Trabalhador empacota tomates: embalagem é uma solução para combater o desperdício que no Brasil gira em torno de 40% das frutas e hortaliças (Paulo Whitaker/Reuters/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 25 de junho de 2013 às 14h20.
São Paulo - Uma nova embalagem plástica para o acondicionamento de frutas e hortaliças composta de uma bandeja reciclável e uma base articulada e retornável recebeu no início deste ano o IF Design Award 2013, um dos principais prêmios internacionais de qualidade e excelência em desenho industrial. A concepção e o projeto foram do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do Rio de Janeiro, que recebeu a premiação promovida pelo IF Internacional Fórum Design, organização com sede em Hannover, na Alemanha.
A embalagem é uma solução para combater o desperdício que no Brasil gira em torno de 40% das frutas e hortaliças, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). São alimentos que não chegam à mesa do consumidor principalmente porque embalagens inadequadas causam danos e não preservam a integridade desses produtos.
As geometrias das bandejas do INT são variadas, resultado do escaneamento em 3D com câmeras especiais que determina a melhor condição de armazenamento para os diferentes tipos e calibres de frutas contempladas pelo projeto: caquis, mangas, morangos e mamões.
A base, que se dobra e arma com um simples movimento, facilita a logística, além de reduzir o tempo de montagem em relação às caixas convencionais. Os tamanhos disponíveis se ajustam aos pallets usados no país e na Europa, adaptando a solução tanto para uso no mercado interno quanto para exportação. Segundo o designer Luiz Carlos Motta, que coordenou o trabalho, a intenção do INT, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), é fazer a transferência da tecnologia para indústrias interessadas em produzir as embalagens.
“Estamos trabalhando em parceria com indústrias de transformação e elas têm a preferência no licenciamento”, diz ele. O projeto contou com o apoio do Fundo Tecnológico (Funtec) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e foi feito em parceria com a unidade Embrapa Agroindústria de Alimentos, de Guaratiba (RJ), e do Instituto de Macromoléculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A inovação do INT é apenas uma das soluções tecnológicas na área de embalagens criadas no país nos últimos anos por empresas e institutos de pesquisa. A lista é extensa e inclui embalagens fabricadas com biopolímeros recicláveis, sistemas de fácil abertura, métodos alternativos de fechamento, filmes plásticos de alta barreira a gases e latas com formatos diferenciados.
Em essência, todas visam conferir mais segurança, comodidade e praticidade ao consumidor, além de proteger melhor o produto e minimizar impactos ambientais. O Brasil é hoje o sétimo maior mercado global de embalagens, com receita líquida de R$ 46,1 bilhões em 2012, uma evolução de 30% nos últimos cinco anos.
No ranking mundial, o país está atrás apenas de Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França e Canadá. Projeções feitas por consultores especializados indicam que dentro de três anos o país irá ultrapassar o Canadá e a França para assumir o quinto posto. Até lá, é esperado um crescimento médio anual de 6,2%, ritmo superior ao da maioria das nações que encabeçam a lista.
O forte crescimento do setor de embalagens, formado por cerca de 1.100 empresas e que emprega quase 225 mil trabalhadores, a maioria nos segmentos de plástico, papel e papelão, é explicado por vários fatores, principalmente a melhora do cenário econômico e o aumento da renda da população, que tem impulsionado o mercado de bens de consumo. “A inovação é um fator fundamental para o crescimento do segmento”, afirma Maurício Groke, presidente da Associação Brasileira de Embalagem (Abre). Segundo ele, para evoluir, as empresas de embalagem que atuam no país têm usado o design estrategicamente, olhando para o consumidor. “Precisamos desenvolver soluções criativas, aperfeiçoando o design das embalagens e inovando nos processos produtivos”, diz.
Evolução produtiva
Uma evidência de que o Brasil está inserido na cadeia global de embalagens é a presença de mais da metade das 45 maiores empresas de embalagem do mundo no país. “Esse dado confirma o bom nível tecnológico das embalagens que atuam no país”, diz a engenheira de alimentos Claire Sarantópoulos, pesquisadora do Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea) do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), de Campinas, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Apesar disso, a variedade de embalagens encontrada no Brasil, segundo a pesquisadora, ainda é restrita ao perfil do nosso mercado, em que os grandes volumes são de baixo valor agregado. “Temos produtos de alta tecnologia como as latas de alumínio usadas em bebidas, filmes plásticos de alta barreira utilizados na conservação de alimentos e garrafas PET com reciclagem pós-consumo. Contudo, algumas tendências para o futuro ainda são raras no país como sistemas mais sofisticados de fácil abertura, embalagens ativas e inteligentes – que controlam os gases e a umidade ao redor de frutas ou incorporam absorvedores de oxigênio para preservar alimentos e bebidas por mais tempo – e outras tecnologias de rastreabilidade, como as etiquetas de identificação por radiofrequência (RFID).”