Mulher protege seu carro: Dicas ajudam a gastar menos no seguro sem correr riscos de cometer fraudes e evitando que o barato saia caro (Thinkstock/scyther5)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2016 às 17h39.
São Paulo - Em momentos como o atual, em que a frase “não está fácil para ninguém” reverbera, qualquer economia é muito bem-vinda. Para te ajudar na tarefa de contenção de gastos, EXAME.com listou algumas dicas para reduzir o custo do seguro do seu carro.
As recomendações incluem não só algumas brechas para reduzir o valor (sem infringir nenhuma regra), como orientações sobre quando economizar não é o melhor negócio porque o barato pode sair caro. Confira a seguir.
A economia no seguro começa pela escolha do carro. Para saber quais veículos têm os seguros mais baratos, é possível simular quanto custam os prêmios do seguro de cada modelo - valor pago pela aquisição do seguro - em uma ligação para o seu corretor ou nos sites de corretoras online.
Além de economizar no prêmio, a consulta pode evitar dores de cabeça futuras, já que o corretor pode indicar quais carros são menos visados por ladrões naquele momento e costumam gerar menos gastos com manutenção.
Algumas características do carro podem mostrar quais deles apresentam maior risco à seguradora, e portanto terão apólices mais caras.
Ilson Barcellos, sócio da Economize no Seguro, site que comprara preços de apólices do grupo Brasil Insurance, afirma que os carros utilitários, por exemplo, têm seguros mais caros porque ficam expostos ao risco por mais tempo. "Veículos a diesel também têm incidência de roubo maior, já que o seu motor é usado para diversas finalidades e tem maior procura no mercado negro”, afirma.
Alguns veículos podem ter alto número de roubos simplesmente porque têm um número grande de carros em circulação. Por isso, o ideal é olhar a relação entre os roubos e a frota e não apenas o número absoluto de roubos.
"O Volkswagen Gol e o Fiat Uno estão entre os veículos mais roubados, mas em relação à frota eles não aparecem no topo", diz Barcellos. "Já o Fiat Punto tem um percentual de roubo altíssimo em relação à frota. Suas peças não são facilmente encontradas nas concessionárias e têm custos altos, por isso é um carro muito buscado no mercado negro”, acrescenta.
Veículos que já saíram de linha também costumam ter seguros mais salgados porque ao deixarem de ser fabricados, suas peças originais ficam mais caras, elevando as buscas por itens roubados no mercado ilegal. “É o caso do Chevrolet Zafira”, diz o sócio da Economize no Seguro.
Neival Freitas, diretor executivo da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), também afirma que carros antigos costumam ter seguros caros pelo maior custo de reparo. Por norma da Superintendência de Seguros Privados (Susep), as seguradoras são obrigadas a usar peças novas no conserto e repor o valor do veículo integralmente sempre que o custo de reparo superar 75% do valor do carro.
“Na maioria dos acidentes com veículos antigos a seguradora não pode reparar, ela precisa indenizar integralmente”, diz Freitas.
Um bom corretor pode gerar economias não só no valor do prêmio, mas também de tempo em caso de sinistros (eventos em que o bem segurado sofre um acidente ou prejuízo e que representam a materialização do risco).
Mas, como encontrar um bom corretor? “Um bom profissional é reconhecido no dia do sinistro, se acontece um acidente no sábado à noite e ele tem um celular ligado 24 horas e dá todo o suporte necessário. Ao contratar seguros na agência do banco já pode ser mais difícil ter esse atendimento especializado”, afirma Adriano Gomes, especialista em seguros e professor do Curso de Administração e MBA da ESPM.
Além de se esforçar para buscar a apólice com melhor preço, um corretor mais atencioso pode lembrar o cliente de preencher pontos do questionário que gerem descontos e pode acelerar o processo de indenização, afinal um corretor mais experiente pode ter um canal direto com o departamento de sinistros das seguradoras.
Além do tradicional boca a boca, o diretor da FenSeg afirma que para chegar a um bom corretor é importante pesquisar o seu número de registro junto à Susep, que mostra se o corretor é um profissional habilitado. “O corretor de seguros não é como o corretor de imóveis que depois de fechar o negócio sai de cena. Ele acompanha o cliente durante a vigência do seguro e até depois, por exemplo, caso haja sinistro e o cliente entre com um processo contra a seguradora”, afirma.
A comparação de preços é muito comum nas compras em supermercados, de carros e outros bens, mas não tanto com os seguros. Mas, assim como em qualquer outra compra, sai na vantagem quem pesquisa. E se antes os corretores conseguiam comparar preços em apenas em quatro ou cinco empresas, hoje algumas corretoras online permitem simular preços em mais de 15 seguradoras, em poucos cliques, e de graça.
A pesquisa é importante porque os valores do seguro de um mesmo modelo podem variar muito de acordo com a empresa. “Uma seguradora pode ter um resultado fantástico de sinistros para o Gol e outra nem tanto. Então a primeira pode estar com um valor mais baixo para esse modelo e a segunda mais alto”, diz Ilson Barcellos.
O professor da ESPM também recomenda que, além do preço, o cliente analise qual seguradora contratar a partir da sua eficiência em caso de sinistro. Ele afirma que, enquanto algumas empresas iniciam o processo de indenização imediatamente, outras chegam quase a solicitar a certidão nascimento do cliente e são muito burocráticas.
“O acidente já gera um estresse violento, por isso ao comparar as empresas, a decisão não pode ser feita apenas porque a empresa 'A' ou 'B' é 10 reais mais barata, essa é uma conta burra”, diz Adriano Gomes.
Uma economia de 200 reais ou menos na contratação da apólice pode gerar prejuízos de milhares de reais lá na frente. É o que pode ocorrer com segurados que se preocupam muito com a cobertura contra roubo, mas não se atentam à cobertura de dano a terceiros.
"O seguro serve não só para proteger seu bem, como para arcar com prejuízos causados a terceiros", diz Adriano Gomes. Segundo ele, as coberturas a terceiros costumam ser de 50 mil reais, mas podem ser ampliadas a 500 mil reais com um custo adicional de apenas 200 reais.
O professor acrescenta que essa cobertura engloba não só eventuais danos a carros de terceiros, como indenizações por danos morais. “Em um atropelamento com vítima fatal, o juiz define a indenização observando o rendimento recente do falecido, multiplicado pelos anos de vida que ela teria pela frente. Essa indenização pode passar de 1 milhão de reais facilmente“, diz Gomes.
Mauro Pimenta, sócio da Vis Corretora, afirma que muitos clientes buscam economizar no seguro justamente contratando a cobertura a terceiros mais básica, de 50 mil reais. "Se o cliente bate em um Citroën C4 de 70 mil reais, a cobertura mínima paga só 50 mil reais. Era melhor pagar 200 reais a mais e ampliar a cobertura do que pagar esses 20 mil reais que o seguro não cobre”, diz.
Ele também alerta para economias no carro reserva e na quilometragem do guincho. Para contratar o carro reserva por 15 dias, o cliente pode pagar entre 100 a 300 reais a mais, o que pode sair mais barato do que o uso de um táxi durante o período reparo do carro, que costuma ser de pelo menos dez dias, segundo Pimenta.
Se o raio de quilometragem do guincho for de 100 quilômetros e o cliente costuma usar o carro para viajar por distâncias maiores, também vale consultar os custos para ampliar o raio de cobertura do guincho.
É preciso ficar atento também para não pecar pelo excesso e pagar mais do que o necessário. As seguradoras têm vendido seguros cada vez mais completos e com mais mimos, como conserto de eletrodomésticos, serviços de eletricista e encanador e descontos em estacionamentos e despachante. Mas é importante avaliar se esses serviços encarecem o seguro e se de fato você usará tudo isso.
Se você não dirige em estradas e tem outros carros na garagem, pagar mais pela quilometragem de guincho ou pelo carro reserva não faz sentido. Da mesma forma, se o seu cônjuge tem um seguro que cobre reparos na residência também não é preciso pagar para ter esse mimo na sua apólice também.
Preencher formulários não é nada divertido, mas tratá-los com paciência e carinho pode render bons descontos. Os dados neles contidos são fundamentais para mostrar o perfil de risco do segurado e formar o preço do seguro.
De acordo com Mauro Pimenta, uma questão que costuma gerar descontos, mas que os clientes respondem de maneira negligente é a quilometragem média de rodagem. “As pessoas não têm ideia da quilometragem e chutam. Quanto maior a quilometragem rodada, maior o risco ao qual o carro fica exposto e mais caro fica o seguro. O ideal é colocar a quilometragem mais próxima da sua realidade”, diz.
Informar com precisão quem fará uso do veículo também faz toda a diferença no preço. De acordo com Neival Freitas, da FenSeg, se o carro é compartilhado pela mãe e pelo filho de 18 anos, mas ela usará o carro na maior parte do tempo, informar isso no questionário pode render descontos, mas é importante ser realista. "Se ela não for a principal condutora, mas sim o filho e ele bater o carro a seguradora pode se negar a indenizar o cliente”, diz Freitas.
Se você raramente dá aquela ligadinha para o corretor para acionar a seguradora, os benefícios valem não só para eles, mas para você também. A variação no preço do seguro entre clientes que registraram sinistros e aqueles que não registraram há mais de dois anos é de 18,74% em média, segundo levantamento da corretora online Bidu.com.br.
Isso ocorre por causa de uma política de desconto usada pelas seguradoras, a chamada classe de bônus, que oferece descontos aos segurados que não registram sinistros durante algum tempo. No primeiro ano do seguro, por exemplo, o cliente é classificado na classe zero; se após um ano ele não registrar sinistros e renovar sua apólice, ele passa à classe um, no terceiro ano passa à classe dois e assim por diante.
Se o cliente chegar à classe de bônus 10, a maior possível, ele chega a pagar, em média, um valor 49,47% menor do que pagaria se estivesse na classe 0, de acordo com o levantamento da Bidu.
Mesmo trocando de seguradora, ou de carro, a contagem da classe de bônus não se perde. Caso a nova seguradora não inclua o segurado na classe à qual pertencia automaticamente, o cliente pode apresentar sua antiga apólice para comprovar sua classe e nela permanecer no novo contrato.
A franquia é o valor que o segurado desembolsa para cobrir parte do prejuízo quando ocorre algum tipo de dano parcial ao seu veículo - excluindo danos a terceiros - e a seguradora é acionada. Quanto maior o valor da franquia, menor o valor do prêmio do seguro, e vice-versa.
Existem três principais tipos de franquia: ampliada, básica, reduzida e isenta. Na ampliada, o valor do seguro é menor, mas na ocorrência de um sinistro o valor pago pelo segurado pelo conserto do carro é maior. Já na franquia básica, o valor do seguro aumenta, mas a franquia fica mais barata. Na franquia reduzida, como o nome sugere, o valor pago pela franquia é bem mais baixo, mas o valor final do seguro é mais alto. E a franquia isenta elimina a necessidade de pagamentos por parte do segurado no sinistro, mas o custo inicial do seguro é maior.
Uma simulação da Bidu.com.br mostra como o tipo de franquia contratada influencia no valor pago pelo seguro. Foi simulado o valor do seguro de um Fiat Palio 2014 em três seguradoras, para um homem de 35 anos, que tem garagem no trabalho e em casa e mora no Tatuapé, bairro da Zona Leste de São Paulo. Veja a seguir os preços do seguro e da franquia em cada caso:
Tipo de franquia | Valor do seguro | Valor da franquia |
---|---|---|
Básica | R$ 4.324,65 | R$ 2.206,65 |
Ampliada | 4.365,53 | R$ 4.482,80 |
Reduzida | R$ 4.994,29 | R$ 1.103,32 |
Isenta | R$ 6.452,02 | R$ 0,00 |
Fonte: Bidu.com.br
Se você costuma estacionar o carro na rua, dirige bastante em estrada e gosta de alta velocidade, a franquia reduzida pode ser mais indicada. O valor de seguro é mais alto, mas se houver algum problema, a franquia terá um valor mais baixo. Já se você for um motorista muito prudente e nunca foi roubado, a franquia ampliada pode ser a melhor opção porque pode ser pouco provável que você precise acionar a seguradora. O corretor pode ajudar a definir qual franquia contratar, de acordo com o seu perfil.
Assim como preencher o questionário da maneira correta pode render descontos, atualizar informações ao renovar também. “Às vezes o segurado pode ter um desconto porque não tinha garagem no trabalho, foi promovido e agora tem, ou a empresa mudou para uma região menos perigosa”, diz Ilson Barcellos.
Ele alerta, no entanto, que também é preciso informar ao corretor mudanças que possam encarecer o seguro para evitar que a seguradora negue a indenização ao cliente em caso de sinistro. “Se a pessoa só fazia uso do carro para lazer e se tornou representante comercial, ela alterou todo o seu perfil de risco e isso deve ser informado para não gerar problemas no sinistro”, afirma Ilson.
Usar um endereço de residência diferente do seu; omitir a informação de que o carro é usado por mais de uma pessoa; ou dizer que o carro é estacionado em garagem quando fica na rua são fraudes clássicas. E da mesma forma que os segurados praticam essas fraudes desde os tempos de suas avós, as seguradoras também estão habituadas a flagrar essas “mentirinhas” há um bom tempo.
Em alguns casos a declaração pode até ter um fundo de verdade, mas isso não basta. Os dados devem condizer totalmente com a realidade. "Se o cliente tem uma casa no campo e coloca o endereço da chácara como sua principal residência, caso a seguradora comprove que ele reside na capital isso pode ensejar uma negativa de indenização", afirma o diretor da FenSeg.
Conforme explica Adriano Gomes, a contratação de um seguro é baseada no princípio da boa-fé, segundo o qual as empresas confiam que o segurado está agindo com honestidade ao passar as informações à seguradora. "A seguradora só precifica o que o cliente menciona, mas se ela verifica algo que ele omitiu, é sinal de que ele agiu por má-fé e a indenização pode ser negada", diz.