Chuva no sul do Brasil eleva represas de hidrelétricas
Cheia deu alívio às represas após seca do verão, mas também deixou milhares de desabrigados
Da Redação
Publicado em 11 de junho de 2014 às 13h29.
A cheia que atinge o sul do Brasil elevou em quase 27 pontos percentuais o nível de hidrelétricas da região desde o fim de maio, dando um alívio às represas após a seca do verão, mas também deixando milhares de desabrigados.
Entretanto, chuvas concentradas somente no Sul não são suficientes para assegurar que não haverá dificuldades de fornecimento de energia neste e no ano que vem no Brasil. Isso ocorre porque os reservatórios da região Sudeste/Centro-oeste, os mais importantes para o país, estão diminuindo desde abril, mostrando nível cerca de 37,2 por cento atualmente.
Já no sul, o nível das represas está a 81,7 por cento, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), acima do patamar de 80,8 por cento registrado no fim de junho de 2013.
A hidrelétrica Itaipu, no Paraná, está com duas calhas do vertedouro abertas desde domingo à noite e, atualmente, está deixando passar cerca de 9,7 mil metros cúbicos de água por segundo sem gerar energia -- procedimento normal em períodos de cheia.
Na terça-feira, a cota de água próxima à Ponte da Amizade, que liga Brasil a Paraguai, estava em cerca de 125 metros, na terceira maior cheia a atingir a região em todos os tempos, só perdendo para 1992 e 1983, segundo a assessoria de imprensa de Itaipu. O nível do rio Paraná subiu 16 metros em 25 horas.
Já o volume de chuvas ao longo do rio Iguaçu, durante o último fim de semana, superou o recorde histórico registrado durante a grande enchente de julho de 1983, segundo a Copel, empresa de energia que opera hidrelétricas ao longo do rio.
"Diferente daquele ano, quando as chuvas se concentraram nas cabeceiras do rio (...) desta vez as chuvas se dispersaram ao longo da calha do rio, reduzindo o impacto sobre os municípios" próximos, informou a companhia.
DESABRIGADOS
O município de União da Vitória (PR) está em situação de calamidade pública. Na cidade, 12.152 pessoas estão desalojadas, segundo o último boletim da Defesa Civil do Paraná, divulgado na manhã desta quarta-feira.
No total, 142 municípios no Paraná estão sendo afetados pelas chuvas, dos quais 130 estão em situação de emergência. Em todo o Estado 25.478 permanecem desalojados.
A Copel informou que o reservatório da usina de Foz da Areia, que mostrava nível de 23 por cento na sexta-feira, colaborou para evitar que as cheias rio abaixo fossem ainda piores. Em dois dias, o reservatório reteve água suficiente para aumentar seu volume em 25 por cento, um fato inédito na história da Copel.
A usina, a maior do rio Iguaçu e localizada em Pinhão, interrompeu a geração de energia, fechando comportas do vertedouro para reduzir ao máximo a vazão de água do rio. Segundo a Copel, a estratégia foi coordenada pela empresa com o ONS.
O nível do reservatório de Foz da Areia está em 66,3 por cento atualmente, segundo dados do ONS. A usina fica a 240 quilômetros de Curitiba, tem potência instalada de 1.676 megawatts (MW) e um dos maiores reservatórios da região Sul.
A Copel informou ainda que procedimentos específicos de segurança também foram adotados para a operação de todas as hidrelétricas da cascata do Iguaçu e dos demais rios do Paraná, de modo a preservar a segurança das barragens e das populações da área de influência das usinas.
Em Santa Catarina, o último número divulgado aponta para 39 municípios afetados pelas chuvas, sendo que 21 cidades decretaram situação de emergência e duas estado de calamidade pública. A assessoria de imprensa da Defesa Civil do Estado informou que o número pode aumentar após uma nova apuração que está sendo realizada.
REGIME DE CHUVAS IRREGULAR
Nos primeiros meses do ano as chuvas no norte do Brasil já haviam deixado desabrigados e interrompido a operação de hidrelétricas no rio Madeira. Já no Sudeste/Centro Oeste houve seca que reduziu rapidamente as represas, num período em que elas deveriam encher, dificultando inclusive o abastecimento de água em algumas regiões.
Em São Paulo, o Sistema Cantareira, que chegou a operar abaixo dos 9 por cento durante o início do ano, está atualmente a 23,6 por cento, depois que o governo do Estado realizou obras para bombear água que fica abaixo do nível das comportas de captação e evitar desabastecimento na região metropolitana.
Técnicos do Consórcio PCJ, associação de usuários de água das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que fazem parte do Sistema Cantareira, calculam que a atual vazão das Cataratas do Iguaçu seria suficiente para recuperar a 100 por cento as represas do sistema em seis horas e meia.