O bicampeão paralímpico no salto em distância, Markus Rehm (Foto/Reprodução)
Nas Paralimpíadas, por de trás das engrenagens humanas que tracionam o esporte ao limite, há um reforço sutil, mas por vezes decisivo, da mais alta tecnologia. Tratam-se de próteses, cadeiras de rodas e acessórios, embarcados com materiais sofisticados e de design personalizado de acordo com as características físicas de cada atleta.
Nesta edição do Jogos Paralímpicos de Tóquio ficou claro a importância da pesquisa e aprimoramentos propostos ao longo dos anos, e, em muitos dos casos, por gigantes da tecnologia, que entram nas arenas esportivas para fornecer recursos de última geração.
Um bom exemplo são as toucas de nado Blind Cap, feitas pela Samsung, para atletas cegos. O modelo estava em testes desde 2016, e em Tóquo seu uso foi regulamentado. Adotada por alguns atletas é de funcionamento bem simples: a touca vibra para avisar ao nadador que ele está se aproximando da borda da piscina.
A ideia é que o técnico acione o alerta via smartphone no momento correto para que o atleta realize a virada. O dono da medalha de ouro dos 50 metros livre da classe S11 (para atletas com deficiência visual), o brasileiro Wendell Belarmino, foi um dos que se valeu do recurso durante a prova.
Outra inovação veio da fabricantes de automóveis BMW, que concebeu o projeto tido como o santo graal das cadeiras de rodas de corrida, replicado para os modelos usados por boa parte dos atletas das modalidades de 400 metros e 600 metros do atletismo.
O modelo, feito em fibra de carbono, foi consagrado ainda nos jogos do Rio, em 2016, ao ser usado pela americana 17 vezes medalhista paraolímpica Tatyana McFadden, que levou um ouro para casa no ano em que usou a cadeira.
O destaque desse equipamento é o avanço aerodinâmico, que permite que os atletas se lancem em velocidades de 30 km por hora ou até mais. Além disso, a tecnologia também está nas luvas usadas para empurrar as cadeiras, que são feitas sob medida usando impressão 3D.
Em modalidades como basquete e rúgbi as rodas das cadeiras também são curvadas entre 10 e 20 graus para facilitar as manobras. No rúgbi, praticado para tetraplégicos, elas são feitas em alumínio ou titânio para resistirem a colisões e podem ter uma quinta ou sexta roda, para mais estabilidade e liberdade de manobras. As cadeiras de ataque têm “asas” de alumínio na roda dianteira, enquanto as de defesa possuem um gancho na parte frontal da cadeira para prender o adversário.
E, considerando tamanha integração do humano com a ferramenta que o move, é possível dizer que a tecnologia garante, em alguns casos, o sobre-humano ao usuário.
Um exemplo histórico é Oscar Pistorius, atleta paralímpico sul-africano que tem ambas as pernas amputadas. Ele foi o primeiro a usar uma lâmina de fibra de carbono como prótese, em 2008, em um período em que o equipamento causava espanto pelos ganhos no desempenho.
Em testes, houve a comprovação de que as próteses o tornaram um competidor com eficiência acima até mesmo dos campeões Olímpicos: quando comparado à atletas sem deficiência, Pistorius precisava de um volume de oxigênio 17% menor, por conta das amputações, e ainda contava com o impulso gerado pelo formato das próteses.
O alemão bicampeão paralímpico Markus Rehm, do salto em distância, que também utiliza uma prótese de fibra de carbono em um das pernas, venceu no Mundial de Atletismo do Catar, em 2015, com um resultado que faria dele um medalhista em Tóquio, Rio e Pequim, com um detalhe: em competições para atletas sem deficiência. A constatação dos espostitas é que a tecnologia fez dele um superatleta.
Há também outro aspecto interessante das tecnologias nas Paralimpíadas: é certo que muito do que se vê em pistas, campos ou quadras será incorporado — ou adaptado — para fora delas. Cumprirão, quase como uma continuidade do evento, a função de ajudar outras pessoas com deficiência no pódio da própria vida.