Mulher visita página do Facebook em dois computadores: mais de 10% dos cidadãos do mundo inteiro fazem parte da nação Facebook (©AFP/Arquivo / Rodrigo Buendia)
Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2014 às 21h02.
O Facebook é uma ferramenta poderosa para conectar pessoas e ideias.
Já foi demonstrado que usuários do site mantêm relacionamentos mais estreitos com outras pessoas, tendo tido vários pontos a mais em testes de companheirismo e apoio emocional no estudo dos hábitos dos americanos na internet feito pelo Pew Research Center em 2011.
E mais de 10% dos cidadãos do mundo inteiro fazem parte da nação Facebook. Hoje, porém, estamos cada vez menos encantados com o site (é verdade, andamos reclamando muito).
Algo que antes era um clube exclusivo hoje é uma presença indomável na vida de muitas pessoas. Mas não precisa necessariamente ser assim. Segue uma lista de dez diretrizes das pessoas que mantêm uma relação saudável com o Facebook:
Elas não ficam espionando a vida dos outros.
O psicólogo de mídia Robert Simmermon, Ph.D., disse ao Huffington Post que existe na psicologia social uma ideia conhecida como a Lei do Instrumento.
“Se você dá um martelo a uma criança, ela encontrará alguma coisa para bater”, disse ele.
A internet e nossos aparelhos pessoais nos deram as ferramentas com que podemos vasculhar as informações sociais de outras pessoas, e o desejo de fazê-lo é natural.
“Acho que existe um pequeno ‘espião’ dentro de cada um de nós”, falou Simmermon.
Entretanto, dependendo de quanto nos entregamos a nossos impulsos de espionagem silenciosa, podemos estar prestando um desserviço a nós mesmos.
Um estudo alemão de 2013 feito com 584 pessoas mostrou que aquelas que usam o Facebook principalmente para ler sobre outras pessoas, e não para comunicar-se com elas, correm o risco especial de sofrer dor emocional depois.
Por mais tentador que possa ser espionar a vida das outras pessoas com a leitura passiva da mídia social, a não ser que precisemos checar um evento ou enviar uma mensagem a um amigo naquele exato momento, talvez seja melhor para nós iniciarmos nossas conversas off-line.
Elas sentem mais “JOMO” que “FOMO”.
O “FOMO” -- as iniciais de “fear of missing out”, ou o “medo de ficar de fora de alguma coisa”, em inglês -- é uma abreviação muito citada que muitos usuários de mídias sociais dizem ser a razão pela qual não conseguem parar de checar seus feeds do Facebook.
(E seus amigos estiverem fazendo alguma coisa sem você? Se estiverem se divertindo em algum lugar, enquanto você está sentado no sofá, comendo massa crua de biscoito?)
Quem se sente irrequieto e infeliz porque já faz algum tempo que não entrou no Facebook faria bem em respirar fundo e lembrar que às vezes ficar de fora faz bem para nós.
Prepare-se para outra sigla: JOMO, “joy of missing out”, ou a “alegria de ficar de fora”.
“As pessoas estão começando a fazer uma avaliação de suas vidas e tirar tempo para elas próprias”, explicou ao HuffPost UK Danny Penman, Ph.D.
“Se você não estiver no comando, a tecnologia móvel pode facilmente tomar conta de sua vida e deixá-lo em mau estado e exausto.” Os gurus do bem-estar físico e mental sugerem que deveríamos prestar mais atenção a como passamos nosso tempo de fato, e não apenas à nossa percepção de como passamos nosso tempo.
E o Facebook não é o único meio de comunicação que elas usam.
Como observam pessoas que estavam no Facebook, mas não estão mais, é igualmente fácil telefonar, enviar uma mensagem de texto ou escrever um e-mail, sendo que esta última opção tende a ser vista como uma atividade menos ofensiva a praticar nos dias úteis que dar uma olhada no seu NewsFeed.
“Quando acontece algo importante, mando um e-mail para a família e os amigos”, disse ao HuffPost a ex-usuária de Facebook Lauren Perry, orientadora universitária.
“A gente usa muito o ‘responder a todos’.” Outro antigo usuário inveterado do Facebook disse ao HuffPost que, embora o Facebook seja ótimo para retomar o contato com velhos amigos, ele prefere o telefone.
“Não sinto que eu fico de fora”, explicou o gerente de projetos Steve Zarate, de York, Pensilvânia. “Se, quando estou batendo papo com amigos, alguém menciona algo sobre o Facebook ou sobre o status de alguém, posso entrar rapidinho só para dar uma olhada e ter uma ideia melhor do que estão conversando. Mas isso geralmente não acontece.”
Elas não tentam ficar a par do que acontece com todos seus “amigos”.
Ter um NewsFeed cheio de atualizações sobre 500 ou mais pessoas diferentes é simplesmente demais.
Na realidade, o antropólogo e psicólogo Robin Dunbar concluiu que o cérebro humano possui capacidade finita de processar as conexões interpessoais propiciadas pelas redes sociais.
O número em questão é surpreendentemente pequeno – apenas 148. Segundo a estimativa de Dunbar, não fomos feitos para manter contato com centenas ou milhares de “amigos”, mas apenas com as pessoas com quem nos comunicamos com mais frequência.
De fato, um estudo sobre redes sociais feito este ano pela Universidade Oxford constatou que os usuários, tenham eles consciência disso ou não, geralmente adotam uma política de “entra um, sai outro” – ou seja, que relacionamentos novos tendem a roubar a atenção antes dada aos velhos, para não deixar que nossos cérebros se fundam com o excesso de informação.
Elas têm consciência de quando estão passando tempo demais no Facebook.
Se você está preocupado, achando que passa tempo demais frequentando as páginas de seus amigos todos os dias, talvez seja melhor definir quanto tempo você pode dedicar ao Facebook por dia e então se esforçar para não ultrapassar esse limite.
Para os usuários do Google Chrome, existe até uma extensão útil que pode ajudar – é chamado Time Tracker, ou Rastreador do Tempo, e fará você se sentir um idiota por ficar procrastinando. Mas é assim que amadurecemos.
A revista Time também desenvolveu uma ferramenta para estimar o número de minutos, horas e dias que você já passou no Facebook desde que criou sua conta (no meu caso, desde que me inscrevi no site, em 2006, já passei um total de 32 dias, quatro horas e dois minutos nele, a maior parte desse tempo sem dúvida concentrado nos meus anos de faculdade).
Elas reconhecem que o Facebook permite que as pessoas participem de debates salutares.
A ciência chegou a sugerir que as pessoas possuem a capacidade de falar de política online sem perderem a calma. É verdade: dois pesquisadores concluíram um estudo em 2009 mostrando que o Facebook é uma plataforma eficaz para debates. Enquanto algumas discussões entre pessoas de posições divergentes descambaram para a incivilidade, a grande maioria – 75% -- “foi isenta de interações agressivas”.
Mas mesmo as opiniões divergentes são valiosas, disse Simmermon ao HuffPost. Ler pontos de vista diversos “nos dá uma ideia do que acontece lá fora”, em áreas que, de outro modo, talvez nunca levássemos em conta. “Isso faz o mundo ficar bem menor.”
Elas usam as configurações disponíveis.
As configurações de privacidade do Facebook são notoriamente confusas.
Tão confusas, de fato, que um estudo publicado pelo Instituto Carnegie Mellon em 2013, feito entre 2005 e 2011 com 5.000 usuários do site, constatou um aumento na quantidade de informações compartilhadas online, não obstante o desejo das pessoas de proteger sua privacidade online.
As configurações de privacidade disponíveis “podem aumentar o senso de controle” que os usuários têm, observaram os pesquisadores, mas essas percepções talvez não correspondam à realidade.
A privacidade – e o sentimento de insegurança online – é uma das maiores queixas dos usuários do Facebook. Felizmente, há muitas informações úteis disponíveis sobre como otimizar as configurações.
O AVG Privacyfix é uma ferramenta boa. O programa gratuito avisa os usuários quando suas configurações de privacidade estão fracas, levando a páginas em que os controles podem ser intensificados.
Recentemente, o Facebook implementou suas próprias notificações de Checkup de Privacidade, que aparecem em pop-up quando o usuário não atualiza suas configurações de privacidade há algum tempo, servindo como aviso gentil para desaconselhar a partilha de informações demais.
Elas entendem que o Facebook não reflete a vida real...
Não deve ser surpresa para ninguém ouvir que o Facebook não reflete com precisão a vida de seus "amigos".
Cada coisa que é postada pelos milhões e mais milhões de usuários – desde artigos em tom intelectual até fotos que mostram a pessoa sob os melhores ângulos – é uma opção, feita pelos usuários para se mostrarem sob a ótica mais positiva possível. (E as fotos em que as pessoas não ficam bem? Não são citadas.)
“Se um marciano viesse à Terra e fosse no Facebook, pensaria que somos os seres mais felizes do universo”, Simmermon disse ao HuffPost. Para ele, nós criamos nossa própria “marca” no site, editando nossas páginas para adequar-se à nossa visão idealista.
Uma pessoa que entrou para o Facebook desde o início disse que o site é mais semelhante a um “teatro coletivo online” que a qualquer tipo de realidade.
“Para os jovens”, ela escreveu, “o Facebook é mais uma forma de escapismo: podemos converter nossas vidas em teatro e nossos relacionamentos em rotinas cômicas.”
Parece que o site sempre deixou menos nítida a linha que separa a verdade da ficção, mas, como explicou um usuário do Reddit, “É difícil não comparar sua própria vida às vidas altamente editadas de outras pessoas que você vê no Facebook”.
Quando elas percebem que estão pensando negativamente, saem do site.
No estudo alemão sobre as respostas emocionais ao uso do Facebook, os pesquisadores constataram que mesmo as pessoas que se comunicam ativamente online sentem mais ciúme de outras e mais frustração ou insatisfação com elas mesmas.
Em resposta a isso, algumas admitiram que intencionalmente criam posts que as mostram sob a ótica mais positiva possível, destacando coisas como sua beleza ou conquistas profissionais.
Inversamente, menos tempo passado no Facebook fomenta sentimentos mais fortes de satisfação. Vários outros estudos já mostraram resultados semelhantes.
Na próxima vez em que você folhear o álbum de casamento de uma colega de faculdade e se perguntar se algum dia encontrará o amor verdadeiro, lembre-se que hoje mais ou menos metade dos casamentos terminam em divórcio.
Ou seja… lembre-se que as pessoas que se casam também têm altos e baixos em suas vidas.
Elas percebem quando o Facebook está tirando sua atenção de tarefas mais importantes.
Um estudo feito em 2013 com 263 estudantes do ensino secundário e universitário mostrou que a tecnologia é uma distração tão ponderosa que os participantes que tentavam estudar geralmente passavam menos de seis minutos concentrados antes de ir para as mídias sociais ou começar a trocar mensagens de texto.
Aqueles que tendiam a entrar no Facebook enquanto estudavam tinham notas médias inferiores aos que não o faziam.
Um estudo separado mostrou uma correlação semelhante entre uso do Facebook e notas mais baixas entre estudantes universitários.
Outras formas de comunicação digital – mensagens instantâneas (coisas como Google Talk ou Windows Live Messenger) e e-mail – aparentemente não tinham o mesmo efeito.
Felizmente, os desenvolvedores já criaram apps que prometem nos salvar de nós mesmos, pelo menos no que diz respeito à distração pelas mídias sociais.
O SelfControl, por exemplo, deixa você bloquear sites específicos num Mac por até um dia – e conhece todos seus truques. Mesmo que o app seja deletado de sua máquina, você não conseguirá acessar os sites proibidos até que o prazo de proibição chegue ao fim.
E, para concluir, elas reconhecem que às vezes uma relação saudável com o Facebook significa “sem Facebook”.
As razões específicas que levam pessoas a querer abandonar o site por completo variam.
Alguns dizem que é antinatural descobrir tantas informações pessoais sobre pessoas online, outras não querem que terceiros – ou seja, anunciantes – tenham acesso às suas informações pessoais.
E, embora algumas pessoas que tentam viver sem o Facebook acabem voltando, outras vivem mais felizes sem o site. “Eu estava desperdiçando muito tempo no site. Não era produtivo nem enriquecedor”, explicou a blogueira Rachel Jonat.
“Desistir do Facebook me ajudou a dar mais atenção às pessoas em minha vida que interessam realmente: meus amigos íntimos, minha família, meus filhos e eu mesma.”
Ela sabe que às vezes fica de fora de planos que são traçados no Facebook, mas disse que não tem dificuldade em se manter ocupada.
Mas numa discussão recente no Reddit sobre o assunto, um usuário sugeriu que aquilo que recebemos do Facebook depende de nós mesmos, pelo menos em parte.
“Você pode escolher o tipo de experiência que quer ter”, escreveu Redditor parker214. “Se você não quer ter de tratar com pessoas com quem não tem um relacionamento de fato, pode deletá-las. Se não gosta de certos tipos de posts, pode ocultá-los.”