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Como fumantes, abelhas se viciam em 'pesticida de nicotina'

Pesquisa publicada na Nature revela que os insetos polinizadores preferem néctas contaminados por pesticidas agrícolas

Alerta vermelho: estudo indica que abelhas polinizadoras preferem néctar contaminado por inseticidas neonicotinóides (Thinkstock)

Vanessa Barbosa

Publicado em 24 de abril de 2015 às 17h41.

São Paulo - Abelhas podem se viciar em pesticidas agrícolas derivados de nicotina, da mesma forma como humanos se viciam em cigarros. Essa é a constatação aterradora de um estudo publicado nesta semana na revista Nature e que lança um alerta vermelho sobre os efeitos danosos que alguns inseticidas têm sobre esses importantes agentes polinizadores da natureza.

Segundo a pesquisa, desenvolvida por cientistas da Universidade de Newcastle e Trinity College, na Irlanda, as abelhas são atraídas pelo néctar contendo inseticidas neonicotinóides, o que pode aumentar suas chances de exposição a altos níveis de substâncias químicas.

Os neonicotinóides são uma classe de inseticidas derivados da nicotina. Algumas dessas substâncias tiveram o uso proibido na União Europeia e em alguns outros países, após estudos evidenciarem correlações dos produtos aplicados à lavoura com o declínio de populações de abelhas polinizadoras.

Pelas novas análises, os cientistas descobriram que as abelhas não são capazes de distinguir a presença dos três pesticidas neonicotinóides mais usados e, portanto, não conseguem evitá-los.

Mais grave, as abelhas mostraram uma preferência por alimentos que continham agrotóxicos: quando foi dada aos insetos a escolha entre uma solução de açúcar e outra solução de açúcar contendo neonicotinóides, elas escolheram o alimento que continha os neonicotinóides.

As análises, feitas em laboratório, também mostraram que as abelhas comem mais do alimento que contém pesticidas do que as abelhas que comiam néctar comum, sendo expostas a doses mais elevadas de toxinas.

"Agora temos evidências de que as abelhas preferem comer alimentos contaminados com pesticidas. No cérebro das abelhas, neonicotinóides têm como alvos os mesmos mecanismos que são afetados pela nicotina no cérebro humano", disse o professor Geraldine Wright, cientista à frente do estudo no Instituto de Neurociência da Universidade de Newcastle.

Segundo ele, o fato das abelhas mostrarem uma preferência por alimentos contendo neonicotinóides é preocupante, já que sugere que, como a nicotina, os neonicotinóides podem agir como uma droga que torna os alimentos que contêm estas substâncias mais gratificantes.

"Isso poderia ter um impacto negativo sobre colônias inteiras e nas populações de abelhas", alertou.

São Paulo - O apetite insaciável do mundo por recursos naturais tem levado muitas espécies à beira da extinção,mostra a mais recente atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, divulgada nesta segunda (17). Em seu 50º ano, o catálogo mais completo que existe sobre o assunto, inclui 76.199 espécies, das quais 22.413 são classificadas como ameaçadas de extinção. As pressões sobre a biodiversidade do planeta não dão sinal de trégua. Na lista entram a perda de habitats, a caça e pesca ilegais, a expansão agrícola, o uso intensivo de pesticidas e também as mudanças climáticas. Felizmente, dá para mudar esse quadro. Cerca de metade das espécies recentemente avaliadas estão dentro de áreas protegidas, como parques e reservas nacionais. Por isso, a IUCN defende uma melhor gestão dessas áreas, a fim de reverter a perda da biodiversidade. Para isso, é preciso reforçar as ações de proteção. “Cada atualização da Lista Vermelha da IUCN nos torna mais conscientes de que nosso planeta está perdendo a sua incrível diversidade de vida, principalmente por causa das nossas ações destrutivas para saciar nosso apetite crescente por recursos", disse, em nota, a diretora geral da IUCN, Julia Marton-Lefèvre. "Mas nós temos evidências de que as áreas protegidas podem desempenhar um papel central na reversão desta tendência. Especialistas alertam que as espécies ameaçadas que são mal representados nas áreas protegidas estão diminuindo duas vezes mais rápido que os que estão bem representados. Nossa responsabilidade é a de aumentar o número de áreas protegidas e garantir uma gestão eficaz que possa ajudar a salvar a biodiversidade do nosso planeta", acrescentou. As espécies listadas a seguir são apenas uma pequena amostra de um vasto universo de seres vivos que vêm sendo ameaçados pelas atividades humanas >
  • 2. Atum de barbatana azul (Thunnus orientalis)

    2 /11(Wikimedia Commons)

  • Veja também

    Espécie de peixe mais apreciada no mundo para o preparo de sushi e sashimi, o atum rabilho do Pacífico (Thunnus orientalis) passou da categoria “pouco preocupante para vulnerável”, o que significa que, agora, ele está ameaçado de extinção. A pesca abusiva é o principal vilão para o declínio da espécie: a maior parte dos peixes são capturados em fase juvenil, sem terem tempo de reproduzir. Em 2013, o Comitê Científico Internacional, um grupo independente de cientistas do governo de países como Estados Unidos e Japão, revelou que décadas de sobrepesca e má gestão resultaram em uma redução de 96,4 por cento da população do atum rabilho do Pacífico desde o século 19.
  • 3. Camaleão gigante de Usambara (Kinyongia matschiei)

    3 /11(IUCN/ Stephen Zozaya)

  • A nova atualização da Lista Vermelha também destaca várias espécies que foram afetadas pela destruição do habitat. O Camaleão oriental gigante Usambara Blade-chifres (Kinyongia matschiei), endêmico das montanhas do leste Usambara da Tanzânia, é um dos listados como "ameaçado". Apesar de se concentrar na Reserva Natural de Amani, este réptil sofre pressões constantes pelo desmatamento das florestas para a agricultura, produção de carvão e extração de madeira.
  • 4. Lêmure Aye-aye (Daubentonia madagascariensis)

    4 /11(Getty Images)

    Este lêmure de pelos negros e olhos esbugalhados vive em árvores da floresta de Madagascar e tem hábitos noturnos. Além da visão otimizada, o aye-aye (Daubentonia madagascariensis) possui um dedo maior que os demais, que é usado para caçar larvas nos buracos das árvores. Esta espécie é perseguida em algumas áreas, sendo associada a um símbolo de má sorte ou praga agrícola. Outras ameaças incluem a destruição do habitat e a derrubada de árvores para produção de madeira. Devido aos riscos crescentes, a espécie passou do status de “quase ameaçada” para a “ameaçada de extinção” na lista da IUCN.
  • 5. Baiacu chinês (Takifugu chinensis)

    5 /11(Wikimedia Commons)

    O baiacu Chinês (Takifugu chinensis) entrou na Lista Vermelha da IUCN como “Criticamente em Perigo”. Estima-se que sua população mundial caiu 99,9% nos últimos 40 anos devido à superexploração. Extremamente popular no Japão, o peixe está entre as quatro espécies de baiacu mais consumidas no mundo. E também entre os mais venenosos – eles devem ser habilmente preparados antes do consumo. Segundo a IUCN, o baiacu chinês ocorre em diversas áreas marinhas protegidas nas águas costeiras da China. No entanto, a captura ainda precisa ser controlada para evitar a extinção da espécie.
  • 6. Black Grass-dart Butterfly (Ocybadistes knightorum)

    6 /11(Shane Ruming)

    Encontrada apenas na região do litoral norte da Nova Gales do Sul, na Austrália, a borboleta “Black Grass-dart Butterfly” (Ocybadistes knightorum) entrou na Lista Vermelha da IUCN como “ameaçada”. Seu principal inimigo é a invasão de ervas daninhas que destroem seu habitat, em áreas protegidas, como o Parque Nacional Bongil Bongil e o Gaagal Wonggan. Segundo a IUCN, a gestão maias eficaz destas áreas pode assegurar o futuro da espécie.
  • 7. Gafanhoto árvore do inverno (Brinckiella arboricola)

    7 /11(P. Naskrecki)

    O gafanhoto árvore do inverno (Brinckiella arboricola) é encontrado em biomas de biodiversiade notáveis na África do Sul. Eles vivem em baixo de arbustos e árvores herbáceas. Mas seu habitat está constantemente ameaçado pelo desenvolvimento agrícola e urbano e invasão de espécies exóticas. Com base nessas ameaças e na distribuição restrita, o gafanhoto entra na Lista Vermelha como “ameaçado”.
  • 8. Abelha Bombus fraternus

    8 /11(Paul H. Williams)

    A Bombus fraternus, uma espécie de abelha norteamericana, também entrou na Lista Vermelha da IUCN como “ameaçada”. Estima-se que, nos últimos 10 anos, sua população tenha caído entre 29% e 86% em relação aos registros históricos (1805-2001). A perda de habitat devido à conversão de áreas para a agricultura é provavelmente a maior ameaça a esta espécie. Exposição a pesticidas também pode estar por trás das quedas.
  • 9. Enguia americana (Anguilla rostrata)

    9 /11(Clinton & Charles Robertson CC BY 2.0)

    Listada como espécie ameaçada de extinção, a enguia americana (Anguilla rostrata) sofre com as mudanças climáticas, parasitas, poluição, perda de habitat e sobrepesca. Segundo a IUCN, devido ao declínio da enguia japonesa (Anguilla japonica), também ameaçada, a indústria de criação intensiva de enguias na Ásia tenta repor o estoque com outras espécies, como a enguia americana. Isto levou a um aumento das denúncias de caça ilegal da enguia americana nos Estados Unidos.
  • 10. Planta Cordiformis Warneckea

    10 /11(ohn E Burrows)

    A Cordiformis Warneckea, uma planta encontrada em Moçambique, foi listada como “criticamente em perigo” devido ao desmatamento para a agricultura de subsistência e expansão de pólos industriais. Seu principal habitat, a floresta Namacubi, corre risco de ser atravessada por uma estrada nova para a indústria de petróleo e gás. Atualmente, segundo a IUCN, não há ações de conservação registradas para esta espécie.
  • 11. Cobra chinesa (Naja atra)

    11 /11(Skink Chen)

    A Cobra Chinesa (Naja atra) é outro animal classificado como vulnerável. Sua população diminuiu de 30 a 50% ao longo dos últimos 20 anos. Elas são encontradas no sudeste da China, Taiwan, norte do Vietnã e Laos, e estão entre as principais espécies de animais exportados da China para Hong Kong para abastecer o mercado de alimentos. Embora o comércio internacional de espécies seja regulamentado, há uma necessidade urgente de reforçar as iniciativas nacionais de conservação para garantir a sua sobrevivência, diz a IUCN.
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