EUA e China: Levantamento do ASPI analisou 74 áreas e mostra domínio chinês em energia, biotecnologia e espaço (Hyungwon Kang/Reuters)
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Publicado em 13 de dezembro de 2025 às 08h19.
A China assumiu a liderança em 90% das pesquisas com tecnologias consideradas críticas para segurança nacional e competitividade econômica. É o que informa novo relatório do Instituto Australiano de Política Estratégica (ASPI) e publicado no site da revista Nature nesta sexta-feira, 12.
O estudo avaliou 74 áreas e mostrou que o país ocupa o primeiro lugar em 66 delas, incluindo energia nuclear avançada, biologia sintética, computação em nuvem e pequenos satélites. Os Estados Unidos lideram em apenas oito segmentos, entre eles computação quântica e geoengenharia, marcando uma inversão em relação ao início dos anos 2000, quando detinham a supremacia em mais de 90% das tecnologias avaliadas.
A análise indica que a China direcionou investimentos para setores novos, o que explica seu desempenho superior em comparação com campos tradicionais nos quais outros países ainda são predominantes - como semicondutores.
Segundo a Nature, o resultado reflete progressos em pesquisa, desenvolvimento e volume de publicações científicas. Em algumas áreas, como computação em nuvem e computação de bordo, o ritmo chinês sugere uma estratégia para a rápida implementação de soluções de inteligência artificial em escala industrial.
O ASPI analisou mais de nove milhões de publicações e classificou os países segundo sua participação nos 10% de artigos mais citados entre 2020 e 2024. Embora o indicador seja eficaz para medir excelência acadêmica, especialistas dizem que ele não necessariamente traduz capacidade de engenharia, produção industrial ou competitividade comercial.
Motores aeronáuticos são um exemplo citado: apesar da liderança chinesa em pesquisa, os equipamentos ainda não atingem padrões de desempenho de fabricantes americanos e europeus.
Para o ASPI, a predominância chinesa coloca democracias em posição vulnerável em setores essenciais para segurança, defesa, energia e infraestrutura crítica. Pesquisadores alertam que a continuidade dessa tendência pode comprometer a capacidade de inovação de longo prazo do Ocidente.
Por outro lado, a Nature ressalta que a liderança chinesa não representa declínio imediato do poder tecnológico dos EUA, que seguem entre os principais atores globais.
O relatório reconhece que a métrica tende a favorecer países com bases acadêmicas muito amplas, já que pesquisadores podem citar trabalhos de compatriotas com maior frequência. Ainda assim, o volume e a consistência das publicações chinesas apontam para um avanço estrutural difícil de ser revertido no curto prazo.