Filipe Serrano (editor da EXAME) conversa com Mariano Gomide Faria (cofundador e co-CEO da Vtex) sobre vendas na internet: uma oportunidade na pandemia? (reprodução/Exame)
Lucas Agrela
Publicado em 9 de abril de 2020 às 18h28.
Última atualização em 9 de abril de 2020 às 21h07.
Com a quarentena do novo coronavírus, que levou ao fechamento de lojas físicas, as empresas tiveram de se digitalizar em tempo recorde para continuar a vender seus produtos. Para Mariano Gomide, cofundador e co-CEO da Vtex, empresa brasileira de comércio eletrônico, as empresas tiveram de se adequar em alguns dias a um processo de digitalização que poderia levar cinco anos para acontecer.
“Oportunidades de digitalização de lojas poderiam ter existido sem a crise. Mas algumas empresas tiveram de se adequar rapidamente a um processo que normalmente levaria cinco anos, o que mostra a capacidade de reação da crise do empreendedor brasileiro”, diz Gomide, durante uma entrevista ao vivo concedida ao editor da EXAME Filipe Serrano, na série de vídeos EXAME Talks.
Para Gomide, os empresários brasileiros têm uma resiliência grande a crises e podem ser criativos para revolver problemas que surgem durante a jornada. “Países que nunca tinham vivenciado uma crise como essa estão congelados. A crise para esses empreendedores não é algo normal. O Brasil é campeão de crises e os empreendedores brasileiros podem dar um show nesse momento. A Ri Happy, por exemplo, ficou sem lojas do dia para a noite, sendo que 90% da receita vinha de lojas físicas. Em três dias, transformaram as lojas em centros de distribuição para vender e isso funcionou”, declara Gomide.
A Vtex, que detém clientes em 31 países, compartilhou dados sobre o momento atual: as empresas que se prepararam para crises e reagiram logo conseguiram crescer até 300%, enquanto outras, do mesmo setor, cresceram apenas 20%.
Gomide afirma que, com a crise do coronavírus, as empresas terão oportunidades de ter canais de comércio eletrônico melhores e poderão fazer vendas colaborativas. "Uma empresa da Romênia chamada Miniprix era uma grande loja de moda. Esse setor despencou com a quarentena. Em três dias, a empresa se integrou com outra do setor de suprimentos alimentícios e passou a vender esses produtos. Com isso, voltaram a vender muito", conta o executivo, mostrando como as companhias podem se adaptar em cenários de crise.
O empresário afirma ainda que o comportamento do consumidor irá mudar com a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus na economia global. Com a maior adoção de cartões de créditos e carteiras digitais por parte dos consumidores e melhor preparo dos negócios para vender online, o comércio ficará diferente após a crise. "O toque pode mudar, por exemplo, no uso de uma máquinha de pagamento, porque a preocupação com a higiene será maior após a contenção da pandemia. Isso levará à digitalização das lojas físicas, com aplicativos de pagamento e recibos digitalizados", diz Gomide.
Para ele, até mesmo a frequência das reuniões de conselhos de empresas de e-commerce se tornará maior para discutir estratégias contra futuras crises econômicas. "O empresário precisa estar preparado para o pior cenário possível para que a retomada seja veloz", afirma. O momento pede dedicação total da operação de lojas online. "O empresário de e-commerce que não está trabalhando 16 horas por dia terá menos chances de sobreviver à crise. Isso não é saudável, mas estamos em uma fase de guerra", diz.
Gomide critica a lentidão das universidades em criar cursos preparatórios para formação de especialistas em comércio eletrônico. Por conta disso, a Vtex cria cursos para seus profissionais se especializarem no setor, desse modo, melhorando a qualidade técnica da equipe.
Para Gomide, os shoppings terão de se adaptar e deixar de depender apenas das vendas em lojas físicas e ver o comércio eletrônico como um concorrente. Para o executivo, os shoppings poderão sobreviver como serviços de compras, integrados a lojas digitais. Por causa da postura mais tradicional, os shoppings têm sofrido bastante com a pandemia do novo coronavírus e estão tentando se adaptar, diz Gomide.
Com a crise do novo coronavírus, a economia passou a depender de transportadoras e motoboys, seja de alimentos, seja de compras de supermercado, farmácia ou qualquer tipo de produto vendido via internet. "Vemos muitos motoboys nas ruas, mas as transportadoras também têm heróis que estão trabalhando direto para levar os produtos para as pessoas durante essa crise", disse Gomide.
Com a digitalização do setor de comércio eletrônico, Gomide acredita que os esforços de adaptação das vendas online e de emissão de cartões de crédito trarão resultados positivos para o mercado, não só no Brasil, mais no mundo todo. "México, Brasil e países do Leste Europeu serão os mais beneficiados após essa crise e poderão ser novos centros de serviços do mundo", afirma Gomide.
Confira o vídeo da entrevista a seguir.