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Há um mês no país, Pokémon Go perde vibração da estreia

Perto de completar um mês desde a chegada ao País - a data exata é no próximo sábado -, Pokémon Go continua em alta, alterando um pouco a paisagem urbana


	Pokémon Go: quem passa no quarteirão ao lado do Parque Trianon, consegue ver um grupo constante de 50 a 100 pessoas, todas com os olhos no celular
 (Getty Images)

Pokémon Go: quem passa no quarteirão ao lado do Parque Trianon, consegue ver um grupo constante de 50 a 100 pessoas, todas com os olhos no celular (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 1 de setembro de 2016 às 20h54.

Há alguma coisa fora da ordem no mundo Pokémon: quem passa por pontos movimentados de algumas das grandes cidades do Brasil consegue sentir uma forte vibração no ar.

Perto de completar um mês desde a chegada ao País - a data exata é no próximo sábado -, Pokémon Go continua em alta, alterando um pouco a paisagem urbana.

A euforia dos primeiros dias não arrefeceu, mas a diversão digna de um domingo no parque, com estranhos se conhecendo e interagindo, deu lugar a partidas mais silenciosas e jogadores mais introspectivos e competitivos.

Na última semana, a reportagem do Estado percorreu diferentes pontos da capital paulista onde há grande concentração de pokéstops - locais onde os jogadores do game da Niantic e da Pokémon Company podem encontrar itens - e ginásios, onde as criaturas do game disputam batalhas.

No Parque do Ibirapuera, no metrô Tatuapé e no Parque Trianon, na Avenida Paulista, o comportamento dos jogadores foi bastante parecido - mas muito diferente da estreia do game no País.

Nos primeiros dias, não era difícil ver gente que nunca havia se visto ou conversado na vida fazendo amizade por conta do jogo - isso para não falar nos gritos histéricos de "Olha! olha! Um Pikachu!" gerando comoção generalizada.

Agora, quem passa pela frente da loja de roupas Marisa, no quarteirão ao lado do Parque Trianon, consegue ver um grupo constante de 50 a 100 pessoas, todas com os olhos vidrados no celular enquanto caçam pokémons.

Em uma mesma esquina, o local reúne três pokéstops, quase sempre alimentados com "lure" - item especial do jogo que ajuda a atrair monstrinhos.

Em uma hora no local, não é difícil capturar mais de 30 criaturas. Travar um diálogo, no entanto, parece tarefa mais árdua. Os únicos a conversar no lugar são os pequenos grupos de amigos que se unem para jogar juntos - mas a interação entre estranhos se foi.

É como se cada jogador estivesse sentado no sofá da própria casa curtindo uma partida intensa. Porém, como Pokémon Go requer que seu usuário se desloque por diferentes pontos para capturar novas criaturas e itens, era preciso trocar as almofadas confortáveis pelo vento do inverno paulistano em prol do jogo.

Há quem aposte que isso acontece pela falta de uma história do jogo e pela atividade repetitiva que Pokémon Go exige a seus usuários para que eles evoluam no jogo (ler análise abaixo).

"As pessoas corriam atrás dos pokémons. Agora, parece uma atitude meio zumbi: o jogo é repetitivo e não dá ao jogador a sensação de progressão", diz Arthur Protásio, especialista em games do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio).

Em termos globais, o game já começa a perder usuários: segundo a consultoria Apptopia, no período entre 19 de julho e 19 de agosto, o game perdeu 15 milhões de usuários que o acessavam diariamente, mesmo com a estreia em vários países da Ásia e da América Latina.

Vizinhança 

O jogo não muda só a vida de quem vai até ele, mas também de quem mora perto dele. É o caso da farmacêutica mineira Heide Ribeiro, de 30 anos: ela vive perto da Praça da Liberdade, na região central de Belo Horizonte.

"Tem certos horários do dia em que a praça fica muito cheia. Antes tinha gente vendendo artesanato e jovens tomando catuaba. Agora, é a molecada, todo mundo com o celular na mão", diz ela, que sentiu a diferença na segurança da região.

"Virou um ‘point’ de assaltos e o policiamento até aumentou." Já a publicitária Ana Clara Matta, que mora no bairro do Paraíso, em São Paulo, se diverte com a sorte de ter sua casa entre dois pokéstops.

"Um dia desses eu estava gripada e não queria sair. Fiz um macarrão com o meu namorado e tivemos um jantar à luz de ‘lures’ dos dois pokéstops", brinca.

A sensação é compartilhada por Bárbara Manholeti, estagiária de editoração que mora no Rio Pequeno, na zona oeste de São Paulo.

"Moro de frente para um ginásio pokémon, que fica em uma praça. Com o jogo, a praça ficou muito mais movimentada, especialmente por crianças e famílias."

Apesar do movimento, Bárbara vê que a relação entre as pessoas no local pouco se alterou depois dos primeiros dias. "A temperatura baixou, as pessoas não estão conversando. O jogo em si não propõe a interatividade."

Segundo Sandro Massarani, antropólogo da Universidade Federal Fluminense (UFF), a ausência de um componente social dentro do game gera esse ambiente "esquisito".

"Pokémon Go deu um primeiro passo bacana para fazer as pessoas saírem de casa e propor que elas vejam o mundo ao seu redor, prestando atenção em grafites e esculturas", avalia.

Mas, se não há interação, o uso limitado do espaço público reduz o potencial transformador do game. "Mesmo na rua, as pessoas ficam em uma posição vulnerável por medo de terem os celulares roubados", diz Protásio, do ITS-Rio.

"Não é culpa do jogo, mas se ele levasse as pessoas a interagirem entre si, poderia ajudar nesse aspecto."

Para o americano Nick Johnson - primeira pessoa do mundo a capturar todos os 145 pokémons disponíveis no game -, a integração e a solidariedade são o melhor caminho (ler entrevista ao lado).

"Os jogadores são a melhor fonte de conhecimento. Se você fica só no seu celular, está perdendo a melhor parte." Desigualdade. Há outro aspecto bastante incômodo em Pokémon Go: a distribuição de pokéstops e ginásios pelo mundo é desigual.

Ao percorrer a cidade de São Paulo nos últimos dias, a reportagem encontrou muito o que fazer com o game em regiões centrais - como Paulista, Centro e Ibirapuera.

Ao se afastar do centro, no entanto, a quantidade de pokéstops sofria forte escassez - ao longo da Avenida Salim Farah Maluf, na zona leste, por exemplo, não havia um mísero ponto para resgatar mais itens.

O mesmo problema tem sido levantado por jogadores que moram em cidades do interior do País - mesmo em municípios com grandes áreas, é comum ver apenas um ou dois pokéstops ao longo de muitos quilômetros.

"No interior dos EUA e da Inglaterra, há relatos de muitos jogadores que desistiram do game porque não há nada para fazer perto de casa", aponta Massarani, da UFF. Contudo, aumentar a quantidade de pokéstops pode reduzir a rentabilidade do game, uma vez que a Niantic vende itens como pokébolas.

"Duvido que isso possa criar um desequilíbrio no jogo", diz Protásio, do ITS-Rio. O pesquisador acredita que o game, sem querer, está reforçando contrastes socioeconômicos no Brasil. 

Apesar de muita diversão inicial, dos bons exemplos de aplicação na educação e na saúde e do potencial como jogo, os especialistas apostam que a Niantic precisa promover mudanças rápidas no game para manter o interesse em alta. Trata-se de uma questão de sobrevivência para o negócio por trás da febre.

"Para faturar, o game precisa que os jogadores estejam envolvidos, mas também que ofereça uma recompensa para eles", diz Protásio.

"Senão, todo mundo vai continuar fazendo uma atividade repetitiva, tentando chegar no topo sem conseguir."

A mudança do espírito de "domingo no parque" no lançamento para o clima esquisito dos últimos dias mostra que talvez os jogadores se cansem do game mais rápido do que o esperado.

Se a Niantic não agir rápido, é possível que, daqui a alguns meses, o Brasil "não tenha mais a brincadeira, muito menos confusão".

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