar algumas coisas. A motocicleta elétrica anda na chuva, sobe ladeira e tudo mais. Temos um caminho não só de educação, mas de viabilização de venda para todas as pessoas do Brasil. Buscamos parcerias com distribuidoras de alimentos e bebida, assim como com aplicativos de delivery, como o iFood. Unindo consumidores das classes A e B com as nossas scooters e as motos, montamos um ecossistema que torna as motos mais baratas e acessíveis. No fim das contas, buscaremos mais parcerias para disseminar o nosso negócio. Em uma empresa com 5 mil entregadores, que são donos de motos, quando eles notarem que as motos elétricas funcionam, podemos ter 5 mil motos elétricas nas ruas.

A variação do dólar afetou o negócio?

O dólar não está sendo o grande vilão. Ele está no patamar atual há cerca de um ano. O vilão tem sido a cadeia de suprimentos. Muitas empresas ficaram meses paradas e todos acordaram ao mesmo tempo e com muita liquidez. A China não tem aguentado e tem atrasado mercadorias. O frete da China disparou. Isso tem sido um dos maiores empecilhos para o nosso crescimento nos últimos tempos.

Há planos para expandir o negócio para carros elétricos?

O foco inicial é nas motos, que é um mercado gigante e é muito concentrado. Consideramos também os microveículos. A grande maioria dos carros anda com uma pessoa só. Seria algo similar a uma moto, do ponto de vista de engenharia. Acreditamos nesse nicho no futuro. A ideia é atender as pessoas que têm medo de motos. Mas não carros sedãs, como os da Tesla.

Além das motos elétricas, quais são as apostas comerciais da empresa?

A Voltz atua em três frentes: queremos esse ecossistema de veículos inteligentes e interligados. Começaremos a vender as motos sem as baterias, que custam até 40% do preço da moto. E cobraremos uma taxa mensal para ter acesso a baterias alugadas que estão sempre carregadas. Fora isso, teremos uma divisão de estilo de vida, dedicada a cada tipo de consumidor: como os aventureiros e os que buscam mobilidade urbana.

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