Seis 'videogames cabeça' aclamados pela crítica
A exemplo do que ocorre no cinema independente, é no setor de jogos alternativos, conhecidos como indie games, que surgem os títulos mais ousados e mais repletos de referências
Da Redação
Publicado em 6 de março de 2012 às 22h52.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h25.
O jogo independente The Cat That Got the Milk foi produzido na Inglaterra por funcionários de um estúdio de desenvolvimento de games local. O título conta a história dos gatos que saem à noite para enfrentar aventuras nas ruas de uma cidade fictícia, cuja estética lembra os traços de artistas como Wassily Kandinsky, Joan Miró, Mark Rothko e Piet Mondrian. A trilha sonora do jogo foi composta em estilo minimalista e foi inspirada na obra de Steve Reich, músico nova-iorquino pioneiro do gênero. O game oferece entretenimento por, aproximadamente, 15 minutos. Segundo Helana Santos, brasileira radicada em Londres e uma das envolvidas no projeto, o tempo é um recurso valioso. "Eu adoro jogos, mas não tenho como me dedicar a eles porque exigem muito da gente. Essa foi a razão pela qual decidimos criar um game curto", diz. The Cat That Got the Milk é gratuito e pode ser baixado no site oficial do jogo. Preço: Grátis
Braid é um aclamado jogo independente desenvolvido por Jonathan Blow. O game permite a manipulação do tempo em cenários diversos, que variam de mundo para mundo. O jogador pode, por exemplo, executar uma ação e, caso se arrependa de um golpe ou de um movimento, tem a chance de voltar no tempo para consertar o erro. Ele pode também ir para o futuro para descobrir se a jogada será interessante diante de sua estratégia. A história de Braid é baseada no protagonista Tim, que precisa resgatar uma princesa de um monstro. O jogo é divido em seis mundos muito peculiares, inspirados nas cidades criadas por Italo Calvino, na obra As Cidades Invisíveis. As canções que compõem a trilha sonora de Braid foram compostas pelos músicos Cheryl Ann Fulton, Shira Kammen e Jami Sieber e foram licenciadas junto ao selo independente Magnatune. Desde 2008, quando foi lançado, o game foi premiado por diversas instituições. O mais importante foi o título de "Jogo do Ano" recebido durante a 12º edição do Academy of Interactive Arts & Sciences Awards (AIAS), em 2009. O jogo está disponível nas plataformas Xbox 360, Windows, Mac OS X, Linux e PlayStation 3. Preço: 3,75 dólares
Xilo é um jogo brasileiro ainda em desenvolvimento. Ele está sendo produzido por uma equipe de Campina Grande, na Paraíba, e deve ser lançado durante as festas de São João, em junho. O game foi inspirado na xilogravura, uma técnica artística muito comum no Nordeste. Também traz elementos de literatura de cordel e trilha sonora composta pela banda Cabruêra, conhecida na região por misturar música eletrônica e baião. A trama acontece em torno de Biliu - homenagem ao músico Biliu de Campina, forrozeiro popular na Paraíba -, que ao chegar em casa percebe que sua família está doente. Ele descobre, então, que precisa resgatar pedaços de xilogravura para fazer com que todo mundo seja curado. Na ocasião de seu lançamento, o jogo chegará ao mercado nas versões para computador (PC e Mac), iOS (iPhone e iPad) e Xbox Live. Segundo Rodrigo Motta, integrante da equipe que conta com 11 pessoas, o game é como um sonho que está se tornando realidade. "Crescemos com a literatura de cordel e com o baião. Sempre pensamos em registrar essas histórias e personagens de alguma forma. O jogo foi produzido para isso", diz. Xilo foi um dos vencedores do SBGames 2011, simpósio anual que avalia projetos na área de desenvolvimento e organiza workshops e palestras para a comunidade de jogadores no Brasil.
Limbo foi desenvolvido pelo estúdio independente Playdead, na Dinamarca, e ganhou destaque no mercado mesmo sem a ajuda de um distribuidor de peso. Presente na Xbox Live, PSN e no Steam, o game de plataforma chamou a atenção de críticos de todo o mundo graças aos seus gráficos monocromáticos e à atmosfera de terror, uma clara referência ao cinema expressionista alemão de Nosferatu. O jogo conta a história de um garoto que se aventura em um cenário macabro - o limbo - para encontrar a sua irmã perdida. A solidão é inerente à trama, que em nenhum momento conta com o suporte de trilha sonora, efeitos de áudio ou dicas; o jogador encara sozinho, e no escuro, todos os desafios propostos pelo título dinamarquês. O processo de desenvolvimento de Limbo demandou quatro anos de trabalho e a repercussão acerca de sua proposta fez com que a revista The Atlantic lhe dedicasse um artigo. "Não se trata de um jogo sobre a morte, mas sobre a vida. Ao contrário de qualquer outra forma de expressão, aprendemos sobre o jogo vivendo-o", diz o texto. Outra inspiração para a produção foi a estética dos filmes noir - estilo cinematográfico caracterizados pelo alto contraste -, conforme afirma Arnt Jensen, diretor do game. Em novembro de 2011, o estúdio Playdead anunciou a marca de 1 milhão de downloads em todas as três plataformas nas quais está disponível (PC, PS3 e Xbox 360). Preço: R$ 30,99
Toren ainda não foi lançado, mas já tem uma trajetória de prestígio. O jogo, desenvolvido em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, recebeu menção honrosa do Festival Internacional de Games Independentes (IGF, na sigla em inglês), um dos eventos mais importantes do setor em todo o mundo. O jogo conta a história de uma princesa presa na torre de um castelo que espera ser salva por um cavalheiro. O que difere Toren dos outros jogos, contudo, é que a trama se desenrola a partir da perspectiva da princesa, que sofre um encantamento e passa por todas as fases de sua vida (infância, adolescência e maturidade) enquanto permanece enclausurada. A grande inspiração da equipe, conta Alessandro Carlos Martinello, diretor de arte no projeto, é a obra do artista japonês Hayao Miyazaki, conhecido no Brasil por suas animações A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado. Por ora, a equipe desenvolve o título durante o tempo livre, mas os quatro integrantes do grupo pretendem transformar o projeto paralelo em suas atividades principais em breve. Segundo Martinello, eles já receberam propostas de investimento dos Estados Unidos e de distribuidoras internacionais. A expectativa é que Toren seja lançado para PC, Mac, PSN e Xbox Live em 2013.
O quebra-cabeça The Bridge foi desenvolvido pelos americanos Ty Taylor, engenheiro da Microsoft, e Mario Castaneda, estudante da Universidade de Tecnologias Avançadas, no Arizona. Inspirado em M. C. Escher, o título força o jogador a reavaliar os conceitos da física e perspectiva, manipulando a gravidade para redefinir tetos e pisos através de arquiteturas complexas. A arte do game é baseada em desenhos em preto e branco, feitos à mão, no estilo da litografia. A versão de demonstração do jogo chegou a ser disponibilizada na rede, mas sua distribuição foi interrompida até o lançamento oficial, ainda sem data definida. O processo de desenvolvimento do jogo teve início em 2010 e, desde então, o título foi destaque nos dois principais festivais internacionais do gênero: o IndieCade e o Festival Internacional de Jogos Independentes.