Tecnologia

Andy Serkis fala sobre as tecnologias que criaram o Gollum

Aos 48 anos, britânico fez muito mais sucesso dando vida a criaturas virtuais por meio da captura de seus movimentos do que mostrando seu rosto

Uma câmera acoplada ao capacete capta as expressões do ator Andy Serkis, para dar vida a personagens como Gollun (Info)

Uma câmera acoplada ao capacete capta as expressões do ator Andy Serkis, para dar vida a personagens como Gollun (Info)

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Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2012 às 09h18.

São Paulo - Se você entrasse no mesmo elevador que Andy Serkis, ficaria ao lado de um ator famoso no mundo todo e, mesmo assim, dificilmente associaria suas sobrancelhas arqueadas e seus pequenos olhos azuis ao personagem de algum filme. Isso aconteceria porque, aos 48 anos, o britânico fez muito mais sucesso dando vida a criaturas virtuais por meio da captura de seus movimentos do que mostrando seu rosto.

E, para ele, isso não é um problema. “Não existe diferença em interpretar fazendo uso da captura de performance. É pura atuação”, disse o ator Andy Serkis.

Após um ano e três meses de trabalho na Nova Zelândia, com 200 dias de filmagens, Serkis se mostrou animado com a evolução da tecnologia entre O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, de 2001, e a nova trilogia, que começa em dezembro com O Hobbit – Uma Jornada Inesperada. Durante um papo descontraído no luxuoso hotel Mandarin, em Londres, ele disse que voltar a interpretar o mesquinho Gollum foi, mais que um desafio, uma redescoberta. “No novo filme, os músculos do rosto do personagem são reproduções exatas da minha expressão facial”, afirmou. “Aquela câmera que filma acoplada a um capacete fotografa as minhas expressões, traduzindo tudo em dados que formam o personagem digital. Hoje é tudo muito mais fiel. O Gollum está muito menos artificial.”

Além de revisitar seu maior sucesso, O Hobbit foi a oportunidade para Serkis experimentar a função de diretor. Durante as filmagens, o chefão do mundo de O Senhor dos Anéis, Peter Jackson, convidou o ator para supervisionar uma das unidades de filmagem. “Eu dirigi cenas usando óculos 3D e assistindo o trabalho dos atores em três dimensões a todo instante. Achei maravilhoso. Adicionando isso à qualidade das filmagens em 48 quadros por segundo, o filme ficou realmente espetacular. Você entra na história”, disse. O ator também evoluiu nos 12 anos que separam a primeira aventura de Frodo e Gandalf nos cinemas da trilogia O Hobbit.


Durante o período, Serkis deu vida a personagens emblemáticas, indo do assustador King Kong, em 2005, ao maquiavélico chimpanzé Caesar, de O Planeta dos Macacos – A origem, de 2011 , e ainda passando pelo etílico e hilário Capitão Haddock, de As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne, exibido neste ano.

Em cada uma das obras e em outros trabalhos em que participou como consultor, Serkis viu a evolução de uma tecnologia que venceu o preconceito inicial e passou a ser mais respeitada. “Hoje não falamos apenas de captura dos movimentos, mas da performance completa do ator. Não se captura somente a parte física, mas também as expressões do seu rosto, o áudio e tudo o que envolve a interpretação”, afirmou. “Há dez anos, o processo era feito em etapas. Em primeiro lugar, filmavam-se os movimentos do ator com uma câmera de 35 milimetros e, em seguida, o material era levado para ser editado em um computador por animadores.”

O resultado dessa evolução pode ser conferido em personagens que têm aparência e movimentação muito mais verossímeis e no maior respeito por parte do público, dos produtores e dos críticos em relação aos trabalhos que usam muitos efeitos especiais. “A captura de performance desbloqueou uma mudança na maneira como diretores e o público percebem uma obra. Hoje há o reconhecimento da classe artística de que essa técnica também é uma forma de atuação válida”, disse Serkis.

A aplicação da captura digital dos movimentos e expressões não ficou restrita aos cinemas. Na produtora The Imaginarium Studios, que criou em Londres, Andy Serkis presta consultoria para a criação de games, programas de TV e até peças de teatro. “Também temos uma academia onde atores podem treinar a técnica e recebemos estudantes de tecnologia das universidades para estágios.”

Para o ator, contudo, a técnica que transforma atores em seres virtuais está longe de seu ápice técnico. “Acredito que nós veremos muitas mudanças na maneira pela qual a performance é gravada. Acho que não dependeremos mais de câmeras acopladas a capacetes, como fazemos atualmente, ou dos marcadores ópticos, aqueles pontos grudados no rosto”, afirmou. “Isso tudo desaparecerá. O ator poderá estar vestido a caráter e realizar a captura de performance. Tudo será feito por meio da câmera”.

Com a tecnologia atual ou a do futuro, o certo é que os diretores dos grandes projetos vão procurar Serkis. Independente da técnica usada, todos sabem que seu talento é precioso.

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