As iniciativas fazem sentido em um País que se tornou o segundo mercado da empresa no mundo, ficando atrás dos EUA e à frente da Índia (Goh Seng Chong/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 23 de junho de 2015 às 08h48.
São Paulo - Com novos investimentos e palavras de otimismo em relação ao Brasil, as empresas de tecnologia parecem seguir na contramão de outros setores da economia, que têm reduzido suas apostas no mercado brasileiro.
O mais recente exemplo é a Motorola, que acaba de divulgar a criação de dois centros de inovação, um deles com investimento de R$ 40 milhões, ao mesmo tempo em que dobrou o número de colaboradores nas áreas de pesquisa e desenvolvimento de 160 para hoje 350 pessoas, que trabalham tanto internamente quanto em instituições parceiras.
Projetos na área também dobraram nesse período, de 15 para 30.
As iniciativas fazem sentido em um País que se tornou o segundo mercado da empresa no mundo, ficando atrás dos EUA e à frente da Índia.
Por trás desse desempenho, está o êxito do Moto G, smartphone que bateu muitos concorrentes no quesito custo-benefício e foi adotado maciçamente pelo consumidor brasileiro.
O mercado de smartphones, em geral, também vende saúde: o crescimento no primeiro trimestre de 2015 foi de 33%, segundo a IDC.
A joia do novo anúncio da empresa é o lançamento de um laboratório de pesquisa, simulações e testes no Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco.
O trabalho com redes 4G será um dos focos do centro. A Motorola tem a intenção de fazer o Brasil "protagonizar" testes de aparelhos para esse tipo de rede, papel que é hoje dos EUA.
Segundo a empresa, são provas complexas que simulam a rede 4G que as operadoras oferecem.
Conhecimento
A Motorola toca uma porção de projetos com institutos de pesquisa terceiros, em áreas como software embarcado, processamento de imagem, tecnologia de serviços de 4G e design.
A empresa tem dois parceiros principais: o Cesar (centro de estudos e sistemas avançados do Recife), entidade que faz uma ponte entre o mercado e a área de pesquisa, e o Instituto Eldorado, ligado à Unicamp.
"Não existe hoje nenhuma empresa autossuficiente, a produção de capital humano e conhecimento é muito grande, procuramos o que tem de melhor por aí", declarou ao Estado José Soares, diretor de desenvolvimento de produtos da empresa. O design também merece atenção entre os novos projetos.
A empresa inaugurou em São Paulo o primeiro Centro de Experiência & Design de Produtos (CXD) no País, com caráter multidisciplinar.
Para coordenar o centro, que terá dez designers, a Motorola chamou o colombiano Ruben Castano.
Segundo ele, o polo de design local será maior que o de Pequim, China, que conta com sete profissionais, mas ainda menor que centros nos Estados Unidos, como em Sunnyvale, Califórnia, e na sede da empresa, em Chicago.
Com tudo isso, é plausível pensar em um celular projetado no Brasil? Os executivos entrevistados não acham impossível, embora ainda seja uma hipótese remota.
E enfatizam que qualquer produto tem de ser pensado globalmente, com as diferenças locais incorporadas em seus respectivos territórios.
Uma particularidade regional também pode atravessar fronteiras. No caso do Brasil, a tecnologia de seleção automática para aparelhos com dois chips é um exemplo de desenvolvimento local que teve aplicação em outros países, como na Índia.
"O Brasil está na ponta da tecnologia Dual SIM (dois chips)", diz Soares. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.