Pesquisa estima 7 mi acessos irregulares de TV paga no país
Valor é composto principalmente por conexões piratas, mas inclui também clientes inadimplentes que continuam recebendo o serviço e outras irregularidades
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2013 às 12h03.
São Paulo - De acordo com estudo da argentina Business Bureau apresentado em painel da Feira e Congresso ABTA 2013, existem 24 milhões de residências com acesso a TV paga no Brasil, 7 milhões a mais que as 17 milhões delaradas pelas empresas do setor e reportadas à Anatel. Essa diferença representa o número de residências que recebem sinal de maneira irregular.
O valor é composto principalmente por conexões piratas, mas inclui também clientes inadimplentes que continuam recebendo o serviço e outras irregularidades. O levantamento da empresa foi feito a partir de pesquisas de campo, por telefone e pessoalmente. A pesquisa foi paga pela Turner, Fox, e Chello Media. Não foram dados mais detalhes sobre a metodologia da pesquisa, que surpreendeu operadores e especialistas e mesmo especialistas em pirataria.
De acordo com Antonio Salles, diretor do Seta (Sindicato das Empresas de TV por Assinatura), as conexões piratas ocorrem principalmente de duas maneiras. A primeira é a instalação do serviço em residências sem assinatura por meio de cabos “puxados” de residências pagantes – o popular gato. A segunda é a distribuição de set-top-boxes genéricos, como “AZ Box”, “Azamerica” e “Lexusbox”, capazes de receber o sinal da operadora e decodifica-lo, oferecendo acesso a todos os canais e serviços. Esse segundo modelo, diz Salles, é profissional, tem raízes internacionais e é motivo de grande preocupação para empresas do setor. “Eles são sofisticados, têm grande capacidade logística e de produção e são organizados. Os seus aparelhos parecem muito com os originais das operadoras”.
Segundo Salles, a pirataria é incentivada por uma cultura de buscar a gratuidade nos serviços e por uma percepção de que os serviços das operadoras seriam muito caros ”Mas o que é caro? No valor da mensalidade está a remuneração de produtores, atores, operadoras e impostos. Isso envolve investimentos em aparelhos caros de produção, a construção de redes inteiras de transmissão de sinal e muitos outros investimentos”, questiona. Ele diz que as operadoras agem principalmente de duas maneiras para combater o avanço da pirataria: se organizando em grupos representativos para conscientizar autoridades e com tecnologia, através da criação e constante renovação de códigos de criptografia para o sinal.
Ele diz que o apoio das autoridades ainda é pouco. “Avançamos no campo jurídico, com pareceres muito claros que classificam a pirataria como crime, mas ainda há muito pouca ação efetiva”, diz. Já em relação aos serviços de segurança e criptografia, os grupos que prestam serviços clandestinos acabam descobrindo a chave para abrir a programação. O objetivo, diz Salles, é fazer com que os assinantes irregulares precisem trocar seus aparelhos e atualizar o sistema constantemente, eliminando a vantagem econômica dos serviços irregulares. “Fica um jogo de gato e rato. Mas está surtindo efeito, porque nosso mercado, apesar do avanço da pirataria, continua crescendo no país”, conclui.
Alianza
Em janeiro de 2013, foi criada a Alianza Contra la Piratería de Televisión Paga, grupo formado por representantes do setor de televisão por assinatura da América Latina para combater a pirataria na região. De acordo com Marta Uchoa, diretora do grupo, os aparelhos piratas não são fabricados em nenhum país da região. “Cerca de 90% dos aparelhos ilegais vem de Coreia e China, e são transportados por ar, mar e terra. É um problema de toda a região”, disse ela na ABTA.
Segundo ela, o grupo busca conscientizar autoridades locais. Desde sua criação, já teve participação na abertura de 18 investigações e npve ações que paralisaram a oferta de serviços clandestinos em toda a região. “Cortamos o sinal e monitoramos a reação das pessoas nos fóruns piratas. Há um grande aumento no número de reclamações e manifestações de preocupação e um fórum até fechou por causa disso”, diz. Nesse período, o grupo também comemorou a primeira destruição em massa de decodificadores piratas realizada pelo governo do Paraguai, a primeira condenação em um caso de pirataria de sinal de TV paga na Colômbia, que resultou em pena de 40 meses, e a regularização das zonas francas do Uruguai.
Contudo, combater a pirataria nas ruas, destruindo os set-top-boxes piratas, e cortando o sinal de centrais piratas, pode não resolver a solução. A opinião é de Cristofaro Mune, analista sênior de segurança da Riscure Security Lab, empresa especializada em testar a segurança de equipamentos eletrônicos. De acordo com Cristofaro, que também participou do painel, o pirata consegue acesso às chaves dos códigos de criptografia em set-top-boxes legalizados da própria operadora. “Você pode tomar essas ações e destruir os produtos piratas, mas você estará agindo de forma reativa e não alcançará todos. A pessoa que oferece serviço irregular conseguiu a chave em um decodificador legalizado vulnerável, então é mais fácil agir na raiz do problema, controlando a cadeia de produção e evitando que essa caixa vulnerável chegue ao mercado”.
Para isso, diz, as operadoras devem promover testes constantes e transformar a segurança em um dos principais critérios para a seleção de equipamentos, com a criação de padrões mínimos de segurança. “Você pode conseguir quebrar a segurança do aparelho mas decidir que demorou muito tempo, meses para isso, então ele está aprovado para o mercado. O importante é que você terá como comparar e escolher os equipamentos baseado na sua segurança”, diz.
Segurança dos set-tops
De acordo com Bem Jun, CTO da Criptography Research, o mercado se encontra em um terceiro estágio no desenvolvimento de segurança para set-top-boxes. No primeiro estágio, criaram-se as chaves de criptografia, no segundo, adicionaram os smart cards e em seguida criaram uma combinação de criptografia entre os set-top-boxes e os cartões. “Infelizmente, alguns piratas conseguiram extrair o código direto das caixas, agora o próximo jogo de xadrez será descobrir como garantir a segurança dessas caixas. A tecnologia está sempre evoluindo, e nunca podemos decidir que nossos sistemas são seguros o suficiente”, diz.
Para ele, conforme a complexidade dos set-top-boxes avança será mais difícil garantir a segurança. “Complexidade é fatal, quanto mais features tem o equipamento, como OTT, VOD, e browsers mais complexos, mais possibilidade de existir um bug que comprometa a segurança”. A solução seria criar uma série de barreiras de segurança de hardware e software independentes, de forma que a única maneira de extrair as chaves de criptografia seria passando por todas elas. “É preciso combinar diferentes contribuições de forma que cada componente de segurança não confie no outro. Na realidade, quando desenvolvemos projetos de segurança pensamos que todos os componentes do sistema estão corrompidos, e pedimos para que nossos parceiros façam o mesmo”, conclui.
São Paulo - De acordo com estudo da argentina Business Bureau apresentado em painel da Feira e Congresso ABTA 2013, existem 24 milhões de residências com acesso a TV paga no Brasil, 7 milhões a mais que as 17 milhões delaradas pelas empresas do setor e reportadas à Anatel. Essa diferença representa o número de residências que recebem sinal de maneira irregular.
O valor é composto principalmente por conexões piratas, mas inclui também clientes inadimplentes que continuam recebendo o serviço e outras irregularidades. O levantamento da empresa foi feito a partir de pesquisas de campo, por telefone e pessoalmente. A pesquisa foi paga pela Turner, Fox, e Chello Media. Não foram dados mais detalhes sobre a metodologia da pesquisa, que surpreendeu operadores e especialistas e mesmo especialistas em pirataria.
De acordo com Antonio Salles, diretor do Seta (Sindicato das Empresas de TV por Assinatura), as conexões piratas ocorrem principalmente de duas maneiras. A primeira é a instalação do serviço em residências sem assinatura por meio de cabos “puxados” de residências pagantes – o popular gato. A segunda é a distribuição de set-top-boxes genéricos, como “AZ Box”, “Azamerica” e “Lexusbox”, capazes de receber o sinal da operadora e decodifica-lo, oferecendo acesso a todos os canais e serviços. Esse segundo modelo, diz Salles, é profissional, tem raízes internacionais e é motivo de grande preocupação para empresas do setor. “Eles são sofisticados, têm grande capacidade logística e de produção e são organizados. Os seus aparelhos parecem muito com os originais das operadoras”.
Segundo Salles, a pirataria é incentivada por uma cultura de buscar a gratuidade nos serviços e por uma percepção de que os serviços das operadoras seriam muito caros ”Mas o que é caro? No valor da mensalidade está a remuneração de produtores, atores, operadoras e impostos. Isso envolve investimentos em aparelhos caros de produção, a construção de redes inteiras de transmissão de sinal e muitos outros investimentos”, questiona. Ele diz que as operadoras agem principalmente de duas maneiras para combater o avanço da pirataria: se organizando em grupos representativos para conscientizar autoridades e com tecnologia, através da criação e constante renovação de códigos de criptografia para o sinal.
Ele diz que o apoio das autoridades ainda é pouco. “Avançamos no campo jurídico, com pareceres muito claros que classificam a pirataria como crime, mas ainda há muito pouca ação efetiva”, diz. Já em relação aos serviços de segurança e criptografia, os grupos que prestam serviços clandestinos acabam descobrindo a chave para abrir a programação. O objetivo, diz Salles, é fazer com que os assinantes irregulares precisem trocar seus aparelhos e atualizar o sistema constantemente, eliminando a vantagem econômica dos serviços irregulares. “Fica um jogo de gato e rato. Mas está surtindo efeito, porque nosso mercado, apesar do avanço da pirataria, continua crescendo no país”, conclui.
Alianza
Em janeiro de 2013, foi criada a Alianza Contra la Piratería de Televisión Paga, grupo formado por representantes do setor de televisão por assinatura da América Latina para combater a pirataria na região. De acordo com Marta Uchoa, diretora do grupo, os aparelhos piratas não são fabricados em nenhum país da região. “Cerca de 90% dos aparelhos ilegais vem de Coreia e China, e são transportados por ar, mar e terra. É um problema de toda a região”, disse ela na ABTA.
Segundo ela, o grupo busca conscientizar autoridades locais. Desde sua criação, já teve participação na abertura de 18 investigações e npve ações que paralisaram a oferta de serviços clandestinos em toda a região. “Cortamos o sinal e monitoramos a reação das pessoas nos fóruns piratas. Há um grande aumento no número de reclamações e manifestações de preocupação e um fórum até fechou por causa disso”, diz. Nesse período, o grupo também comemorou a primeira destruição em massa de decodificadores piratas realizada pelo governo do Paraguai, a primeira condenação em um caso de pirataria de sinal de TV paga na Colômbia, que resultou em pena de 40 meses, e a regularização das zonas francas do Uruguai.
Contudo, combater a pirataria nas ruas, destruindo os set-top-boxes piratas, e cortando o sinal de centrais piratas, pode não resolver a solução. A opinião é de Cristofaro Mune, analista sênior de segurança da Riscure Security Lab, empresa especializada em testar a segurança de equipamentos eletrônicos. De acordo com Cristofaro, que também participou do painel, o pirata consegue acesso às chaves dos códigos de criptografia em set-top-boxes legalizados da própria operadora. “Você pode tomar essas ações e destruir os produtos piratas, mas você estará agindo de forma reativa e não alcançará todos. A pessoa que oferece serviço irregular conseguiu a chave em um decodificador legalizado vulnerável, então é mais fácil agir na raiz do problema, controlando a cadeia de produção e evitando que essa caixa vulnerável chegue ao mercado”.
Para isso, diz, as operadoras devem promover testes constantes e transformar a segurança em um dos principais critérios para a seleção de equipamentos, com a criação de padrões mínimos de segurança. “Você pode conseguir quebrar a segurança do aparelho mas decidir que demorou muito tempo, meses para isso, então ele está aprovado para o mercado. O importante é que você terá como comparar e escolher os equipamentos baseado na sua segurança”, diz.
Segurança dos set-tops
De acordo com Bem Jun, CTO da Criptography Research, o mercado se encontra em um terceiro estágio no desenvolvimento de segurança para set-top-boxes. No primeiro estágio, criaram-se as chaves de criptografia, no segundo, adicionaram os smart cards e em seguida criaram uma combinação de criptografia entre os set-top-boxes e os cartões. “Infelizmente, alguns piratas conseguiram extrair o código direto das caixas, agora o próximo jogo de xadrez será descobrir como garantir a segurança dessas caixas. A tecnologia está sempre evoluindo, e nunca podemos decidir que nossos sistemas são seguros o suficiente”, diz.
Para ele, conforme a complexidade dos set-top-boxes avança será mais difícil garantir a segurança. “Complexidade é fatal, quanto mais features tem o equipamento, como OTT, VOD, e browsers mais complexos, mais possibilidade de existir um bug que comprometa a segurança”. A solução seria criar uma série de barreiras de segurança de hardware e software independentes, de forma que a única maneira de extrair as chaves de criptografia seria passando por todas elas. “É preciso combinar diferentes contribuições de forma que cada componente de segurança não confie no outro. Na realidade, quando desenvolvemos projetos de segurança pensamos que todos os componentes do sistema estão corrompidos, e pedimos para que nossos parceiros façam o mesmo”, conclui.