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A curiosa fé do Copimismo, religião que prega Ctrl+C, Ctrl+V

Fundada na Suécia, Igreja Missionária do Copimismo foi buscar na Bíblia autorização para copiar e difundir arquivos pela internet

Isak Gerson, líder do Copimismo: Seus fiéis citam Coríntios, capítulo 1, versículo 11:1: “Me imitem, assim como eu imito Cristo” (Divulgação/isakgerson.se)

Isak Gerson, líder do Copimismo: Seus fiéis citam Coríntios, capítulo 1, versículo 11:1: “Me imitem, assim como eu imito Cristo” (Divulgação/isakgerson.se)

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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 06h47.

Tarde da noite. Um grupo de homens e mulheres com idade entre 20 e 60 anos se reúne em uma sala cujo endereço é protegido a sete chaves. Eles ligam seus computadores e começam a digitar. Das páginas da internet coletam dados de todo tipo, sigilosos ou não, e os espalham. Primeiro, compartilham arquivos uns com os outros. E, depois, com o mundo. Eles não fazem parte de uma sociedade secreta, nem são informantes do Wikileaks, mas religiosos da Igreja Missionária do Copimismo.

Fundada em 2006 na Suécia, terra onde surgiu o Partido Pirata, a seita do Copimismo tem como preceito copiar como forma de difundir conhecimento. O fundamento está na Bíblia, garantem os copimistas, que citam Coríntios, capítulo 1, versículo 11:1: “Me imitem, assim como eu imito Cristo”. Para os fiéis dessa pouco convencional igreja, compartilhar informação por meio de downloads de CDs, DVDs e até softwares é sagrado, mesmo que isso signifique infringir a legislação sobre direitos autorais. Embora vivam no limite da legalidade, os seguidores ainda não tiveram problemas com a justiça.

“Podemos ser presos pelo que fazemos. Por isso, tentamos preservar nossas identidades por muito tempo”, diz o estudante de filosofia sueco Isak Gerson, de apenas 20 anos de idade, que diz ter sido eleito líder espiritual da Igreja e um de seus fundadores. Apesar da pouca idade, Gerson jura que só copia por fé – e não para, como muitos da sua faixa etária, economizar uma grana deixando de comprar discos e filmes.

Foi aliás pelo desejo de tornar o Copimismo sério aos olhos dos “leigos” que Gerson apelou às autoridades suecas para que o reconhecessem como uma verdadeira religião. E, por mais absurdo que possa parecer, o governo da Suécia emitiu no fim do ano passado o documento de registro. “Agora que fomos reconhecidos, queremos ser ouvidos”, diz o líder, assumindo um discurso pretensamente sério. “Nós não acreditamos no sistema atual de direitos autorais, por isso queremos mudá-lo. Nós participamos da greve geral contra o Sopa e as propostas americanas contra a pirataria. Não vemos essa questão apenas sob o ponto de vista dos direitos autorais, mas sim como um ataque em grande escala à internet. Por isso, precisamos pará-los.”

Mas, como não é bobo nem nada, o papa do Copimismo dá a seus fiéis, entre outras recomendações, a de evitar registros de suas atividades religiosas. Sem prova, não há crime, já diria um sábio detetive livresco. Mas, para o advogado americano Steven Johnson, da firma Jones Day, Gerson e seus amigos podem ter achado uma brecha constitucional capaz de blindá-lo. “Nos Estados Unidos, a liberdade religiosa é garantida pela primeira emenda. E a maioria dos países mais democráticos não interfere na crença das pessoas, porque é contra a lei. Me parece que ele está muito bem informado sobre a situação legal em que se encontra.”

Liturgia – Como toda religião, essa segue uma liturgia própria. Mas não tem Bíblia, Torá ou Corão. Apenas uma constituição, em que se lê coisas como “Disseminar informações é ético” e "Para pertencer à comunidade copimista, não é preciso fazer parte de nenhuma organização. Basta respeitar e adorar a mais santa das santas: a informação". Ou ainda a recomendação para que os fiéis não guardem registros de suas atividades religiosas – uma forma, para o bem ou para o mal, de burlar as leis de direitos autorais.


Quando querem orar, os fiéis dessa pouco convencional igreja apelam para as teclas “Ctrl C” e “Ctrl V” do teclado mais próximo. Começa, então, uma grande troca de informações. “Compartilhamos qualquer coisa que nos der na telha. Pode ser um texto, uma música, um vídeo. Qualquer coisa que faça sentido para nós no momento. Primeiro, cada fiel copia do outro e, ao final de cada sessão, encorajamos uns aos outros a disseminar aquela informação fora da comunidade”, conta Gerson. A dica do papa do Copimismo para saber se você é um deles é curiosa – além de polêmica aos olhos da lei. “Acho que, se a pessoa sente uma conexão sagrada e mística ao ato de copiar, ela é copimista.”

Entre os fiéis, há uma colega de sala de Gerson na faculdade de Uppsala, Malin Ahnberg, de 20 anos, um dos filiados do Partido Pirata sueco que abraçaram com fervor a nova fé. Embora seja adepta da religião há pouco menos de um ano, Malin diz – sem o menor pudor e não sem orgulho – que todos seus trabalhos escolares sempre foram fruto do Copimismo. “Eu costumava copiar livros e informações para meus seminários”, conta a garota. “Algumas pessoas são mais iluminadas, como Isak. Ele tem feito isso há muito tempo”, explica.

Opinião parecida vem da bióloga americana Erica Stone, de 32, que só ouviu falar do Copimismo há dois meses, mas garante que partilha das ideias da religião desde o seu nascimento. “Todos os dias, células são copiadas no meu corpo. A cópia é a única razão para a raça humana existir. Essa condição nos humaniza. A cópia guarda os segredos do nosso passado, presente e futuro”, diz Stone.

Uma rede social – O preceito principal, copiar e multiplicar, está sendo seguido. Até agora, a igreja sueca reconheceu iniciativas semelhantes em mais de treze países e contabiliza cerca de 5.000 membros. Nesta semana, parece ter sido a vez de os brasileiros entrarem para o time. Uma comunidade recém-criada no Facebook batizada de Igreja Kopimista do Brasil conta com seis membros, mas tem verniz debochado. Na única imagem publicada até agora pelo perfil, há uma imagem católica com a legenda “Nossa Senhora dos Downloads Impossíveis”. O criador da página brasileira não respondeu ao contato do site de Veja.

O porta-voz do Partido Pirata brasileiro, Luiz Felipe Cruz, afirma que muitos membros do partido simpatizam com o Copimismo, mas não são praticantes. “Tudo que acontece ao nosso redor agrega conhecimento para desenvolver um pensamento crítico. O conhecimento é útil para o desenvolvimento da nossa sociedade”, afirma Cruz. Segundo ele, o partido já iniciou uma deliberação para formar a opinião do movimento sobre o Copimismo. E dá para algum pirata ser contra?

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