Tecnologia

O fim do paradoxo

Agora é oficial: o computador aumenta, sim, a produtividade da economia

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h34.

Em meio ao ceticismo e ao baixo-astral em que vive a indústria de tecnologia da informação, castigada pela redução dos investimentos corporativos, pela marcha lenta da economia global e ainda pela purgação da exuberância irracional da era da bolha, eis que surge uma notícia boa e inesperada: o professor Robert Gordon, da Universidade Northwestern, de Chicago, nos Estados Unidos, tido como um dos maiores pessimistas em relação aos computadores, acaba de rever suas contas e chegar à conclusão de que a tecnologia da informação foi, sim, a maior responsável pelo aumento de produtividade da economia americana nos últimos anos. E Gordon agora acredita que os ganhos ainda tendem a se espalhar pela economia por um bom tempo.

O debate sobre a importância dos computadores na economia data pelo menos de 1987, ano em que Robert Solow, o ganhador do Nobel de Economia, formulou o célebre paradoxo da produtividade: "Vemos computadores por toda parte, menos nas estatísticas de produtividade". Ao contrário do que ocorreu com outras invenções revolucionárias, como o motor a combustão ou a eletricidade, o resultado dos investimentos em tecnologia da informação simplesmente teimava em não aparecer nos números da economia como um todo, muito embora tivesse feito a fortuna dos vendedores. Parecia até que o computador havia feito a produtividade da economia piorar. Nos Estados Unidos, por exemplo, o crescimento médio da produtividade caiu de cerca de 2,5% ao ano, entre o pós-guerra e a crise do petróleo de 1973, para menos de 1,5% ao ano, daí até 1995, justamente quando todas as empresas se informatizaram. Para quem considera pequena a diferença de 1 mero ponto percentual, é bom lembrar que esse único pontinho pode fazer dobrar o padrão de vida da população em 25 anos, em vez de em 50 anos. É por isso que, no debate sobre produtividade, todo mundo presta atenção na segunda ou na terceira casa depois da vírgula.

De acordo com Gordon, a produtividade da economia americana disparou desde 1995. Até o segundo semestre deste ano, o crescimento anual foi de 2,89%. A contar desde o último trimestre de 1999, o crescimento foi de espantosos 3,31% ao ano, ao mesmo tempo que os investimentos em tecnologia desabaram. Em sua análise dos números, o economista também descobriu que esses ganhos não ficaram mais restritos apenas ao setor de tecnologia da informação, mas começaram a se espalhar por toda a economia. Entre 1995 e 1999, 98% do aumento de produtividade estava confinado a produtores e vendedores da área tecnológica. Ou seja, valia para o computador aquela velha máxima de Millôr Fernandes sobre o xadrez (segundo ele, jogar xadrez serve, acima de tudo, para aperfeiçoar a capacidade de jogar xadrez). Da mesma forma, o computador era ótimo para aumentar a produtividade de quem vendia computador. Mas os números de Gordon para os meses que vão do fim de 1999 a agosto deste ano reduzem para 67% a participação do setor tecnológico nos ganhos de produtividade da economia americana. À medida que os outros setores aprendem a usar a tecnologia e a fazer render o investimento que fizeram durante tanto tempo, tendem a cair o nível de emprego e de investimento. Mas numa segunda fase, diz Gordon, o aumento de produtividade tende a promover uma retomada dos investimentos, do emprego e do crescimento. Depois de se espalhar por outros setores, ainda será preciso esperar também que o bom uso da tecnologia da informação se espalhe pelos outros países, da Europa ao Brasil. Só aí será possível saudar, com justiça, o advento de uma nova economia global.

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