Mark Zuckerberg para presidente dos Estados Unidos?
Ao visitar operários, fazendeiros e almoçar com eleitores de Trump, o CEO do Facebook está em uma viagem típica de políticos
Rafael Kato
Publicado em 16 de maio de 2017 às 12h26.
Última atualização em 16 de maio de 2017 às 13h31.
Reportagem publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível naApp Storee noGoogle Play .Para ler reportagens antecipadamente,assine EXAME Hoje.
Duas coisas chamam a atenção no aniversário de 33 anos deMark Zuckerberg, fundador doFacebook, completado no domingo. A primeira foi o bizarro bolo em formato de bife e costelinhas com que ele comemorou a data. A outra, muito mais relevante, é o fato de ele ter ficado um ano mais perto da idade mínima para concorrer a um cargo que, segundo crescentes boatos, virou seu objetivo de vida — a presidência dosEstados Unidos. QuandoDonald Trumpcompletar seu mandado, dentro de três anos, Zuckerberg já terá 36, e estará, portanto, apto a concorrer ao posto mais importante do planeta.
Os rumores de que Zuckerberg estaria planejando ser candidato às eleições de 2020 se intensificaram nos últimos meses com a viagem que o executivo está fazendo pelo seu país — uma viagem que, por sua agenda, lembra bastante um tour de campanha política.
Nas últimas semanas, o CEO conheceu uma fábrica da Ford e sentou para conversar com estudantes muçulmanos, em Michigan; comeu costelas e frango com bombeiros, em Indiana; se reuniu com um grupo de ex-viciados em ópio, em Ohio, e alimentou bezerros e dirigiu tratadores, em Wisconsin. Tudo exaustivamente documentado com fotos, vídeos e posts em seu perfil no Facebook (é claro) e em uma página criada especialmente para isso: "Mark's Year of Travel" (Ano de viagem de Mark).
O itinerário faz parte do desafio anual do empresário. Zuckerberg sempre escolhe uma meta para alcançar durante o ano com o objetivo de "aprender coisas novas e crescer fora do trabalho". Desafios de anos passados incluíram aprender mandarim, comer apenas carnes de animais que ele mesmo matasse, ler 25 livros e, em 2016, construir um assistente pessoal com inteligência artificial embarcada para ajudá-lo em casa. O desafio de 2017 ganhou contornos, digamos, um pouco mais políticos: "visitar e conhecer pessoas em todos os estados dos EUA até o final do ano".
"Depois de um ano passado tumultuado, minha esperança para esse desafio é sair e conversar mais com as pessoas sobre como elas estão vivendo, trabalhando e pensando sobre o futuro", escreveu ele em post em janeiro. O texto, com referências ao contexto histórico e a seu trabalho de "conectar o mundo", parece ecoar os discursos da classe média americana trabalhadora que teria sido deixada de lado pela globalização. Justamente os 67% de americanos adultos sem ensino superior completo de áreas industriais em decadência que votaram em Donald Trump.
"Ao entrar neste desafio, parece que estamos em um ponto de virada na história. Por décadas, a tecnologia e a globalização nos fizeram mais produtivos e conectados. Isso criou muitos benefícios, mas também tornou a vida mais desafiadora para muitas pessoas. Isso contribuiu para uma sensação de divisão maior do que eu jamais senti na minha vida. Nós precisamos encontrar uma forma de mudar o jogo para que ele funcione para todo mundo", diz o post.
Apesar de Zuckerberg já ter declarado publicamente que não tem intenção de se tornar presidente, os encontros que ele tem realizado durante a viagem não passaram despercebidos e vem alimentando o rumor de que o empresário quer mesmo entrar para a política. A lista de pessoas que o empresário conheceu nas últimas semanas inclui grupos bastante específicos — e normalmente abordados por políticos durante campanhas —, como esposas de militares, veteranos de guerra, líderes religiosos, professores, estudantes e trabalhadores industriais. Além de cobrir alguns dos estereótipos do típico cidadão: fazendeiros, cowboys e donos de pequenos negócios. Em Indiana, ele até saiu para passear de carro com o prefeito de South Bend, Pete Buttigieg, tido como uma promessa do Partido Democrata.
Há uma semana, o executivo apareceu de surpresa para jantar com uma família de Ohio, o casal Dan e Lisa Moore. Ele, um ativista político e independente, que votou duas vezes em Obama antes de optar por Trump no último pleito, e ela uma professora que também ajudou a eleger o atual presidente dos EUA, segundo o site Business Insider. Eles só ficaram sabendo quem seria seu ilustre convidado 15 minutos antes de Zuckerberg aparecer. Antes disso, a equipe do empresário só havia dito que um bilionário filantropo gostaria de jantar com eles em sua casa.
Conforme Dan Moore contou ao Business Insider, Zuckerberg disse estar em uma "missão investigativa" e que percebera no ano passado "que não conheço meu próprio país". Durante o jantar, o CEO afirmou ainda não ter "nenhuma intenção" de concorrer, mas também questionou: "Se eu estivesse em Washington D.C., o quanto eu poderia fazer? Quanto progresso poderia fazer lá?".
É verdade que talvez a presidência — mesmo da maior economia do mundo — seja um passo para trás para um homem que, com menos de 30 anos, já possuía um império bilionário, dono de 77% do tráfego nas redes sociais. No ano passado, o Facebook faturou 27,64 bilhões de dólares com 1,23 bilhão de usuários ativos diariamente. Atualmente, só o Facebook conta 1,9 bilhão de usuários ativos todos os meses — isso sem falar dos 700 milhões no Instagram.
Com uma plataforma global desta magnitude, talvez Zuckerberg, que sozinho possui 90 milhões de seguidores no Facebook, seja capaz de influenciar mais pessoas permanecendo exatamente onde está. Mas não é só a viagem pelos EUA que reforçam os indícios de que ele pretende ser mais que um CEO.
O correspondente especial da revista Vanity Fair Nick Bilton afirmou que várias pessoas influentes do Vale do Silício acham provável que Zuckerberg concorra para presidente algum dia — supostamente em 2024, e não em 2020. "'Ele quer ser imperador' é uma frase que se tornou comum entre as pessoas que o conhecem há anos", escreve Bilton. Se esse for o objetivo, Zuckerberg parece estar tomando passos calculados.
O empresário vem se rodeando de políticos e nomes de administrações anteriores. Recentemente, o chefe da campanha presidencial de Barack Obama, David Plouffe, se juntou à administração da Chan Zuckerberg Initiative, a organização filantrópica que Zuckerberg mantém com sua esposa, Priscila Chan. Além dele, a atual porta-voz chefe da fundação, Amy Dudley, foi diretora de comunicações de uma senadora democrata, e o fotógrafo pessoal do CEO, Charles Ommanney, trabalhou para a Casa Branca durante os dois mandatos de Obama.
Caso o empresário realmente tenha intenção de se candidatar, ele também já limpou o caminho dentro de sua própria empresa. No ano passado, o Facebook mudou as regras do controle acionário, determinando que Zuckerberg poderia manter o controle da companhia, mesmo assumindo um cargo público.
A recente mudança do empresário em relação a sua fé também é um indício de uma possível guinada à política. O empresário, que por anos professou o ateísmo, mudou o tom ao responder uma pergunta se ele era ateísta. "Não. Eu fui criado judeu e depois passei por um período no qual questionei muitas coisas, mas agora eu acredito que religião é muito importante", afirmou, em janeiro.
Seja qual for sua intenção para 2020, suas últimas incursões pelos rincões americanos e falas recentementes não têm passadas despercebidas. "Voltando para casa depois de ótimos dias no Texas. (...) Conheci ministros em Waco que estão ajudando suas congregações a encontrar significados mais profundos em um mundo em mudança. Nós podemos vir de diferentes antecedentes, mas todos queremos encontrar propósito e autenticidade em algo maior que nós mesmos", escreveu Zuckerberg em uma postagem. Talvez, para ele, isso seja a Casa Branca.