Apple avança projeto para medir glicose sem punção em relógio
A expectativa é que o medidor de glicose não invasivo seja usado por pessoas que convivem com o diabetes já diagnosticado
Agência de notícias
Publicado em 23 de fevereiro de 2023 às 15h25.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2023 às 15h32.
A Apple tem um projeto em andamento que remonta à era de Steve Jobs:monitoramento não invasivo e contínuo da glicose no sangue.
O objetivo dessa iniciativa secreta – chamada internamente de E5 - émedir a quantidade de glicose de uma pessoa sem a necessidade de picar a pele para extrair sangue.
Depois de atingir grandes marcos recentemente, a empresa agora acredita que poderá levar o monitoramento de glicose ao mercado, de acordo com pessoas a par do projeto.
Se aperfeiçoado, tal avanço seria de grande utilidade para diabéticos e ajudaria a consolidar a Apple como uma potência em assistência médica. Acrescentar o sistema de monitoramento ao Apple Watch, o objetivo final, também tornaria o aparelho um item essencial para milhões de diabéticos no mundo todo.
Ainda há anos de trabalho pela frente, mas o produto pode sacudir uma indústria multibilionária. Aproximadamente 1 em cada 10 americanos tem diabetes, sendo que normalmente dependem de aparelhos que picam a pele para a extração de uma amostra de sangue.
Também existem sensores da Dexcom e Abbott Laboratories que são aplicados sobre a pele, mas precisam ser substituídos a cada duas semanas.
A Apple adota uma abordagem diferente, usando uma tecnologia de chip conhecida como fotônica de silício e um processo de medição chamado espectroscopia de absorção óptica.
O sistema usa lasers para emitir comprimentos de onda específicos de luz em uma área abaixo da pele onde há fluido intersticial – substâncias que vazam dos capilares – que podem ser absorvidas pela glicose.
A luz é então refletida de volta para o sensor de uma forma que indica a concentração de glicose. Em seguida, um algoritmo determina o nível de glicose no sangue de uma pessoa.
Centenas de engenheiros trabalham no projeto como parte do Exploratory Design Group, ou XDG, da Apple, iniciativa não divulgada anteriormente semelhante ao X, a divisão de inovação da Alphabet.
É uma das iniciativas mais secretas da Apple, famosa pelo sigilo com que conduz seus projetos. Ainda menos pessoas estão envolvidas no novo produto do que no projeto de carros autônomos da empresa, supervisionado pelo Special Projects Group, ou no aparelho de realidade mista, desenvolvido por seu Technology Development Group.Um porta-voz da Apple, que tem sede em Cupertino, Califórnia, não quis comentar.
Um representante da Abbott, por sua vez, disse que a companhia também está desenvolvendo produtos de monitoramento de glicose.
A Apple testou sua tecnologia de glicose em centenas de pessoas na última década. Em testes em humanos, usou o sistema com pessoas que não sabem se são diabéticas, bem como aquelas com pré-diabetes e diabetes tipo 2.
A companhia comparou sua própria tecnologia com testes padrão de sangue extraído de veias e amostras retiradas de uma picada na pele, conhecidas como sangue capilar.
Um dos objetivos da Apple com a tecnologia é criar uma medida preventiva que alerte as pessoas caso sejam pré-diabéticas. Então poderiam mudar o estilo de vida para tentar evitar o desenvolvimento de diabetes tipo 2, que ocorre quando o organismo de uma pessoa não utiliza a insulina adequadamente.
A equipe da área de regulação da Apple já conduziu discussões preliminares sobre a aprovação do governo para o sistema.
Visão de Jobs
O projeto começou em 2010, quando a Apple comprou a startup RareLight, que promovia uma nova abordagem para o monitoramento não invasivo de glicose no sangue.
O cofundador da Apple, Steve Jobs, que enfrentava seus próprios problemas de saúde, recomendou que a fabricante do iPhone adquirisse a empresa.
A Apple contratou Bob Messerschmidt, fundador da RareLight, para iniciar seu próprio projeto em um monitor de glicose, que inicialmente recebeu o codinome E68. Messerschmidt agora comanda uma empresa de saúde chamada Cor Health.
O acordo acabou sendo concretizado devido à “visão de Jobs de assistência médica combinada com tecnologia”, disse em entrevista. Os ex-executivos seniores de hardware da Apple, Bob Mansfield e Michael Culbert, também estiveram entre os líderes do projeto, disseram as pessoas envolvidas.