Banda larga na Austrália é pior do que em países da antiga URSS
A Austrália caiu para o 50º lugar na escala global de velocidades da internet, atrás do Quênia e de vários países que pertenciam ao bloco soviético
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2017 às 17h05.
Última atualização em 5 de outubro de 2017 às 18h21.
Sidney - A rede de banda larga de 49 bilhões de dólares australianos (US$ 38 bilhões) da Austrália deveria encabeçar uma revolução digital. Em vez disso, o projeto malfeito corre o risco de virar uma propaganda da má gestão do governo.
O maior investimento de infraestrutura do país se transformou em uma disputa de futebol político, assolado por custos excessivos e atrasos na construção.
Como a rede já tem anos de atraso em relação à programação original e ainda continua incompleta, a Austrália caiu para o 50º lugar na escala global de velocidades da internet, atrás do Quênia e de vários países que pertenciam ao bloco soviético. A frustração pública com o projeto está aumentando em meio às críticas de que as disputas políticas estão superando as políticas públicas em diversas áreas, como habitação e energia, e prejudicando as perspectivas econômicas da Austrália.
“Nós somos realmente um exemplo do que não fazer”, disse Paul Budde, ex-assessor das Nações Unidas, em Sidney, sobre os benefícios sociais e econômicos do desenvolvimento digital. “Nós acabamos na pior solução possível.”
A rede foi concebida como uma plataforma de alta velocidade para aumentar a produção econômica e transmitir serviços de saúde e educação de ponta para lugares remotos do país. O custo do fracasso seria cruel.
Com uma estrutura de internet de qualidade inferior, é mais difícil que os trabalhadores saiam das principais cidades, o que aliviaria a pressão sobre os preços das casas em Sidney e Melbourne. Torna-se mais difícil aumentar a produtividade, que, segundo o banco central, precisa melhorar para evitar a queda dos padrões de vida.
Ian Martin, analista de telecomunicações da New Street Research em Melbourne, diz que a rede nunca gerará receita suficiente para recuperar seu custo, e uma baixa contábil de entre 20 bilhões e 30 bilhões de dólares australianos — cerca de metade do preço de sua construção — é inevitável.
“Nunca será um sucesso financeiro, o dinheiro que foi gasto nunca será recuperado”, disse Martin. “Fazer isso como um monopólio nacionalizado do governo claramente foi o caminho errado.”
O NBN, como o projeto de rede de banda larga nacional é conhecido, é um caso de intervenção estatal, ambição política e uma conta cada vez maior para os contribuintes. Desde o início, ele provocou tanto empolgação quanto ceticismo.
Em 2009, o então governo trabalhista de Kevin Rudd prometeu conectar quase todas as casas e empresas do país em uma rede de fibra óptica até 2017, a um custo de 43 bilhões de dólares australianos, com cabos de fibra óptica que transportariam uma grande quantidade de informações digitais.
Desde o início, alguns questionaram os fundamentos econômicos de usar essa tecnologia em um dos países com a população mais dispersa do mundo. Durante uma visita a Sidney em 2010, o bilionário mexicano das telecomunicações Carlos Slim disse que a conta seria alta demais para o número de casas que a rede conectaria.
À medida que as eleições de 2013 se aproximavam, a coligação opositora Liberal-Nacional atacou o projeto — e seu porta-voz de comunicações Malcolm Turnbull foi o principal crítico. Ele propôs diversas tecnologias para diminuir os custos, incluindo o uso de fios de cobre existentes para conectar as instalações a um centro local, em vez de usar os cabos de fibra óptica, mais caros, até as casas.
Turnbull é o atual primeiro-ministro, e o projeto que ele prometeu concretizar por 29,5 bilhões de dólares australianos agora atormenta-o. A conta aumentou para entre 47 bilhões e 51 bilhões de dólares australianos, e a rede não estará finalizada antes de 2020, de acordo com a NBN Co., a empresa estatal responsável pela implementação.
“Toda a situação foi um futebol político desde o início”, disse John Hewson, que liderou os liberais no início da década de 1990 e agora é professor na Universidade Nacional Australiana de Canberra. “Os governos são os mestres de sua própria morte no NBN.”