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A revolução dos monstrinhos

Carol Oliveira Uma editora de arte capturou uma figura laranja de nome Charmander. Um repórter escolheu uma tartaruga azul chamada Squirtle. Outros preferiram se dirigir até o pátio do edifício para tentar a sorte em uma fonte de água. De um momento para outro, capturar pokémons se tornou o evento mais importante na redação de […]

POKÉMON GO: jogo para smartphones se tornou o mais baixado em toda a história / Kim Kyung-Hoon/ Reuters
DR

Da Redação

Publicado em 3 de agosto de 2016 às 21h41.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h28.

Carol Oliveira

Uma editora de arte capturou uma figura laranja de nome Charmander. Um repórter escolheu uma tartaruga azul chamada Squirtle. Outros preferiram se dirigir até o pátio do edifício para tentar a sorte em uma fonte de água. De um momento para outro, capturar pokémons se tornou o evento mais importante na redação de EXAME. É provável que cenas como essa tenham se repetido ao redor do país assim que o app Pokémon GO ficou disponível no Brasil na noite desta quarta-feira.

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O Pokémon GO é um jogo para smartphones que utiliza os recursos de realidade virtual e geolocalização. Na tela do aparelho, o usuário visualiza um mapa da região em que está, assim como os pokémons a serem capturados de acordo com o seu deslocamento. Ao combinar essa tecnologia com os personagens infantis, o Pokémon Go virou uma sensação: em apenas cinco dias após o lançamento nos Estados Unidos, em 6 de julho, o game já havia atingido 21 milhões de usuários ativos, o que fez dele o game mobile mais baixado da história americana, passando o então recordista Candy Crush. Até agora, segundo a consultoria App Annie, já foram realizados mais de 100 milhões de downloads.

O universo de Pokémon, aglutinação em inglês de “pequeno monstro”, começou a ser criado pela Nintendo em 1995. Desde então, os personagens já apareceram em mais de 50 jogos eletrônicos, 18 filmes, séries animadas para televisão — que fizeram bastante sucesso no Brasil entre o final dos anos 1990 e começo dos anos 2000 —, conjunto de cartas e jogos de tabuleiro.

O tamanho do negócio fez a Nintendo criar, em 1998, uma nova empresa, a Pokémon Company, para administrar todos os direitos autorais e a criação de novos produtos com os personagens. Mas apesar do sucesso com jogos, a Pokémon Company ainda não havia surfado a onda dos jogos para smartphones — um mercado com crescimento constante e que, segundo previsão da consultoria Newzoo, irá gerar em 2016 mais de 30 bilhões de dólares em lucros.

A ideia de um app que mistura realidade virtual, mapas interativos e os monstros surgiu em 2014 a partir de uma piada feita pelo Google durante as celebrações de primeiro de abril. Na época, um vídeo mostrava um novo recurso do Google Maps que possibilitava a caça de pokémon. O sucesso da piada foi tão grande — o vídeo tem hoje quase 20 milhões de visualizações no YouTube — que a Niantic, uma startup interna do Google voltada para intersecções entre smartphones e realidade, decidiu procurar a Pokémon Company para trabalhar em um produto. “Nós descobrimos que eles também estavam pensando em algo similar”, disse, em entrevista a revista New Yorker, o CEO da Niantic John Hanke.

Assim, as duas empresas se juntaram para a criação do app. A Niantic ficou com 70% do jogo, enquanto que a Pokémon Co. com o restante. Hoje, com o sucesso, elas dividem a receita gerada a partir da venda de itens virtuais que aceleram a captura de novos personagens, como as pokébolas e outros itens que concedem regalias dentro do jogo.

De acordo com a consultoria AppAnnie, somente os usuários de iPhone (metade da base total de jogadores) já gastam mais de 10 milhões de dólares diariamente na compra desses produtos digitais. Outro número positivo é que 20% dos jogares de Pokémon Go gastam dinheiro no aplicativo. O valor está muito acima da média de 3% de outros games mobile.

Para além disso, existem as parcerias com estabelecimentos comerciais, como foi feito com a filial japonesa do McDonald’s, que pagou para que 3.000 de seus restaurantes no Japão se tornassem pontos de captura de pokémon. A ideia, segundo Hanke, é que locais privados paguem para receber a dádiva de hospedar um pokémon em seus estabelecimentos — e, assim, atraírem centenas de potenciais consumidores ávidos por capturar os bichos.

No sonho do faturamento bilionário, uma outra arma do Pokémon Go reside justamente nos dados do usuário: quanto mais as pessoas jogam, mais informações o aplicativo armazena. No mundo atual, regido pelos grandes bancos de dados, informação é poder e dinheiro. Os dados podem ser usados no futuro para o oferecimento de publicidade direcionada a partir de gostos pessoais e locais de maior frequência.

Por ora, todo o sucesso do game ainda não rende nenhum centavo aos investidores, que forneceram mais de 20 milhões de dólares para que a Niantic desenvolvesse o game. Toda a receita está sendo reinvestida para a expansão do jogo para outros territórios, como o Brasil. Mas, no futuro, é possível que os milhões de jogadores caçando o pikachus, charmanders e squirtles pelo mundo se transformem, de fato, em um negócio muito maior que apenas parar o trânsito de Nova York ou atrapalhar uma noite de trabalho em um escritório em São Paulo.

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