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Como abater frangos de forma indolor virou um negócio

Processo elaborado por duas empresas americanas promete uma morte mais “humana” aos animais

Grande desafio é divulgar a ação sem incomodar o consumidor com algo que ele "prefere não pensar" (Julio Bernardes/VOCÊ S/A)

Grande desafio é divulgar a ação sem incomodar o consumidor com algo que ele "prefere não pensar" (Julio Bernardes/VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2011 às 12h54.

São Paulo – Não é preciso ser vegetariano para pensar no bem-estar dos animais que servem de alimento. Duas empresas americanas estão se preparando para trocar seu sistema de abate de frangos para um método menos doloroso e agressivo para os bichos. O método visa acabar com o sofrimento causado pelos processos comuns de abate. As informações são do jornal The New York Times.

O novo sistema da Bell & Evans, do estado da Pensilvânia, e da Mary’s Chickens, da Califórnia, usa o gás dióxido de carbono para fazer os frangos dormir antes de serem pendurados pelas pernas e decapitados. No método comum, os animais são pendurados de cabeça para baixo, ainda conscientes, recebem um choque elétrico para adormecerem e, depois, uma lâmina corta seus pescoços.

Os criadores do novo sistema garantem que não há estresse no processo, pois as aves são sedadas “gentilmente”, como em uma anestesia antes de uma cirurgia. Diferentemente de métodos similares usados na Europa, este não inibe o oxigênio muito rapidamente, o que pode causar desconforto aos bichos. Além disso, o sistema não é projetado para matar os animais, mas apenas adormecê-los, evitando estresse na hora da morte e pernas e asas quebradas pelo desespero.

Os trabalhadores também vão sair ganhando com o novo sistema, já que, atualmente, o local onde os frangos ficam pendurados precisa ser mal iluminado para evitar que as aves se assustem. E, para colocá-las no recinto, os funcionários precisam até bater e estrangulá-las.

Desafio de comunicação

Apesar de ser uma nova maneira de demonstrar preocupação com o bem-estar dos animais, as empresas enfrentam um desafio de marketing: como falar para o consumidor sobre um assunto que geralmente ele evita? “Na maioria das vezes, as pessoas não querem pensar em como o animal foi morto”, disse ao jornal David Pitman, cuja família é dona do Mary’s Chickens.


Enquanto a companhia responsável pela instalação do novo sistema chama o processo de “perda de consciência em atmosfera controlada”, a Mary’s Chickens está avaliando a possibilidade de anunciar nas embalagens a expressão “perda de consciência por sedação”, quando os produtos começarem a circular, em junho do ano que vem. Ela também pretende usar termos como  “humanamente abatido”, “humanamente processado” ou “lidado humanamente”. Tudo isso para cumprir a tarefa complexa de anunciar que o processo foi feito de forma que os frangos não sofreram para servir de comida.

Já o dono da Bell & Evas, Scott Sechler, pretende usar a expressão “indução de anestesia lenta” em embalagens e propaganda dos produtos, com previsão de lançamento para abril. Os informes também vão avisar aos consumidores que os animais são criados em cômodos com iluminação natural e alimentados com comida livre de antibióticos ou subprodutos de origem animal. O site da empresa também vai trazer essas e outras informações sobre o processo para aqueles que desejarem saber mais.

Toda essa preocupação tem um preço alto para as empresas. Cada uma afirma ter gasto cerca de 3 milhões de dólares com as operações e as horas a mais trabalhadas para fazer tudo funcionar. Isso pode ser um obstáculo para se manter no mercado competitivo da indústria alimentícia. Apesar disso, Sechler afirma que os consumidores vão começar a exigir esta postura mais “humana” de todas as empresas, o que pode gerar um movimento coletivo de adaptação. Mas, até lá, será preciso descobrir a melhor forma de fazer propaganda positiva de algo controverso como a morte.
 

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